segunda-feira, 11 de março de 2013
Os times que crescem como rabo de cavalo: para baixo!
Claro que iria falar sobre o meu Vasco, Instituição quase extinta mas, como vou me atrelar a exemplos, farei a crônica em dois pedaços, começando a de hoje me referindo aos clubes que se apequenaram em todo o país, seguindo apenas minhas memórias. Não vou ao Google, logo isto não é uma pesquisa com outro método além do meu ódio e frustração. Minha viagem começa, por óbvio, em Belém do Pará, com a gloriosa Tuna Luso Brasileira. Começou Tuna Luso Caixeiral, depois Tuna Luso Comercial e era, como muitos outros congêneres, um clube de colônia, a enorme colônia portuguesa de Belém. De glória do esporte paraense, sempre disputando com Remo e Paysandu a hegemonia no futebol, não se adaptou à realidade do profissionalismo e virou o fio na década de oitenta, ainda tendo ganho dois títulos nacionais da Taça de Prata. Seu imenso patrimônio no Bairro do Sousa está se deteriorando, sua torcida minguou e o clube hoje tem participação coadjuvante e nem mais consegue ser a terceira, quarta ou quinta força no futebol paraense. No vizinho Maranhão, o clube das quatro cores, meu Maranhão Atlético Clube, dos clássicos inesquecíveis contra o Moto (Maremoto) e Sampaio Corrêa (Samará), também está se acabando mesmo sendo o clube da preferência da família Sarney e grande parte da elite maranhense. Um outro exemplo, agora dos clubes de empresas e entidades, o Ferroviário Esporte Clube, minha paixão cearense, está desaparecendo. O velho Tubarão da Barra do Ceará consegue ainda revelar alguns talentos que são logos cooptados pelo Ceará ou pelo Fortaleza. Subindo a Recife lembro do time que me encantava nos anos 50: o América, com seu belo uniforme verde. Presenciei excursões do América a Belém com passagens exitosas em gramados paraenses.O América foi maior que o Náutico, por longos anos, até o Timbu Coroado abiscoitar o Hexa dos anos sessenta e transformar os Aflitos em força pernambucana. Mas é muito doído o exemplo do Galícia, na Bahia, clube da imensa colônia espanhola em Salvador. Quando eu era criança Galícia, Botafogo e Ipiranga dividiam com Bahia e Vitória a preferência dos soteropolitanos enquanto o Fluminense de Feira de Santana reinava solto no Sertão. De repente, ou seria devagar, eles desapareceram e viraram atração de um "Baú do Esporte" muito eventual. Em Minas, o Coelho de minha predileção, o América Mineiro com seu belíssimo uniforme Verde e Preto, clube que revelou Tostão para o mundo e disputava com o Atlético, até os anos 60, a absoluta hegemonia em Minas já que o Cruzeiro só viria crescer após a era Raul, Piazza, Dirceu Lopes, Natal, Tostão e Hilton Oliveira. Também um clube de colônia, a italiana, o Cruzeiro já ameaça a superioridade do Galo se já não a tiver ultrapassado. Isso sem falar no Valeriodoce, clube da Vale do Rio Doce, sempre finalizando campeonatos entre os quatro primeiros e o Siderúrgica de Ipatinga, campeão mineiro de 1964, sob a batuta do velho ogro Yustrich. Desses nem mais se fala. Passo quase ao largo do Espírito Santo pois Desportiva e Rio Branco sumiram do mapa arrastando Santo Antônio (que lançou Fontana) e Guarapari este campeão capixaba e também sumido. Em São Paulo a Associação Atlética Portuguesa de Desportos já foi glória do esporte nacional. Antes de Pelé, o Santos nem chegava perto das glorias da Briosa do Canindé e seus craques eternos como Ipojucã, Brandãozinho, Djalma Santos, Pinga, Enéas, Marinho Peres, Dener, Felix, Badeco, Cabinho, Basílio, Zé Maria, o eterno e ainda atuante Zé Roberto, Klemer e tantos outros. Viu sua imensa torcida minguar e, num estranho processo de osmose, está arrastando sua xará da Baixada, a Portuguesa Santista do glorioso estádio Ulrico Mursa, a que fazia frente ao Santos de Pelé, protagonizando inesquecíveis Clássicos da Baixada, no Mursa ou em Vila Belmiro. Clube de enorme tradição de bairro, na Moóca, o Juventus só é, praticamente, guardado na memória, enquanto o gigantesco Palmeiras, o velho Palestra Itália, também desce no tobogã de seu desespero, alimentando uma violência estúpida de seus belicosos e "manchados" torcedores. No Rio, os clubes de Bairro, notadamente de classe média alta e da Zona Sul como o Flamengo, o Botafogo e o Fluminense (das Laranjeiras) viram surgir a força da Zona Norte no Vasco da Gama, América (da Tijuca/Andaraí), São Cristóvão e Bangu. Todos eram forças enormes. Depois os três grandes da Zona Sul e o Gigante da Colina de São Januário, viraram unanimidade nacional. Do Vasco me ocuparei amanhã, mas o América, o Bangu e o São Cristóvão, todos detentores de DEZ títulos de campeão carioca que, naquele tempo, significava praticamente um título nacional (S. Cristóvão 1926, Bangu 1933 e 1966 e América 1913, 16, 1922, 28, 1931, 36 e 1960). Todos se apequenaram, principalmente o América que já deteve, entre os anos 10 e 20, o título mais tarde abiscoitado pelo Flamengo, de "mais querido". Quando cheguei a Brasília em 1964, com seu futebol amador mantido por times de operários das grandes construtoras e apêndices da NOVACAP, ia ver o campeonato Goiano, no Estádio Olímpico Pedro Ludovico ali na Av. Paranaíba (muito tempo antes do Serra Dourada). Nesse tempo os grandes eram Vila Nova e Atlético com o Goiás já crescendo e tendo ultrapassado o Goiânia. Goiás é clube de relevância no contexto nacional e mundial, Atlético ameça uma reação mas Vila está se desmanchando enquanto do meu Goiânia nem mais ouço falar. No Paraná, o clube de classe operária, o Ferroviário sempre foi uma força viva, juntou-se a um gigante, o Britânia e a outro clube de menor expressão, o Palestra, criando o Colorado que ganhou um título Paranaense (reforçando os outros dez títulos ganhos pelos clubes que lhe deram existência, nos anos 80). Posteriormente, o Colorado fundiu-se com o Pinheiros, em 1990, formando o atual Paraná Clube que chegou a ser, entre 1993 e 1997, penta-campeão daquele Estado, hoje disputando as séries B do Brasileiro e do Estadual. Mas é no Rio Grande do Sul onde vejo mais exemplos de grandes clubes que se desfizeram ao longo do tempo. Em 1954 seria campeão INVICTO, desbancando 44 anos seguidos de vitórias da dupla Grenal, o Grêmio Esportivo Renner, mantido pelas Lojas do mesmo nome, timaço onde despontaram o goleiro Waldir de Moraes( titular da Academia do Palmeiras nos anos 60), o zagueiro Paulistinha, comprado pelo Botafogo para brilhar no elenco de Garrincha e Didi, e Ênio Andrade, o segundo técnico a ganhar três títulos do Campeonato Nacional (1979, com o Inter, 1981, com o Grêmio e 1985, pelo Coritiba), depois de Rubens Minelli com os títulos de 1975 e 76 pelo Inter e 1977 pelo São Paulo. No meu time de botões, na sala de nossa casa na Vila MacDowell, apesar de veneração inicial pelo Flu de Castilhos, Píndaro e Pinheiro de 1951 e depois de Barbosa, Augusto e Rafanelli. Eli, Danilo e Jorge. Tesourinha, Maneca, Ipojucã, Ademir e Chico na última vitória do Expresso da Vitória em 1952, eu costumava "entrar em campo" travestido de Renner e suas glórias como Orlando, Bonzo, Ênio Rodrigues, Léo, Pedrinho, Breno Mello, Juarez e Joelcy. Era um arraso esse time mas acabou. Pouco tempo depois, o Cruzeiro de Porto Alegre, campeão gaúcho em 1929 e o primeiro clube gaúcho a excursionar à Europa, em 1953, vendia em 1969 seu Estádio da Montanha para a instalação, pasmem, do Cemitério Ecumênico João XXIII. Sim, o mesmo cemitério que engoliu e está engolindo a grandeza de Vasco e Palmeiras. Amanhã, se Deus quiser, trato do meu Vasco, uma dor de parto que se inverte a cada vice campeonato!
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