sexta-feira, 8 de março de 2013
Cantinho da Poesia
Fugindo do lugar comum dos poemas regados à dor de corno e avassaladoras paixões não correspondidas ou desfeitas, vou postar mais três exemplares de minha produção, tudo feito há muito tempo!
DRUILTON (ao Clube da Esquina)
Quando a esteira do passado
Passa quatro
Passa dez trens
De estanho e ferro
Em Drumond me encerro
E milito nos montes
Ainda que me encontres
No presente,
Eu me ausento de teu futuro.
Oh! Minas de Milton,
Pedregosa e altaneira
Longa de horizontes,
Viúva do sal
Alterosa e conspirante
Escócia do meu país.
Se te fazem forte, feliz
Na terra e no lodo,
Essa ausência do iodo
Essa distância do mar
Te dizem fraca e possuída
Estrada de um povo magro
De quem roubaram o trago
Da pinga e do sono
E o direito de sonhar.
(Belo Horizonte - MG, 1979)
CAROLINA
Dia desses
Procuro em minha volta
Um motivo.
Rodo como piorra
Subo ao terceiro céu
Desço aos infernos.
Danço um bailado diáfano
Regado a purpurina
Pra dar brilho e fantasia
À magia do momento.
Estanco no ato.
Minha filha Carolina
Me chama num canto
E eu não mais
Preciso pensar nisso.
(Brasília - DF, 1981)
O QUE RESTOU DO NOSSO AMOR.
Cuidem para que não feneçam as gaivotas.
Há que limpar dos ares
O odor dos estercos imorridos.
Cuidem para que os mendigos
Se mantenham intocados
Ao longo das ruas
Exibindo suas imundícies.
Há que preservar as idiotices
Dos governos e a
Servidão dos governados.
Cuidem para que se apague
A lembrança do verde
Na fila dos desesperados
Que herdarão a Terra.
Há que vender a imagem da morte
No seio da última família.
Cuidem para que a Besta
Reine sobre as multidões
Transtornadas do Apocalipse.
Há que rever o eclipse
Da irmã-lua
Escondendo a vergonha
De estar nua
Sob um sol gélido e impotente.
Cuidem para multiplicar museus
Que preservem um inocente
Cravo-de-defunto
Ou um copo-de-leite
Para o máximo deleite
Dos sonhos esquecidos.
Há que ser escravo
Das liberdades perdidas
Nos bordéis sem brilho.
Cuidem para que as locomotivas
Permaneçam no trilho
Esmagando um aço
Que não reclama esse peso.
Há que manter um indefeso
Em meio aos assassinos.
Cuidem pela manutenção
Dos partos naturais
E pela expulsão dos imortais
De todas as Academias.
Há que preservar as coxias
Que comandam o espetáculo da vida
Mesmo em vertiginosa descida
Nas pesquisas de opinião.
Cuidem para que a contra-mão
Se torne o correto.
Há que amar o inseto
Pois dele será o universo
E amarrar as sepulturas
Com as mais antigas ditaduras
E seus porões de medo.
Cuidem, por final, ser um
Arremedo de si mesmo
A vomitar sobre o próprio colo
O desconsolo de haver nascido.
(São Luís – MA, 1987)
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