terça-feira, 5 de março de 2013
A disputa pela disputa!
Espírito de emulação significa incentivar um sentimento que incute a tentar igualar-se a outrem ou superá-lo em mérito. As Olimpíadas amadoras eram nada mais além disso. Sempre me pareceu meio estúpido por em liça medieval concorrentes pelo desempenho em alguma arte ou produto da estética. O "famoso" Oscar nada mais é que tentar criar um pensamento único ou da maioria sobre o desempenho de algum criador ou artista, obviamente sobre a performance dos demais não premiados. Pelos discursos insanos percebe-se que o ego dos vitoriosos é içado aos picos do Himalaia (pouco mais de 8.000 metros, no Everest) e o dos "derrotados" empurrados para as Fossas Marianas, no Pacífico e perto das Filipinas, a assombrosos 1.034 metros de profundidade. Sim, os vencidos afundam bem mais fundo do que se alçam os vencedores. É um verdadeiro estrago por, em muitas vezes, alguns minutos de extrema fama. O quê pensar quando os indicados são CRIANÇAS? Inimaginável o que pode acontecer na mente de um ser de sete ou nove anos de idade, disputando com mais três ou quatro "adversários", verdadeiros inimigos a serem cruelmente batidos. Em Hollywood a história nos passa um cenário meio nebuloso para os astros infantis. Jackie Coogan, o genial menino do antológico The Kid (O Garoto, 1921), de Charles Chaplin, teve apagada travessia adulta no meio do Cinema, terminando por personificar o Uncle Fester no seriado de televisão, A Família Adamms. Shirley Temple, nascida em 1928, foi a maior estrela mirim de todos os tempos, durante a década de 30, tendo inclusive protagonizado um fenomenal duo de canto e dança com Fred Astaire. Adorada na América e em todo o mundo, dela se aguardava uma carreira adulta esfuziante. Não conseguiu, como todos, passar de criança de cachos dourados a atriz adulta, aposentando-se em 1950, aos 22 anos, para se dedicar, depois, à carreira de Congressista (Republicana) da qual foi apeada após um câncer de mama que a levou para o ostracismo total. Brandon de Wilde, nascido em 1942, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por sua maravilhosa interpretação do garotinho louro do considerado maior Western de todos os tempos (Os Brutos Também Amam, Shane no original, de 1953, de George Stevens). Contracenou com monstros sagrados como Alan Ladd, Van Heflin, Jean Arthur e Jack Palance, aos dez anos de idade. Para não ser a exceção da regra não se firmou no Cinema, em sua fase adulta, parou no seriado de TV Jamie até morrer, aos 30 anos, de acidente de carro morando em Denver, Colorado, muito afastado da fama e do glamour. Macaulay Culkin, astro do Esqueceram de Mim (do um até o 220), nascido em 1980, multimiliardário, enganado pelo pai e pela mãe, preso aos 24 anos em Oklahoma City por posse de 17.3g de maconha e de duas substâncias controladas, chamadas Alprazolam e Clonazepam, alcoólatra desde os 16, literalmente sumiu do mapa. Claro que estou tentando criar, mesmo com alguns exemplos, apesar de profundamente emblemáticos, uma série estatística que, no caso, assume foros de constatação. Deu 100%. Não conheço uma escassa exceção. Mas, como sou um prolixo incontrolável, falei isso tudo só pra chegar no fato gerador de meu artigo: domingo, no Faustão, foram distribuídos os prêmios de "Maior Tudo" da TV brasileira, pois eles só vêm o próprio umbigo. Uma categoria me chamou muito a atenção: Melhor Artista Mirim (ator ou atriz). Os indicados eram aquela menina que fez o papel da Rita (Nina) ainda morando no lixão; a gordinha que também foi excelente como filha do Tufão e o menininho que faz o filho daquela múmia paralítica que exercita o papel de Morena na atual novela das nove. A câmara cortou para os três enquanto aguardavam o anúncio e estavam todos lívidos, com evidente ataque de sudorese aguda, trêmulos como decidissem suas vidas. Anunciada a vitória da "Ritinha" a menina veio em choro convulsivo, soluçando alto, absolutamente descontrolada, como se houvesse ganho o Prêmio Nobel da Vida. Faustão, com sua proverbial genialidade, cumulou a menina de incentivos sentimentalistas de almanaque e apelos baratos, justamente para que ela arrebentasse de tanto chorar e a claque explodisse nos aplausos combinados. Os outros dois indicados estavam parvos, paralisados como num raio aplicado por Flash Gordon, sentindo o amargo gosto da derrota definitiva. Fiquei imaginando quantas avenidas estavam sendo abertas, para sempre e indeléveis, na mente e no coração daquelas crianças, encaminhadas na vida para vencer, jamais para serem felizes. O mal está feito e, provavelmente, vencedora e derrotados apenas acrescentarão exemplos na alquimia dos artistas mirins que viram nada ao crescerem. Que o diga a Bruna Marquezine, genial intérprete da Salete que chorava oceanos aos sete aninhos em Mulheres Apaixonadas e hoje já está completamente envolvida pelo craque: dorme e acorda com o Neymar!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário