Ah, de volta para o
futuro. Nada mais difícil, obviamente, do que fazer previsões para o futuro.
Não que inexistam profetas de verdade e adivinhos de toda a ordem. O problema é
o percentual de acertos. Na Israel dos templos bíblicos havia muitos profetas;
contudo, para que o povo tivesse a certeza de que expressavam a vontade de
Jeová, teriam que acertar TODAS as previsões, afinal, Deus não erra! Se
houvesse um único e escasso vacilo, o dito cujo era apedrejado até a morte no
ato da constatação da falha. A ciência estatística é muito utilizada para
tentar se perscrutar o amanhã mas é um método muito falho e logo explico
porque. Me divirto muito quando colunistas esportivos e repórteres de apoio
começam a descerrar um palco de dados pretéritos: o time tal não perde neste
campo há 30 anos (claro, cacete, ele só jogou lá uma vez). Tal esquadrão é
favorito! Por quê? Tem mantido uma invencibilidade de tantos jogos. Aí, na hora
da verdade, toma uma porrada de cinco! Ora, o passado nada significa como
hipótese para desenhar o futuro. Teve tempo que isso era quase plausível: na
chamada era da continuidade onde os passos que traziam a humanidade de ontem
para hoje seriam os mesmos que a levariam ao amanhã. Isso possibilitava, com
uma certa tranquilidade e folga, a criação de paradigmas muito fortes e
arraigados. Um paradigma pode ser descrito como um padrão, modelo ou forma.
Pode ser entendido, também, como uma estrutura aceita como forma usual para
conduta das entidades (indivíduos e organizações) na solução de seus problemas
e dificuldades. É, portanto, um instrumento fundamental no auxílio à solução
desses entraves, por constituir uma ferramenta de decodificação do problema
para um ambiente mais reconhecível. Funcionando como uma lente absolutamente
transparente que nos permite VER o mundo de uma forma personalíssima,
inquestionável e clara, nos acostumamos e adaptamos aos paradigmas de tal
maneira que, paradoxalmente, eles geram em nós sensações de INVISIBILIDADE
(quanto às realidades não detectadas pela “lente”) e de impossibilidade de entender outras realidades que nos cercam,
considerando o nosso nível de adaptabilidade às “verdades” paradigmáticas. Se
você usa óculos desde criança, certamente não perceberá que está com eles na
cara quando entrar no banho algumas vezes. Claro, os outros percebem seus
óculos melhor que você próprio. Eles são o paradigma pelo qual você enxerga e
interpreta o mundo. Martin Heidegger, filósofo alemão, afirma que o mais
próximo é o mais difícil, ou seja, quanto mais você se envolve pelo paradigma,
mais difícil se torna percebê-lo e, pior ainda, superá-lo. A partir da primeira
guerra mundial e, notadamente após o fim da segunda, o mundo passou por
transformações tão fantásticas, notadamente em ciência e tecnologia, que a
humanidade começou a viver uma era de descontinuidade onde, diferente do que
foi afirmado antes, as estatísticas passaram a pouco significar como base para
decisões sobre tudo. As quebras constantes de paradigmas universais fazem com
que os passos dados anteriormente nada signifiquem para os caminhos futuros.
Ora, acostumada à tranquilidade da vida de antes dessa explosão de novas
verdades, parece que só pessoas nascidas sob paradigmas mais recentes conseguem
perceber e reagir, a tempo, à descontinuidade das coisas. Exemplos antológicos
e emblemáticos de como os paradigmas agem sobre as pessoas encontram-se na
história e com facilidade, notadamente sobre a quebra de padrões há muito cristalizados.
Nenhuma fábrica de diligências do velho oeste se transformou em fábrica de
carros. Não há notícia sobre fabricantes de ônibus terem feito um ônibus
espacial e assim por diante. O filme sonoro, o uso de aeronaves em guerras, a
propagação da imagem pela televisão foram alguns fatos históricos que passaram
despercebidos pelas mentes mais brilhantes de antanho. O próprio desenvolvimento
da física quântica desnorteou verdades científicas adrede fixadas. Nada existe na realidade! O que há é só percepção
e depende do ângulo de análise do observador. Isto foi comprovado nos
experimentos da Caixa de Eisemberg e na discussão sobre o caráter da luz:
partícula ou onda (discussão que pôs em frentes diferentes Isaac Newton e o
universo da física Euclidiana e a Teoria da Relatividade de Einstein)? Colocaram,
na frente de uma fonte emissora de luz, dois tipos de receptores: um para
partículas e outro para ondas. O resultado foi que ambas as hipóteses quedaram
comprovadas: tanto os receptores de partículas como o de ondas, foram
sensibilizados. Isto é, a realidade das coisas depende de quem observa. O som
existe? Claro que não! Ele só existirá se houver, no raio correto de percepção,
estruturas como, por exemplo, os ouvidos humanos para registrarem-no. Sem ouvidos
não há som! Sem percepção, não existe a realidade! Porra, imagina o que isso
tem feito na cabeça dos seres humanos! Em suma, mal se esgota um paradigma e
logo um outro já está se acabando. Como ser professor, administrador, analista
ou qualquer profissional que lide com o ambiente (ou seja, todas as profissões)
em uma realidade cuja única coisa que parece existir é a mudança. Não há
portos. É uma viagem sem fim, sem chegada. Um Ulisses que nunca atingirá Ítaca;
um caminhar eterno no fio de uma navalha. Nesse diapasão, para imaginar como
será o futuro, coisa muito simples para a Miriam Leitão e todos os economistas,
basta imaginar que tudo o que se fará real ou perceptível amanhã, é uma coisa
que você não pode imaginar aos padrões de hoje. Aí você não precisa só ser um profeta
de fatos mas um antecipador de paradigmas e isso me soa quase impossível. Afinal,
veja só o que falou G. Duell, Diretor do Instituto Americano de Patentes, em 1899:
Tudo o que pode ser inventado já foi inventado! Ou, ainda melhor, um comentário
feito na prestigiada revista americana de showbiz Veriety, em março de 1956:
Até julho, sai de moda! Referia-se ao rock’n roll. Quanto acerto, hem? Simples
assim!
sexta-feira, 27 de julho de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
Bom dia para médicos e monstros. Ops! e mestres
Ah! Que saudade da nostalgia. Sinto que meus escritos são
profundamente nostálgicos e uma ode ao saudosismo. Parece que não me encaixo no
mundo contemporâneo. Mas o quê fazer se não consigo me entender bem com certas
nuanças dos tempos de hoje. Uma antiga e querida amiga me mandou um PPS sobre a
saudade de nossos médicos de outrora. Foi o bastante para me estimular os
neurônios à mesma situação. Sou professor universitário há 16 anos, cursei
faculdade entre 1966 e 1970 (fora o mestrado terminado em 2001) e comecei a
estudar (tirando a alfabetização com a Profa. Bebê) na Escolinha da Professora
Eugênia, na Gentil Bitencourt, em 1954,
com sete anos incompletos. Incrível como me lembro de sua irmã, Profa. Helga,
que liderava as classes de primeiro e segundo anos primários. Por certo que a
severidade era comum e alguns cascudos eu tomei por traquinagens em sala. Mas
como era doce o olhar da minha professora. Naquele tempo ninguém chamava
mestras de tias pois a designação “professor” trazia em seu bojo qualidades e
valores essenciais à compreensão da vida. Naquelas eras pegava muito bem ser
professor. E ainda havia excelentes preceptores (professores que moravam em
casas de aluno e vice-versa, notadamente os vindos do interior). Passasse algum
na frente de minha casa e era imediatamente cumprimentado por meus pais e avós
com um tom respeitoso e de muita admiração. Nesse mesmo diapasão transcorreu a
maestria de meus professores no restante dos anos primários nos Grupos
Escolares Municipais. Lígia, Maria José; todos ocupam galardões profundos em
meu coração. No ginásio e científico a diferença foi pouca pois nos Colégios
Maristas os Irmãos (de batina, babador, colarinho e cordão à cintura comprovando
os votos de castidade, humildade, pobreza e serviço à Maria e à Igreja) é que
ensinavam. Aliás, nesses lugares quase santos, tudo se educava, inclusive a
formação cultural, moral, física e religiosa dos jovens. Em suma, não só
transmitiam o conhecimento mas formavam caráteres. Quando pus meus filhos para
estudar no Colégio Marista de São Luís, poucos Irmãos se mantinham na ativa;
quase todos os professores eram contratados e nem mais a visita do “caçador de
talentos” para levar candidatos para o Seminário Marista de Apipucos – PE,
havia. Mesmo na universidade meus mestres eram vetustos mas não ocos de
vaidade; gostavam das pompas e circunstâncias da Cátedra sem humilhar seus
discípulos. A velocidade do conhecimento não era transmitida nos anos-luz da
internet e nem computadores havia. Mas, além disso, eles também transmitiam O
SABER, coisa que não se faz mais. Raramente visitava a sala de um professor,
fora do horário de aula. Presava a ética que não recomendava conversas a portas
fechadas e, jamais, nunca eu me sentiria à vontade para cutucar a barriga de um
mestre. Outra profissão que me encantava era a dos homens de branco. Como eles
tinham tempo para conceder ao paciente nas consultas. A famosa anamnese médica,
aquele diálogo longo e privado com o paciente foi substituída pelo excesso de
especializações (aquelas da piada onde o cara é especialista em testículo
direito; se o problema for no esquerdo ele nem te recebe) e pelos meios
modernos de diagnose. Se uma epidemia de Gripe A se espalha e você tem acessos
de espirro e tosses, notadamente se você compuser o grupo de risco, claro que
procura um médico. Ele quase nunca lhe olha nos olhos. Já vai disparando três
ou quatro requisições de exames escalafobéticos onde você é escaneado dos pés à
cabeça, só para ver se tem uma gripe. As salas de espera nos consultórios são
abarrotadas de gente e seu atendimento é por ordem de chegada. Você adianta
duas horas mas os médicos, via de regra, atrasam três e acaba não compensando.
Se você compra um Plano de Doença aí lhe marcam um cateterismo pré-enfarte para
daqui a três meses. Aí você morre antes. Se vai pelo SUS até que consegue umas
brechinhas e ele, pelo menos, responde pelo alto custo dos tratamentos mais caros.
Mas se for emergência ou urgência (aliás, alguém já lhe explicou a diferença?
Para mim tentaram mas não entendi!) esteja certo que vai para o corredor se não
tiver a sorte de morrer primeiro. Mesmo que você tenha grana e procure um raro
generalista, os Clínicos Gerais em extinção, ele não terá a menor paciência em
espichar o diálogo, pelo menos para lhe dar um prognóstico do que pode lhe
acontecer doravante. Jesus! Eu sou do tempo de um Vade Mecum denominado “O Médico do Lar”, livrão muito grosso e de
capa dura onde, em simples ordem alfabética, lia-se sobre as doenças conhecidas
e os tratamentos disponíveis. Se os sintomas batiam e era coisa nova, mamãe
levava no Hospital da Aeronáutica de Belém para sermos examinados e tratados
pelo Dr. Olavo Leôncio, Cirurgião Geral mas que entendia de unha encravada a
câncer. Se a coisa parecia mais simples, toda a tarde passava na porta de casa
o Dr. Osmar Sampaio, médico e major da Polícia Militar. Vinha de ônibus, todos
os dias. Descia na Av. Independência e passava defronte a nossa casa em direção
à sua, na Conselheiro Furtado ou Gentil. Todo de branco, com divisas e um quepe
que eu achava um charme. Era baixinho, careca e gordinho, além disso torcia
pelo Remo, time odiado por mim e por toda a família de minha mãe. Mas seu
sorriso era uma pomba voando no horizonte ensolarado. Suas prescrições eram
fatais..... para as doenças que nos acometiam. Todo o dia lá vinha ele, batia
palmas ao portão, entrava e sentava no páteo; era quase 18 horas. Desciam eu ou
meu irmão para abrirmos a porta e conversarmos com ele pois mamãe,
invariavelmente, estava no andar de cima com enxaqueca, as quais ele muitas
vezes curou com Novalgina ou Anador, na veia, misturado com soro glicosado. Ficava
conversando conosco até perto de 19 quando já tinham chegado o Cacá (meu avô
postiço paterno) e o próprio papai, quando não estava prevaricando. A conversa fluía
fácil: futebol, política, seleção brasileira de 54 e 58, piadas, coisas do
cotidiano e, pasmem, até os nossos exames de língua de fora, ausculta cardiorrespiratória
(com direito a falar 33 e tudo o mais) e toque nos gânglios. Às vezes o papo
era tão bom que a febre de garganta sumia. Claro que os diagnósticos evoluíram muito
e a expectativa de vida é bem maior. À época, depois dos 40, o cigarro levava
muita gente de colapso cardíaco (com se dizia então); pessoas que passavam de
60 já espantavam os circundantes. Quando morria algum gordo, já que gordura era
sinal de saúde, todo mundo dizia: morreu com todo o corpo, claro que para
diferenciar daquelas moléstias que descarnam lentamente. Não sei se é vantajoso
viver-se mais. Sou tentado a pensar que bom seria viver-se melhor e mais feliz.
Qualidade ao invés de quantidade. Pra que ultrapassar os cem sem poder usufruir
os melhores gozos que a vida lhe oferece? Tenho que reconhecer: quanta saudade
dos mestres e médicos de outrora. Certamente sentirei muita falta deles quando
chegar a minha hora. Simples assim!
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Bom dia para a Rede Globo
Ah a personalidade dos seres
humanos! Segundo pesquisas e teorias científicas especulativas, a personalidade
de um ser humano se forma em torno dos quatro ou cinco anos de idade (Piaget
defende que entre oito e 12 anos). A diferença é pequena e não parece perturbar
o que se pretende entender: muito cedo, os seres humanos cristalizam esse
conjunto de princípios, valores, ideias, conhecimentos e comportamentos que os
distingue entre si. É isso mesmo! A personalidade é como uma digital
psicológica que faz cada indivíduo ser diferente de todos os demais, como se
fosse um número primo, divisível por si mesmo ou pela unidade. Ao longo das
eras essa característica individualizante era transferida pela própria família,
já que tem origem muito mais cultural que hereditária. Contudo, a partir da
Revolução Industrial, no quarto final do século XVIII, crianças menos
favorecidas, a esmagadora maioria no meio social, passaram a trabalhar, muitas
vezes desde os dois anos de idade. Tal fato parece ter causado uma ruptura que
só vem sendo aprofundada com a ausência cada vez maior de famílias estruturadas
e bem formadas na transmissão desses valores para a posteridade. O conhecimento
mais refinado sempre foi apanágio das classes mais abastadas e, nos dias
atuais, tudo continua como antes fruto de uma brutal inversão de valores onde a
educação pública é dirigida aos mais pobres e a particular, de melhor qualidade
e muito cara, aos filhos das elites. Com a expansão do cinema, a partir do
final da segunda grande guerra, Hollywood passou a figurar como o mais
importante formador de personalidades no mundo conhecido e onde o cinema era
facilmente transmitido a todas as classes sociais. Eu sou resultante desse
tempo. Hábitos como o fumo e a bebida alcoólica desde a adolescência, foram
sendo congelados na personalidade de todos os jovens do mundo. Traições no
casamento, famílias desestruturadas e muito, mas muito crime foi esmiuçado para
os futuros praticantes de delito. Após a virada dos anos 40 para os 50, outro
importante vetor de formação de personalidade em idade tenra veio se aboletar
nos lares e para ficar: a televisão. Com isso se somou, como afirmei em crônica
passada, a exacerbação da luta pela vida e a entrada fulminante da mulher no
mercado de trabalho. Rareiam as antigas profissionais domésticas que guardavam
valores adquiridos em um mundo pacífico, nos interiores brasileiros. A escola
passa a ser uma mera instrutora de questões objetivas, respondidas com um mero
x, e anti-pegadinhas vestibulandas; não ensina mais a pensar! A televisão assume a condição de transferidora
desses mesmos valores e formadora de opinião. Nesse ponto entra a grande vilã
desta história: a Rede Globo de Televisão! Como uma serpente infiltrada no
forro das casas, em silêncio e sem alardes, a Globo vai assumindo o posto de
maior formadora de valores humanos no seio das famílias brasileiras e nada
parece ser feito para deter esse absurdo. Prepara as crianças para, ao atingir
a pré-adolescência e a adolescência em si, considerarem normal tudo o que é,
desde o berço (e que, certamente, fluirá também até o túmulo), inculcado na
formação do caráter e do próprio conhecimento, desde o senso comum até a
Universidade. Muitas vezes não se percebe que, diferente de outrora, não
existem mais horários para os programas: tudo depende da grade da Rede e
ninguém mais estranha o futebol começar às 22 horas e qualquer outra atração
ser anunciada como “após a novela Avenida Brasil”. Paira no ar uma insanidade
de que todos os brasileiros assistem a citada novela que assume foros de
medidora do tempo, substituindo o ultrapassado relógio. Os simples e
maniqueístas desenhos animados de outrora, aqueles que faziam rir como Tom
& Jerry, Popeye, Pica Pau e Gato Felix (para os mais antiguinhos), foram
substituídos por feras extraterrestres, batalhas intergalácticas, monstros
inimagináveis. Isso forma a personalidade de nossos anjinhos que só fazem
completar a coisa nos vídeo games insanos de mortandade e sangue, jogados nos
baratíssimos celulares que substituem, com vantagem física e imensa desvantagem
psicológica, a presença humana. Na Malhação, ícone da juventude, as portas dos
quartos são fechadas à chave e não há direito dos pais em quebrar a
“intimidade” dos adolescentes. Ai meu Deus se você ousar essa bravura.
Certamente levará porrada de seu filho! Ali também surge no ar a normalidade de
comportamentos homossexuais e ninguém chega aos 15 com cabaço. Namorar é ficar
e ficar é transar o tempo todo, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Desse comportamento não só derivam os riscos de transmissão de DST’s, AIDS
inclusa, ou a gravidez precoce; também a desagregação moral acompanha o pacote.
Casamento formal é uma instituição falida e se vier acompanhado de um adendo
moral ou religioso, tipo ser uma união divinamente abençoada, aí é porrada
livre! Casamento gay é notícia de Jornal Nacional em qualquer rincão do mundo.
Comportamentos condenáveis como bullying (criação recente) e luta livre nos
colégios; agressão a professores, armas em sala de aula, homicídios na escola,
tudo tende a ser, cada vez, mais socialmente aceito mesmo que eventualmente combatidao na Globo. O
desrespeito ao telespectador é tão patente que até as recentes lutas de MMA nas
madrugadas da vida são editadas e ditas como apresentadas ao vivo, só para não
ferir a Grade e obrigar os tresnoitados a assistirem a “vida inteligente na
madrugada” do picolé de chuchu Serginho Groisman (acho que só o Geraldo Alckmim
é mais ensosso). A Globo não emite opiniões mas só transmite o que condiz com
seu catecismo: sexo livre, casamento inútil, família desestruturada. Mas o
resultado disso não explode dentro da emissora mas em nossos lares. É ali que
se trava a batalha diuturna contra as drogas, lícitas e ilícitas; contra o fumo
que ainda se expande (em velocidade menor, é claro) no mundo; contra a
desagregação moral; contra o excessivo controle de natalidade que faz nossas
mulheres, cada vez mais, parirem NETOS ao invés de filhos, enfrentando gravidez
de risco após os 40: é a moda! Aliás, nada mais a serviço da Moda do que a
Globo: “isso pode vestir mas isso não pode usar!”. Cacete! Por quê não usar o
que você quer ou lhe faz sentir melhor? Por quê acompanhar a imbecilização sob
forma de comportamento? A Globo alimenta a geração Shopping & Academia. Não
se compra mais nada por necessidade mas por demonstração e impulso; as
sossegadas ruas de minha cidade, Belém, com sua mangueiras que geram muita
sombra, são desprezadas para caminhadas: a Academia é indispensável! Tudo
começa na Malhação e prossegue nas novelas das seis, sete, nove e agora, das
onze com o nu frontal da Juliana para excitar os casais pois ninguém é de
ferro, né? Vocês fazem sexo com a TV ligada? Hum, hum! A Som Livre, na verdade,
abateu a música brasileira de qualidade: e tome axé, sertanejo, brega, rap,
pagode e tchu, tchu, tchá! Nossos domingos são imortalizados com uma Fórmula Um
revitalizada com a qualidade de carroceiros como Massa e Senna (aliás, que
indecência esse garoto usar o nome do tio tão indevidamente) mas ainda
resistindo por uma repaginação nas transmissões; as de futebol são escolhidas
pelas pesquisas fabricadas que, afinal, estão conseguindo dizer que o
Corinthians já é o clube mais querido do Brasil no lugar do Flamengo, detentor
do posto por quilômetros de vantagem (e olha que sou vascaíno). Faustão nos
idiotiza e o Fantástico conclui a tristeza do show de nossa vida. Canais de TV
são concessões do Estado, isto é, podem ser cancelados inaudita altera pars (sem a exigência de motivos). Por quê será que
nunca ninguém mexeu com a Globo? Seria ela um títere a serviço do poder
reinante: é FHC? Então vivas a ele! É PT? então hurra! Só não pode mexer muito
com os interesses dominantes. Aí quebra as pernas do Bonner tirando sua mulher
para uma ridícula “atração” num horário morto e coloca-se a Poeta, casada com
um censor disfarçado e lá infiltrado.
Simples assim!
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Bom dia para Ibrahim Sued
Na manhã de um dia que nem me lembro, do ano da Graça do
Senhor, de 1995, o mundo perdia um de seus mais proeminentes filósofos
populares, aos 72 de idade: Ibrahim Sued, ou apenas O Turco, para todos. Era um
cara alto e muito bonito, olhos de um verde de mar do Caribe extremamente
inteligente mas com a cultura de uma ostra nunca aberta. Tropeçava nas palavras
e alimentava, como poucos, o anedotário carioca desde o início dos anos 50. A
verdade é que, de um furador de festas e frequentador dos “serenos” dos mais
importantes acontecimentos sociais da então capital brasileira, Ibrahim surgiu
para a vida em um golpe de sorte. Visitava o Brasil o então Presidente norte-americano
o Gen. Eisenhower. Sem coisa alguma pra fazer, Ibrahim muniu-se de uma câmera
fotográfica e foi ao Palácio Monroe, sede do Senado, assistir à solenidade com
o Presidente americano. Terminada a cerimônia, quase todo mundo já tendo se
retirado e NENHUM jornalista presente, Ibrahim ficou por perto fuçando até que
o prestigiadíssimo político brasileiro Otávio Mangabeira dirigiu-se à mesa e o
corpulento General abaixou-se ao lado do móvel e lhe estendeu a mão direita
para o cumprimento. Ato contínuo, Mangabeira puxa a mão do americano e
tasca-lhe o maior beijo. Ibrahim, por ironia do destino, estava com câmera
ligada e pipocou o flash: eternizou o maior ato explícito de subserviência ao
capitalismo americano perpetrado por um representante do povo de uma
republiqueta de bananas, tal o caso do Brasil na época e, por óbvio, vendeu a
foto para TODAS as mais prestigiadas agências de notícias do mundo e, no
Brasil, para o Jornal O Globo, de Roberto Marinho. No outro dia, ganhou emprego
no Jornal O Globo, onde fundou a mais lida Coluna Social do país, à qual chamou
de Zum Zum (em homenagem ao Clube dos Cafajestes, onde participava a fina flor
da boêmia carioca, e o Turco no meio). Ibrahim chegou a sentar na Bancada do
Jornal Nacional junto às vozes eternas de Heron Domingues, Hilton Gomes, Orlando
Majestade e Cid Moreira. Fazia uma rápida entrada para dar o que ele chamava,
aos gritos de: furo, fuuuro ou bomba, boooomba! Tropeçava tanto no idioma que
nem o seu histrionismo pôde ser respeitado e foi defenestrado junto com a
subida do padrão Globo de qualidade. Consta que o JN perdeu audiência, fato que
obrigou a Globo a incluir outras atrações no noticiário como Ziraldo, Juarez
Machado, João Saldanha e, mais tarde, Chico Caruso. Aparecer em sua coluna era
o top de linha do marketing pessoal. Incrível para um homem de tamanha
dificuldade de comunicação. Criou eventos fantásticos como os Desfiles da
Bangu, recrutando manequins entre as damas do soçaite carioca. Espantoso como
conseguiu essa façanha num país machista e, ainda, contando com a participação
da Fábrica de Tecidos Bangu (patrono do clube de futebol de igual nome) e
dirigida por Guilherme da Silveira (o Silveirinha), rei do Rio, bicheiro maior
e pai de Castor de Andrade. Suas expressões, escritas na coluna ou ditas em
programas de TV, são imortalizadas no Aurélio: High Soçaite (formado pelos
ricos tradicionais), Café Soçaite (formado pelos novos ricos), Cervejota e
Champanhota (conforme o evento fosse mais ou menos sofisticado); Sorry,
periferia; Ademã que eu vou em frente. Alguns ditos foram definitivamente
incorporados à língua portuguesa falada no Brasil: Rebu (acontecimento que gera
confusão), os cães ladram e a caravana passa (muitas vezes falado “os cães
dralam....” no meio do JN), cavalo não desce escada e, o mais emblemático de
todos: não convidem para a mesma mesa fulano e sicrano, criada em 1957.
Enveredou-se em negócios que sempre davam muito dinheiro e depois murchavam ou
desapareciam: com Ronaldo Bôscoli criou uma fábrica de Whiskey nacional com a marca
House of Lords, conhecida como a maior gênesi de enxaquecas do Brasil. Montou,
com Bibi Ferreira, uma majestosa encenação teatral do clássico de Hollywood “My
Fair Lady”, com mais de cem figurantes no palco. Procurou “seu” Roberto para
completar a grana e este negou. Mas compareceu à avant-première e vaticinou:
Vais ganhar muito dinheiro! E o Turco ganhou, demais. Mas a velocidade da
entrada era a mesma da saída e assim Ibrahim fui curtindo a vida até morrer de
repente. Uma parte imponente de sua biografia diz respeito às suas “comidas de
carnaval”. Atrizes famosas trazidas pela revista “O Cruzeiro” para passar o
carnaval no Rio e que imortalizaram a cama do Turco em sua suíte no Copa:
Marylin Maxwell, Ava Gardner, Louella Parsons, Gina Lollobrigida, Jayne
Mansfield e, dizem até que Kirk Douglas, Tony Curtis e Burt Lancaster,
bissexuais famosos, visitaram seu leito. O mais sensacional, contudo, ficou
conosco: o farto anedotário em torno de sua figura. Afirmam que uns são
lendários mas outros, fatos consumados com testemunhas, como sua total ignorância
em idiomas, apesar de se meter a falar inglês daquele tipo: Me Tarzan, you
Jane! Na primeira vez que esteve em NYC se perdeu. Ligou para o Consulado do Brasil
e a atendente lhe perguntou em que altura de Manhattan ele se encontrava, ao
que ele respondeu: Entre as ruas One Way e Don’t Walk! Quando a rainha da
Inglaterra visitou o Brasil nos anos 60, teve que vir a Brasília (cidade que
detestava por haver roubado do Rio a condição de Capital do país). Consta que
por muita sacanagem dos pomposos Ministros do Itamaraty, putos com os Generais,
foi o Turco colocado ao lado do Príncipe Phillip, Duque de Edimburgo. A folhas
tantas, cansado de ouvir tantos “nós vai e agente fumo” no inglês Ibrahmico
perguntou ao colunista sua opinião sobre Brasília o que o deleitou a responder:
Brasília es lá citá where is situê the Capital of Brazil, ao que o Duque teria
comentado para o vizinho do outro lado: I will be a circus monkey riding a
horse if this idiot is not the famous Ibrahim Sued! Para encerrar, a mais incrível piada sobre o Turco: Ao morrer
ele foi para o céu e, recebido por São Pedro, foi encaminhado ao Setor dos Colunistas
Sociais. Reclamou com o arcanjo que o levou, pois insistia em ser levado para o
Setor dos Filósofos. Tanto encheu o saco que São Gabriel retornou para São Pedro
e expôs o seu pleito. O porteiro do céu, com pena de Ibrahim mas vendo suas
falhas de vernáculo e ideias truculentas e pouco cultas, deu tratos à bola acerca
de qual o filósofo que escolheria para dividir o quarto com Ibrahim, até se
decidir sobre Confúcio (nosso Kung Fu Tsé) o filósofo da paciência. Dito e
feito. No fim da tarde Pedro, preocupado em como estariam as coisas no Setor,
pediu a Gabriel para dar uma checada. Quando se aproximou da alameda da Paz, o
Arcanjo ouviu que o chinês falava em voz muito alta para seu costume; na verdade
ele gritava! Apurou bem o ouvido a ponto de compreender o que tanto Confúcio
falava: “Não Iblahim, nãããããããão! Suruba não é carro japonês, via de regra não
é o caminho da menstruação das mulheres, ano santo nãããããão ééééé o cu do Papa
e...........Pafúncio..........Pafúncio, Iblahim........É A PUTA QUE TE PARIU! Simples
assim!
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Bom dia para Copacabana
Ahhhh Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil! Quem está na minha
faixa etária evidentemente sabe do que estou falando. Quem for mais velho
curtirá ainda mais o que somente li à época. Quem for mais novo vai nos
invejar. Em 1952, então com cinco anos, fui ao Rio pela primeira vez. Como não
posso me escapar à condição de memorialista, a mesma que permeia personalidades
como André Nunes, Pedro Nava e Zélia Gattai (e guardando minha quilométrica
distância deles), minha mente é um arquivo em cinco dimensões: sinto frios ou
calores, odores de maré, meus olhos lacrimejam ao toque enamorado da brisa
marinha, minha pele se eriça sem explicações, o sal arde nas entrâncias, a
cabeça voa desesperada de prazeres virgens, os carros passam velozes, estou
andando em um túnel pela vez primeira; o Túnel Novo que deixa pra trás Botafogo
e entra pela Princesa Isabel, fronteira com o Leme. O Nash preto de meu tio,
modelo 48, vai pela Atlântica pra eu poder gravar na retina da alma aquela
visão diáfana, efêmera na paisagem mas eterna no látego do coração: o mar
beijando a areia, ondas altas, povo lindo, sereias e deuses bronzeados. Nunca
pensei que houvesse o paraíso na Terra e se ele existisse, certamente seria
Copacabana, hoje completando 120 aninhos. Vi coisas que depois povoariam minha
existência real: o cartaz em neon da Boate Freddy’s, a frente do Sacha’s, o
Copacabana Palace dos Guinle, o Cine Rian (que é Nair ao contrário. Pertencia à
Da. Nair de Teffé esposa do Mal. Hermes da Fonseca, Presidente da República
Velha). Como era de tarde, o futebol na areia comia solto, 11 contra 11, com o
grande clássico entre Royal (time da Rua Real Constant) e o Copa-Leme, com juiz
descalço mas vestido de preto e bandeirinhas. Um era o Flamengo e o outro o
Vasco. Juntava muita torcida no calçadinho (1/5 do calçadão de hoje mas já com
aquele piso em pedras portuguesas sob a forma de ondas). A Atlântica tinha duas
vias simples (mão e contra-mão). Apesar de muito novinho, os pontos turísticos
de então pouco me importavam, logo, nada de Sugar Loaf e Corcovado; ficava pra
depois. Já sabia ler e me encantava com nomes como Stanislaw Ponte Preta,
Dolores Duran, Antônio Maria, Tom Jobim, Ari Barroso, Nelson Rodrigues, Danuza
Leão, Chico Feitosa (o Chico Fim de Noite), Agostinho dos Santos, Almir Ribeiro,
Zaquia Jorge, todos pertencentes a um mundo impróprio até 18 anos imagina eu
com meus quase seis. Mas concordei logo com Nelson que afirmava sentir
nostalgia do Rio logo que cruzava o Túnel Novo. A magia de perscrutar no
horizonte se ia ou não dar praia no outro dia, já era uma aventura. Passar no
Antonino’s, bar onde nasceria a Bossa Nova e eu ainda nem sabia, mas que ficava
na esquina da Aires de Saldanha com a Xavier as Silveira, há 50 metros do
Edifício Muqui, onde ficava hospedado no Aptº 505, onde moravam meus tios
Lucilia e Morais e minha prima Heliane que custei a imaginar que falava, de
tanta formosura, e com sotaque carioca. Meus tios me levaram ao Hotel Quitandinha, em Petrópolis, para um fim
de semana. Era um imenso centro de lazer com Cassino (fechado no Governo Dutra
para atender aos reclamos da Igreja) e uma coisa impensável: enorme piscina
aquecida dentro de uma imensa redoma de vidro, tudo esfumaçado. Lá foram
rodadas muitas cenas extra estúdios, das chanchadas da Atlântida. Mas também
visitei o antigo Cassino da Urca, já naquele tempo servindo de sede à TV Tupi,
Canal 6, emissora líder do conglomerado de Assis Chateaubriand, as Rádios e
Emissoras Associadas. Mas Copacabana era minha aula de vida em todos os
dezembros. Vi começar a Bossa e os protestos pós 64 no Teatro Opinião e no
Teatro de Arena na Miguel Lemos; vi Elis ao vivo, toquei no seu braço e dei uma
inocentíssima encoxada dentro de um fusca de sua prima, Gílcia; já podia me
esgueirar pelas Boates do Beco das Garrafas, claro que de tarde, pois de noite
por ali transitavam Elis, Bôscoli, Baden, Vinícius, Tom, Johnny Alf, Leni
Andrade, Lúcio Alves e Dick Farney em seu inesquecível dueto em Tereza da
Praia. E, dueto por dueto, Dick encantou o mundo ao gravar Você com Norma
Bengell, a mais bela, gostosa e desejada sapatona do mundo. Como ela escondia
bem...e nós pensando que aquela cara de tarada era nos ratos de praia. Tudo
velcro, cara! Copacabana era manhã, tarde, noite e madrugada. Quando pude pagar
um michê, bem novinho, ia curar minhas ressacas de Cuba Libre nos becos da
Miguel Lemos, tomando a sopa levanta pau de velho. Mas mantendo íntegra minha
juventude e recém saída infância: Festival Tom & Jerry, todo o primeiro
domingo do mês, no Metro Copacabana; sundae de marshmallow com cobertura de
morango e castanha no Bob’s da Domingos Ferreira, bem defronte o Instituto São
Sebastião onde estudei meu quinto ano primário. Eu e o Nazir Zaire, também de
Belém, íamos pelo corte do Canta Galo pescar lambaris na Lagoa Rodrigo de
Freitas limpinha. A empregada de Tia Luci só tirava as tripas, punha sal e
torrava tudo na banha quente: puta merda que coisa gostosa, triturando o
espinhaço com os dentes. A maior diversão era andar a pé, em Copa, depois do
almoço. Olhar as vitrines da Barbosa Freitas, Slopper, Lojas Americanas e
Brasileiras. Fugir das bichas que nos ofereciam grana por um boquete nas
matinês dos cinemas carcomidos de luxúria da Galeria Alaska. Boas notas
significavam polvo com arroz e brócolis, Fetuccine a Alfredo di Roma ou Lasanha
Verde a Eduardo, na Spaghetilândia de Copa, aos domingos após a leitura do
Boletim Escolar Mensal. Quando sobrava tutu, era certo, especialmente no
inverno, um chocolate quente na Filial Copacabana da Confeitaria Colombo,
acompanhado por folheados certamente feitos pela Virgem de Fátima. Passagem de
ano não podia ser na praia pois éramos evangélicos e íamos à Igreja
Presbiteriana do Pastor Benjamim, na Barata Ribeiro, ouvir o coro perfeito
cantando a Aleluia da Haendell na passagem cronometrada. Mas vou entregar: logo
após me separava do bolo e ia curtir umas baforadas do charuto vagabundo de uma
mãe de santo possuída pois ninguém é de ferro. Saravá! Aí vieram os festivas,
as guitarras elétricas, o rock pesado, as drogas e, finalmente, a violência e
Copacabana começou a parecer, como falava Drumond de sua Itabira, nada mais que
um quadro na minha parede de memória, mas como sempre doendo. Hoje Copacabana
me soa como a felicidade que não pude reter; a saudade sempiterna de meus
mortos ilustres; as tardes sem porrada mas com arte num Maracanã com presença
média de 130 mil torcedores; os boleros findaram, a Bossa resiste capengando, o
charme de Copa foi se esvaindo nos enterros de seus mais emblemáticos
moradores. Não volto lá desde 1997 ou 15 anos. Nem sei se o chopp do bar da
Miguel onde frequentavam João Saldanha, Carlos Imperial, Sandro Moreira, Luiz
Mendes, Ronaldo (marido de Martha Rocha), meu pai e meu irmão ainda é gelado
como antes. Também não imagino quem venderá as rosas que Pedro das Flores
entregava como Sarita Montiel em Las Violeteras. Nem sei se Copacabana ainda
existe. Mas sei que minhas saudades são eternas e imutáveis. Salve Copa!
Simples assim!
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Bom dia para a emancipação das mulheres
Ah como é bom o movimento de
emancipação da mulher! Acho que vocês sabem por quê chamam o leão de rei dos
animais. Além de seu tamanho, ferocidade e imponência da juba, certamente ele
não é o mais feroz ou forte dos felinos. Um leão adulto mede até 3,3 m de
comprimento e um metro de altura; chega até 250 kg e corre até o limite de 58
k/h. Um tigre siberiano chega a 400 kg, 4,5 m de comprimento e metro e meio de
altura e certamente derrotaria o leão em uma luta caso pertencessem ao mesmo
continente. O mesmo aconteceria com Rinocerontes e Elefantes. Mas persiste a
dúvida: por quê o leão é chamado de rei dos animais? Outros elementos de seu
currículo desautorizam o aposto. Sabe você que ele não caça pois é lento e a
leoa, sua esposa, corre a 85 km/h. Ela vela por ele e, em contrapartida, ao
começar a envelhecer e antes de ser despachado do bando, o macho Alfa escolhe
UMA ÚNICA LEOA e vai fiel com ela até a morte. Se ele morrer antes ela nunca
mais se deixa cobrir. Se ela morre primeiro ele nunca mais transa com outra
leoa. Que fato intrigante! Mas tem mais coisa incrível com esse nobre do topo
da realeza animal. Quando ele envelhece é expulso ou morto pelos machos mais
novos. Os leões chegantes brigam entre si (3 ou 4) e o Alfa é o mais valente.
Daí ele come todos os pequenos leões, filhotes ou mesmo taludinhos, das 5 ou 6
leoas do bando. Imediatamente todas as meninas entram no cio e são cobertas
para parir a posteridade. Isso, na verdade, muito me intriga no leão: a noção
exacerbada de proteção à família que esse felino transmite-nos. Desconhece-se,
no reino animal, quem preserve tanto essa instituição tão maltratada. Cisnes
são fiéis até a morte. Outras espécies possuem características de proteção à
prole mas certamente nenhum outro animal possui essa noção tão presente na vida
inteira, NEM O SER HUMANO. E é aí que morre o Neves! Humilhadas e anuladas
através dos tempos, desde a pré-história, as mulheres vêm lutando por um lugar
ao sol, reclamando igualdade plena em relação ao macho da espécie. Parece que,
com algumas exceções sobre certos preconceitos de mercado, finalmente a mulher
conseguiu o que queria: é maioria quantitativa no planeta; está sendo
considerada profissional mais cuidadosa e humana no trato com o semelhante,
aliás questão central na gestão das organizações; consegue já penetrar feudos
antes instransponíveis pelo culto à masculinidade; consegue reter mais
conhecimento útil que os machos e os distribui melhor e mais organizadamente,
mesmo possuindo menos neurônios que eles; levou para o mercado aquele charme
hoje indispensável no mundo profissional e do trabalho: afinal, quem dispensa
uma maravilhosa fêmea (em qualquer sentido, físico ou psicológico) por perto
para melhorar todos os astrais? Só louco ou quem não gosta do gênero. Mas tem
um problema que me angustia e me acompanha ferozmente nesta análise que ouso
fazer: as famílias estão sendo brutalmente atingidas pela ausência da mulher na
administração do lar! Por mais que elas se desdobrem (e olha que se desdobram
mesmo) cada vez fica muito mais difícil conciliar a condição de excelente
profissional, ousada e ambiciosa segundo as regras do mercado e conseguir ser
mãe de crianças pequenas, dialogar e distribuir carinho e atenção aos filhos
quando eles mais precisam. As novelas da Globo pululam de exemplos de famílias
desestruturadas; aliás, você já viu alguma família bem estruturada em qualquer
novela da Globo? Cada vez mais sou tentado a imaginar que o descontrole das
drogas, a violência nas escolas, o fechamento nos quartos, a proliferação
desenfreada de celulares e computadores, tudo isso que desordena o princípio da
família, possui um pedaço muito grande de suas raízes na ausência da mulher dos
lares, repito, quando ela é mais requisitada. De certa forma distante,
acompanho a vida de filha, sobrinhas, primas, outras parentes e amigas e
constato o quanto é difícil lutar pela vida e desempenhar o papel que as leoas
fazem em suas famílias. Tive o prazer de, mesmo descasado há anos, ter visto que minha ex-mulher só trabalhou
quando nosso último filho já tinha feito dois anos e um mês de vida. Todos
foram cercados do carinho e da presença marcante que aquela então minha leoa
lhes dedicava e dedica até hoje. Sem creches, essenciais mas desumanas. Com
tempo para cuidar dos filhotes de leão se preparando para a dureza que se
avizinhava. Evidente que jamais serei um empecilho ao andamento da vida, mas
sempre me assoma uma ideia desgastante que as leoas cuidam melhor de suas
famílias que as mulheres contemporâneas. Não fugirei das porradas que tomarei
decerto, por essa altamente polêmica posição. Não possuo certeza mas me assomam
e entopem dúvidas brutais nesse campo. Como o Canal Futura, não são minhas
respostas que me ajudam e aos que me leem, SÃO AS MINHAS PERGUNTAS. Será que
estou certo? Será que essas ondas de bullying, violência estúpida e
desenfreada, separações e desestruturação da família, desamor e inconsequência,
drogas e quejandas não serão causadas pela ausência das leoas em volta de suas
crias? Como eu gostaria de estar errado nessa minha inquietação, ainda que
constate que os filhos da atualidade são educados por babás, acariciados por
professoras, alimentados por atendentes de creche, comunicados com facebook e
celulares. Não leem mais nada. Não se conversa. As portas dos quartos são
trancadas a chave para preservar a intimidade, inviolabilidade e privacidade
dos filhos da Malhação, enquanto as leoas estão disputando com os leões nichos
de mercado com toda a ferocidade que lhes é peculiar. Vou morrer sem saber onde
vai dar essa celeuma. Mas o problema vai piorar e quem estiver vivo verá. A
propósito, existem teorias que dizem que os leões são considerados reis pela
potência de seus urros. Um pastor evangélico amigo meu que morou na África do
Sul, foi àquelas Reservas de Vida Selvagem e constatou, segundo informes dos
guias e por observação participante, que o urro de um macho adulto chega a 351
Kb (não sei quanto isso dá em decibéis) e é o mais grandioso e aterrador dos
sons emitidos por qualquer animal na natureza. Pode ser ouvido a nove km de distância
e, num raio menor, o chão treme com num pequeno terremoto. Rugem ao anoitecer
para avisar a todos os outros animais que o território está ocupado. Nós, pobres
machos acuados de hoje, rugimos como leões na quaresma:
miiaaaaaaaaaaauuuuuuuuuu! Simples assim!
terça-feira, 3 de julho de 2012
Bom dia para o povo japones
Ah esses japoneses! Em setembro
de 1973 os árabes, de montão, invadiram Israel por todas as fronteiras e até
pelo mar, durante a comemoração do Yom Kippur ou Dia do Perdão para os judeus.
Os israelenses tinham surrado todos juntos em 1956 e 1966, nas chamadas Guerras
de Suez e dos Três Dias. Pensou-se que afinal tinham percebido a
impossibilidade de derrotar belicamente o Estado Judeu. Ledo engano! A coisa
fedeu dessa vez e Israel só saiu da draga com a ajuda dos satélites espiões
americanos que indicaram uma passagem nos Lagos Amargos para furar o cerco de
aço de Egito, Síria, Jordânia, Sudão e Líbia. O resultado foi a rendição
incondicional árabe e uma vingança do Islã que mudaria a face do mundo, PARA
SEMPRE! A terrível subida dos preços do petróleo que abalou o mundo capitalista
e a segunda crise, em 1979. No primeiro choque, o preço do barril que mal
chegava a cinco dólares pulou para 40 e, no segundo, que sucedeu a queda do Xá
da Pérsia e a subida ao poder dos Aiatolás, pulou para 80, desordenando todas
as grandes economias ocidentais, notadamente a dos Estados Unidos que passaram
a suportar um déficit brutal na conta petróleo e dificuldades imensas para a
rolagem dessa dívida fato que, aliás, só se normalizaria nos anos 90 com o
advento do Consenso de Washington onde 63 países emergentes tipo Brasil,
Argentina, México, Índia, Rússia, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul,
Coréia do Sul etc., adotaram as políticas neoliberais e se transformaram em
repassadores de capital para os americanos não quebrarem. Que gracinha, né?
Ocorre que, nesse ínterim, um país asiático, então quinta economia do mundo,
aquele mesmo onde se come peixe cru porque não tem graveto para queimar; não
produz uma gota de petróleo; não possui qualquer jazida de minérios estratégicos;
tem que importar quase tudo o que consome, até comida, exceto conhecimento e tecnologia. Não
possui rebanhos animais e plantações de soja, trigo, feijão, só arroz, e plantado no segundo e terceiro andares da
terra que lhes sobra em um solo vulcânico além de frutos do mar nas fazendas
criatórias na baía de Tóquio. Esse mesmo país teve seus centros industriais
básicos destruídos por duas bombas atômicas, explodidas cerca de 35 anos antes.
Mais ainda: teve dizimada sua população de machos adultos entre 14 e 65 anos,
isto é, só sobraram crianças, mulheres cultural e economicamente nulas e velhos. Foi
invadido por uma força inimiga que o maltratou por décadas. Teve que aceitar a
perda de grande parte de sua soberania e a falta de poder nos organismos
internacionais. Repetiu a Alemanha no pós duas guerras e as botas “aliadas” até
hoje estão fincadas em seu território. Não reclamou nem chorou nos foros
competentes. Evidente que qualquer pessoa normal imaginaria que esse país,
centro de uma civilização de 5.000 anos de existência, extremamente
tradicionalista e conservador e até xenófobo, estava literalmente fodido no
concerto internacional, a maior carta fora do baralho da história recente da
humanidade. Vejamos contudo, no que deu! Na passagem dos anos 70 para os 80,
sabia-se que os melhores pianos eram germânicos ou Anglo-Saxões: Steinway &
Sons, Fritzz Dobbert etc. De repente, os melhores concertistas do mundo
passaram a decantar a superior qualidade dos Yamaha. Máquinas fotográficas,
claro, eram as Kodak, Agfa e Rolleyflex.Nada disso! Asahi Pentax e Nikkon
passaram à dianteira mundial em excelência. Pera lá! E motocicletas? Evidente
que as Halley Davidson eram imbatíveis. Não! Suzukis, Yamahas e Hondas passaram
a inundar o mundo nas ruas e competições. Ufa, ainda bem que temos os carros
econômicos europeus como Wolks, Fiat, Citroen, Skoda e Volvo. Não, os carros
compactos japoneses passaram a rodar só com o cheiro do combustível. Vamos
combinar: um Jeep só pode ser Willys Overland ou Land Rover, OK? Não! Os Toyota
a diesel desbancaram todo o resto. Sim, sim, mas e os carrões beberrões
americanos? Acabaram junto com os choques de petróleo mas, em substituição,
Honda, Yamaha, Mitsubishi, Nisan e outras supriram de conforto os milionários da
época, rebeldes à nova ordem mundial. Para não ser chato, vou terminar esta
longa exposição de maravilhas da reação tecnológica japonesa com um teste muito
simples: procure em roupas mais velhas, se possível dos anos 80/90 e que tenham
zippers (onomatopeia do barulho que faz o fecho quando puxado, a mesma coisa
que o veeeeeeelcro), a marca desse pequeno mecanismo criado pelo americano
Judson em 1891, mas difundido pelos franceses como fecho éclair: certamente
será YKK. Vá lá e faça o teste e depois me confirme! Cacete, os japas tomaram
conta até dos zippers no mundo. Nesse tempo, os nipônicos perceberam que iriam
atingir o posto de primeira economia no mundo. O quê fizeram? Caíram na
gastança e farra dos neo-europeus no pós Euro? Muito diferente disso, saíram
comprando imóveis em New York, Los Angeles e Chicago para injetar dinheiro na economia
americana. O Primeiro-Ministro Kakuei Tanaka (1972/74) idealizou essa
visionária política, Takeo Fukuda (1976/78) a aprofundou e Masayoshi Ohira
(1980/82) a consumou. Este último utilizou, pela derradeira vez até hoje, pelo
que se sabe, uma rede de tv para fazer um pronunciamento oficial de três
minutos, pedindo à nação que, no ano de 1981, todo o japonês de qualquer idade
(e eram 130 milhões) gastasse, durante o ano inteiro, cem dólares em produtos
americanos e justificou: um negócio só é bom quando as partes envolvidas ganham
igual. “Nossos parceiros americanos passam enormes dificuldades com nosso
imenso superávit na balança comercial bilateral entre nossos produtos e
serviços. Com essa injeção de 13 bilhões de dólares o equilíbrio será ajudado”.
Pedido e feito. Alcançaram e permaneceram por quase duas décadas no posto de
segunda economia do mundo. Continuam sem gravetos para assar um peixe; sem
reservas de combustíveis fósseis, carvão, hulha etc. Enfrentam tempos duros com
a subida brutal, nos últimos anos, dos preços das commodities de que tanto
necessitam para sobreviver, perdendo seu vice para a China. Ainda assim, foram os Bancos japoneses que
financiaram a criação dos Tigres Asiáticos na orla do Pacífico. Enfrentam uma
enorme insegurança para consumir pois a tendência do povo é poupar. Sofrem a
desleal concorrência predatória dos produtos chineses sem chorar para seus
governos o aumento do dólar artificialmente, subsídios ou barreiras a essa
pirataria. Enfrentam tudo com trabalho e sem choradeira. Kakuei Tanaka, aquele
artífice da virada japonesa, foi parar na cadeia por um deslize que faria corar
de vergonha um Guarda Municipal que aceita dez paus de suborno. No mais das
vezes, quando um funcionário é pego com a boca na botija, suicida-se de
vergonha de si mesmo e de todos os demais japoneses. Rasga as tripas no ritual
do Harakiri. Claro que você, meu eventual leitor, já percebeu onde quero
chegar! Claro, é aí mesmo! Comparando Brasil e Japão. Imagine se nós fôssemos
um país igual ao deles, sem um pé de pau pra comer na seca, um riacho pra
fechar uma hidrelétrica, um lote pra construir uma mansão maior do que os 45 m2
permitidos nas áreas metropolitanas. Estaríamos de pires na mão chorando a
bomba atômica que jogaram em Porto Alegre e Belo Horizonte e que não estariam
reconstruídas até hoje só pra justificar o pranto e a passagem da sacolinha.
Temos uma diferença e não está nos nossos portentosos recursos minerais e nem
na capacidade mental deles de criar tecnologias inventivas e criativas: tudo
reside na merda do POVO que está lá e o que está aqui, gerando líderes sérios
ou desonestos, honradez ou bandalheira, tecnologia de ponta ou Bolsa-Cocô. Na
verdade, penso que não habitamos o mesmo planeta. Simples assim!
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Bom dia para o trânsito nas cidades brasileiras
Ah! Que beleza um passeio no
futuro, para curtir a mobilidade urbana. Feche os olhos e imagine um dia de
cão: trânsito totalmente paralisado; 295 km de engarrafamento em uma
megalópole; ônibus, táxis e carros particulares levando meia hora para vencer a
distância de uma quadra (quarteirão, para os paraenses); motos pipocando como
vespas; ambulâncias, carros de polícia e outros de socorros gerais gemendo alto
suas inúteis sirenes; pessoas enfartando, vomitando no próprio colo, saindo dos
carros em desespero e brigando entre si; casais novos já se esculhambando; sinais
de trânsito trocando de cores num balé absolutamente sem função; milhões de reais
em negócios perdidos; atrasos generalizados; desespero e ranger de dentes;
D.P.O.C’s. (enfisemas, asmas, bronquites e cânceres pulmonares) pairando pelo
ar; taxistas desistindo de prosseguir na profissão. Você pensa que isto ainda
vai acontecer? Esqueça! Já ACONTECEU na cidade de São Paulo em 1º de junho do
corrente ano, exatamente como foi relatado acima, às 19 horas. Quem é o maior
culpado por essa Babel? Evidente que todos tenderão a afirmar que as vias são
mal sinalizadas; as verbas são desviadas; o serviço de transportes públicos por
metrô, trens suburbanos e ônibus é precário; não há investimentos no setor; as
frotas são envelhecidas e pouca segurança existe; fiscalização deficiente; dirá
também que é necessário adotar medidas extremas, aliás as mais drásticas e
antipáticas, as penúltimas adotadas em todo o mundo antes da total proibição do
tráfego nas áreas centrais das cidades: rodízios de placas e pedágios urbanos.
Como sempre a tendência será culpar governantes e sistemas, contudo, no final
das contas a culpa é sua. Está surpreso? Você é o maior culpado e optou
preferencialmente por esse caos! Quando jovem, com a indústria automobilística
“nacional” começando a bombar, o seu corpo e sua mente foram treinados para se
dividir em cabeça, tronco e .......rodas! Você não foi educado e nem está
educando seus filhos para sonhar primordialmente com a casa própria. Pode ver
as pesquisas e enquetes feitas pela grande mídia e constatará que o primeiro
sonho do jovem brasileiro é ter seu “carrinho”. Mesma coisa a nova classe média.
Também na classe pobre quando, ao menor sinal de recebimento dos Bolsas-Tudo,
até a Carinho, vira logo Bolsa-Carrinho!?! Perceberá que os “carrinhos”, na
maioria dos casos, são muito mais símbolos de status do que meios eficientes de transporte; servem para efeito
demonstração perante vizinhos, parentes e amigos menos afortunados. Prestará
atenção nas conversas entre amigos e, quando alguém perguntar algo do tipo
“como vão teus filhos”, a resposta será, de pronto: “Bem! Todos já estão com
seus carrinhos!”. Não se fala de empregos, diplomas, conhecimento e casas
próprias (muito menos da simples felicidade), mas o indefectível “carrinho”
está lá sempre presente. Pois são os “carrinhos” que você vomita diariamente
nas cidades brasileiras os maiores responsáveis por essa desordem urbana. A
CONTA NÃO FECHA! O Brasil encerrou o ano de 2010 com 64.817.000 veículos
licenciados. Essa brincadeira de mau gosto significava, há dois anos que, a
cada 2,94 brasileiros, um veículo estará presente na história, a maioria dos
quais, por óbvio, formada por “carrinhos”. São Paulo (capital) lidera com 6,390
milhões de veículos licenciados; Rio 2,063; BH, 1,340; Curitiba, 1,247 e
Brasília (nossa ilha da fantasia, campeã dos números relativos
veículos/habitantes) com 1,245. Há carros registrados em exatas 5.567 cidades
brasileiras. Eu não possuo carro e, obviamente, tenho facilidades de distâncias
entre minha moradia, o local de trabalho e o bequinho onde faço refeições. Mas,
aqui em Belém, me movo com facilidade a pé e tenho minha carteirinha de idoso
para nada pagar na frota pública que sempre me atendeu as necessidades. Em
qualquer super eventualidade pego um fresquinho, micro-ônibus com ar
condicionado perfeito e passagem a 3,30 ou um táxi com bandeirada ínfima e
atinjo pontos muito distantes a 15,00 a corrida. Moro numa quase penitenciária,
quase cabeça-de-porco mas com segurança de prisão e sossego. Imaginem, contudo,
que dos 120 apartamentos daquele “condomínio” a grande maioria entope as
passagens e entradas com “carrinhos” absolutamente incompatíveis com a
simplicidade do lugar. A maioria de novos e seminovos. Frota toda brilhando. Já
me disseram que, sem meu “carrinho”, nada conseguirei por aqui como professor e
advogado. O ônibus pune! Mas os “acarrinhados” já começam a entupir o simples
tráfego belenense de outrora pegando seus veículos para ir comprar cigarro na esquina.
Será que ninguém percebeu que, a prosseguir esse estado de coisas, as cidades
vão parar e a felicidade de morar nelas, simplesmente desaparecerá? Pequim hoje
possui quatro milhões de bicicletas. Dados dos anos 80 dão conta que havia 500
milhões de ciclistas na China. Na virada do século, com 130 milhões de
habitantes, havia 80 milhões de bicicletas no Japão. Com dados de 2008 existiam
60 milhões de bicicletas no Brasil, talvez com esse número aumentado em um
terço nos dias atuais , o que daria menos da metade da população do Censo de
2010. Tudo começou nos anos 70 em Delft, na Holanda, restringindo-se o tráfego
de carros particulares nas zonas centrais. Groningem, também na Holanda, criou
quatro setores que não podem ser transpostos por qualquer tráfego motorizado
privado, sendo este desviado para os anéis viários. Quando fui a Nova Iorque,
em 1970, estava se fazendo uma experiência para proibir carros particulares em
Manhattan, especialmente nas Avenidas. Maddison, das Américas e na Quinta
Avenida. Só ônibus, táxis, veículos de segurança, ambulâncias e bombeiros. A
coisa me pareceu fluir muito bem. Não sei como está hoje lá, pois não voltei
mais, porém imagino que a solução das bicicletas já deve estar sendo adotada. Cinquenta
por cento dos deslocamentos urbanos nos Países Baixos, Bélgica, Suíça etc. já
são realizados por bicicletas. Gotemburgo na Suécia busca a dianteira nesses
números que parecem pertencer a Copenhagen que, nos anos 70, iniciou uma
política de redução gradual da oferta de vagas de estacionamento em suas zonas
centrais. O que mais é preciso para perceber que nada resolverá o caos do
trânsito urbano no Brasil exceto diminuir o número de carros ou a adoção do uso
indiscriminado de bicicletas? É tempo de parar de culpar os outros e apontar um
dedo para nossa própria cara ou, se assim quiserem, vamos todos mudar para Afuá,
cidade paraense situada no arquipélago de Marajó, onde existem quatro carros
registrados para uma população urbana de 35.017 habitantes. Na verdade, esses
carros são da Prefeitura e trafegam em Macapá e Belém. Na cidade mesmo nada
motorizado pode trafegar. Nem motos! A cidade é uma Super Veneza, montada
todinha em palafitas e as bicicletas lideram as estatísticas nacionais, claro
que por necessidade. Então está combinado: todos para Afuá, com os “carrinhos”
guardadinhos em casa, certo? A propósito, nos anos 60 quando eu ia para o
Colégio, todos os dias dava de cara com o então Reitor da Universidade Federal
do Pará (de quem não recordo o nome), de terno preto, sentadinho no mesmo
coletivo. Se fosse hoje, ele não serviria nem para merendeiro de escola
municipal de Ananindeua. Simples assim!
domingo, 1 de julho de 2012
Bom dia para a maioridade penal no Brasil
Ah os crimes hediondos praticados
por menores, no Brasil. Se você é um formador de opinião, em qualquer estrato
sócio econômico da sociedade brasileira, muitas vezes já se flagrou matando
alguém, como galinha preparada para molho pardo ou cabidela, torcendo lentamente
o pescoço de criminosos bárbaros, desalmados, praticantes de delitos hediondos
neste país, mas sofrendo penalidades pífias de aprisionamento (aqui não se pode
falar em prisão nesses casos) de até três anos, no máximo, quando se tratam de
menores de idade ou, no linguajar popular e policial, “de menor” como eles
declaram imediatamente após terem tirado brutalmente a vida de um pai de
família: Não me toca, cara! Sou “de menor” e sei meus direitos! E mais das
vezes gritando para chamarem um Juiz, um membro da Fundação Casa, do Conselho
Tutelar ou Pastoral da Criança, quando não a própria mãe, namorada, Pastor ou
Padre, servindo até um simples militante do PT pra ficar vigiando, por perto.
Não importa se tenham estuprado Gabriela e seu namorado por tortuosos três dias
com inimagináveis requintes de crueldade; ou arrastado João Hélio por
quilômetros para que despedaçasse seu
corpo como o Messala na corrida de quadrigas de Ben Hur; ou ainda estourado o
peito daquela menina linda a quem fora permitido fazer o primeiro passeio de metrô no Rio; ou
mesmo os esquartejamentos tão em voga nos últimos anos onde malas não mais
servem para conduzir singelas roupinhas mas cabeças, troncos e membros
devidamente separados. Nada funciona para frear essas bestialidades. Os
discursos oficiais, notadamente da neo-esquerda, já são há tempos conhecidos e
batidos: a ausência de educação de qualidade, nutrição e alimentação condignas
nos primeiros quatro anos de vida, de saneamento básico que melhore a higidez
física são causas estruturais e só podem ser combatidas pela “vontade política”
dos governantes implementando “políticas públicas” (gostaram dos dois jargões?
Só faltou acrescentar “agregando valor” aí minha opinião fica supimpa) nesse
campo que permitam oportunidades de trabalho e renda para criar um espectro de
real cidadania que são negados pelo Estado, não podendo a punição arrebentar no
lado mais fraco da corda: o menor infrator. Tudo se daria por bom, firme e
valioso se os governantes, em todos os níveis e poderes da Federação,
permitissem que as verbas chegassem nas pontas desses sistemas e irrigassem de
qualidade e excelência a salvação de toda uma geração já perdida. Contudo, a
corrupção suga TUDO! Praticamente nada sobra para os câmbios profundos
reclamados, restando-nos pedir imediatas mudanças meramente conjunturais mas
nem essas se fazem. A hipocrisia oficial vocifera contra a diminuição da
maioridade penal. Os deuses do Supremo Tribunal Federal cruzam os céus da mídia
para afirmar que nenhuma decisão daquele Excelso Pretório pode ser influenciada
pelo clamor das ruas. Claro que qualquer membro do Judiciário brasileiro apenas
concordaria em se enternecer ou, o que é mais difícil, se revoltar contra essas
barbáries (principalmente arrancar cabeça dos outros a 150 km/h, num delito de
trânsito, ao qual eles querem negar a categoria de CRIME, turbinado por um
litro ou dois de Vodka) quando o filho ou filha, neto, esposa ou marido, fosse
DELES! Aí certamente viriam ao Fantástico defender a pena de morte. É a velha
história de que pimenta no.......olho dos outros é refresco de maracujá doce,
mesmo sendo o olho que nos guarnece a cara. Quase todos os que se envolvem
nessa discussão de maioridade penal, quer sejam políticos, governantes, acadêmicos,
especialistas ou pesquisadores parecem partir de um princípio de que, nas
democracias mais antigas e firmes do mundo, não se costuma regredir a idade
para prover punições. PURA FALÁCIA facilmente desmentida pelo Google. Nas
democracias juvenis da América do Sul é que essa brincadeira parece vicejar, se
não, vejamos: Brasil, Colômbia e Peru têm suas maioridades fixadas aos 18 anos.
Na Argentina, pouco mais “civilizada”, desce para 16. Na América do Norte, no
México americanalhado que seja, essa idade varia entre seis e 12 anos (relativa
e absoluta, conforme a gravidade do delito, parecendo ser essa a tendência
universal); já nos USA 13 Estados legislam entre seis e 12 anos e os demais
usam normas costumeiras mantida a paridade com os Estados que fazem leis
específicas. Vamos à Europa mais civilizada: Alemanha, 14; Escandinávia, 15;
França, 13; Itália, 14; Polônia 13; Reino Unido, com sua primeira constituição
mundial escrita em 1215 (A Carta Magna), a Inglaterra e o País de Gales, 10
enquanto a Escócia, OITO ANOS DE IDADE. Vamos ver dois ex-comunistas ferrenhos:
Rússia, 14 e Ucrânia, 16. E na China, comunista atual: 14 admitida a pena
perpétua para crimes hediondos. Será diferente no mundo Islâmico? Turquia, 11;
Bangladesh, 7 e o Irã dos amigos do Lula, 15 anos para os homens e nove para as
pobres e belíssimas iranianas. Para encerrar esta parte, vamos ver uma região
pelo menos esquisita, a Groenlândia: seis anos. Porra, então nada tem a ver
entre a qualidade da Democracia, a profundidade da tirania, a insanidade dos
estados religiosos, a seriedade de estados laicos e a distância de regiões
remotas e as altas idades como a adotada para o Brasil, protegendo sua massa
disforme de menores infratores, melhor dizendo, refinados e perversos
bandidinhos de calças curtas. A culpa é deles? Certamente não! É sua? Também
não! Então de quem é? Dos corruptos que não permitem a chegada das verbas aos
locais onde se poderia dar soluções estruturais de longos prazo e alcance, para
a questão. Vista por outro ângulo, o da punição, o quê realmente significa, no
Brasil, uma pena? As penas, desde a antiguidade clássica, servem para castigar
o infrator com a sua segregação social, fato que o impede de delinquir naquele
período; servem também para tentar inibir a criminalidade dos outros embora
pesquisas científicas nos USA não consigam ligar a implantação de pena de morte
e a diminuição dos índices de criminalidade em determinados Estados. Aqui no
Brasil, o eterno país do sonho, os sociólogos como FHC e antropólogos como
Roberto da Matta e outros educadores geniais como Anísio Teixeira, Josué de
Castro e Darcy Ribeiro, dão maior importância ao caráter de recuperação,
ressocialização e reinserção dos delinquentes no meio social de onde foram
retirados. Quanta quimera, meu Deus! Visite uma, só uma PENITENCIÁRIA COMUM
BRASILEIRA e verá que ali está uma masmorra medieval sem qualquer possibilidade
de reabilitar uma barata ou escorpião que lhe habite os esgotos, quanto mais
seres humanos, notadamente os mais “preparados” com pós-graduação lato sensu na Fundação Casa e que já foi
chamada de SAM, FUNABEM e FEBEM, como se a troca de nomes mudasse atitudes,
culturas e valores arraigados no tempo. Claro que parecerá que não tenho
soluções. A chave do cofre da Viúva não é minha; pouco posso intervir nas
políticas públicas para o Setor; só consigo vociferar contra a corrupção. Então
o quê fazer? Reconhecer que essa e a próxima geração estão praticamente
perdidas; endurecer as penas para os responsáveis pela geração desse desmando:
maus políticos, maus gestores e maus juízes. Não digo adoção de pena de morte
pois todos morreremos um dia e, logo, morrer não é punição. Pena dura é a
perpétua sem progressão ou condicional. Saber que qualquer crime lesa Estado
levará o autor a morrer na penitenciária e que se danem os pregadores dos “direitos
humanos” de bandidos de qualquer idade, negando aos assassinados os mínimos
direitos de sobrevivência na hora fatídica na qual essas “crionças” puxam o
gatilho inapelavelmente. Aí já foram as vidas e, com elas, não só sonhos,
projetos mas também tributos que geram recursos par manter os seus algozes.
Óbvio também melhorar todas as condições de saúde, educação e geração de renda
para MINORAR os males. Descer a maioridade penal a níveis mínimos, 10 ou 12
anos, por exemplo, idade de muitos chefes de gangues nos morros cariocas, com
prisão perpétua para a prática deliberada de crimes de sangue de forma
hedionda. Pode descer o malho em mim, notadamente por minha insensibilidade com
as crianças. Só peço a Deus que jamais ocorra em sua vida um episódio como do
João Hélio, pois aí suas convicções humanistas vão pra puta que nos pariu e
você vira o maior carrasco a ponto de fazer corar de vergonha o mais cruel dos
verdugos do tempo do Terror, após a Revolução Francesa. Simples assim!
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