Na manhã de um dia que nem me lembro, do ano da Graça do
Senhor, de 1995, o mundo perdia um de seus mais proeminentes filósofos
populares, aos 72 de idade: Ibrahim Sued, ou apenas O Turco, para todos. Era um
cara alto e muito bonito, olhos de um verde de mar do Caribe extremamente
inteligente mas com a cultura de uma ostra nunca aberta. Tropeçava nas palavras
e alimentava, como poucos, o anedotário carioca desde o início dos anos 50. A
verdade é que, de um furador de festas e frequentador dos “serenos” dos mais
importantes acontecimentos sociais da então capital brasileira, Ibrahim surgiu
para a vida em um golpe de sorte. Visitava o Brasil o então Presidente norte-americano
o Gen. Eisenhower. Sem coisa alguma pra fazer, Ibrahim muniu-se de uma câmera
fotográfica e foi ao Palácio Monroe, sede do Senado, assistir à solenidade com
o Presidente americano. Terminada a cerimônia, quase todo mundo já tendo se
retirado e NENHUM jornalista presente, Ibrahim ficou por perto fuçando até que
o prestigiadíssimo político brasileiro Otávio Mangabeira dirigiu-se à mesa e o
corpulento General abaixou-se ao lado do móvel e lhe estendeu a mão direita
para o cumprimento. Ato contínuo, Mangabeira puxa a mão do americano e
tasca-lhe o maior beijo. Ibrahim, por ironia do destino, estava com câmera
ligada e pipocou o flash: eternizou o maior ato explícito de subserviência ao
capitalismo americano perpetrado por um representante do povo de uma
republiqueta de bananas, tal o caso do Brasil na época e, por óbvio, vendeu a
foto para TODAS as mais prestigiadas agências de notícias do mundo e, no
Brasil, para o Jornal O Globo, de Roberto Marinho. No outro dia, ganhou emprego
no Jornal O Globo, onde fundou a mais lida Coluna Social do país, à qual chamou
de Zum Zum (em homenagem ao Clube dos Cafajestes, onde participava a fina flor
da boêmia carioca, e o Turco no meio). Ibrahim chegou a sentar na Bancada do
Jornal Nacional junto às vozes eternas de Heron Domingues, Hilton Gomes, Orlando
Majestade e Cid Moreira. Fazia uma rápida entrada para dar o que ele chamava,
aos gritos de: furo, fuuuro ou bomba, boooomba! Tropeçava tanto no idioma que
nem o seu histrionismo pôde ser respeitado e foi defenestrado junto com a
subida do padrão Globo de qualidade. Consta que o JN perdeu audiência, fato que
obrigou a Globo a incluir outras atrações no noticiário como Ziraldo, Juarez
Machado, João Saldanha e, mais tarde, Chico Caruso. Aparecer em sua coluna era
o top de linha do marketing pessoal. Incrível para um homem de tamanha
dificuldade de comunicação. Criou eventos fantásticos como os Desfiles da
Bangu, recrutando manequins entre as damas do soçaite carioca. Espantoso como
conseguiu essa façanha num país machista e, ainda, contando com a participação
da Fábrica de Tecidos Bangu (patrono do clube de futebol de igual nome) e
dirigida por Guilherme da Silveira (o Silveirinha), rei do Rio, bicheiro maior
e pai de Castor de Andrade. Suas expressões, escritas na coluna ou ditas em
programas de TV, são imortalizadas no Aurélio: High Soçaite (formado pelos
ricos tradicionais), Café Soçaite (formado pelos novos ricos), Cervejota e
Champanhota (conforme o evento fosse mais ou menos sofisticado); Sorry,
periferia; Ademã que eu vou em frente. Alguns ditos foram definitivamente
incorporados à língua portuguesa falada no Brasil: Rebu (acontecimento que gera
confusão), os cães ladram e a caravana passa (muitas vezes falado “os cães
dralam....” no meio do JN), cavalo não desce escada e, o mais emblemático de
todos: não convidem para a mesma mesa fulano e sicrano, criada em 1957.
Enveredou-se em negócios que sempre davam muito dinheiro e depois murchavam ou
desapareciam: com Ronaldo Bôscoli criou uma fábrica de Whiskey nacional com a marca
House of Lords, conhecida como a maior gênesi de enxaquecas do Brasil. Montou,
com Bibi Ferreira, uma majestosa encenação teatral do clássico de Hollywood “My
Fair Lady”, com mais de cem figurantes no palco. Procurou “seu” Roberto para
completar a grana e este negou. Mas compareceu à avant-première e vaticinou:
Vais ganhar muito dinheiro! E o Turco ganhou, demais. Mas a velocidade da
entrada era a mesma da saída e assim Ibrahim fui curtindo a vida até morrer de
repente. Uma parte imponente de sua biografia diz respeito às suas “comidas de
carnaval”. Atrizes famosas trazidas pela revista “O Cruzeiro” para passar o
carnaval no Rio e que imortalizaram a cama do Turco em sua suíte no Copa:
Marylin Maxwell, Ava Gardner, Louella Parsons, Gina Lollobrigida, Jayne
Mansfield e, dizem até que Kirk Douglas, Tony Curtis e Burt Lancaster,
bissexuais famosos, visitaram seu leito. O mais sensacional, contudo, ficou
conosco: o farto anedotário em torno de sua figura. Afirmam que uns são
lendários mas outros, fatos consumados com testemunhas, como sua total ignorância
em idiomas, apesar de se meter a falar inglês daquele tipo: Me Tarzan, you
Jane! Na primeira vez que esteve em NYC se perdeu. Ligou para o Consulado do Brasil
e a atendente lhe perguntou em que altura de Manhattan ele se encontrava, ao
que ele respondeu: Entre as ruas One Way e Don’t Walk! Quando a rainha da
Inglaterra visitou o Brasil nos anos 60, teve que vir a Brasília (cidade que
detestava por haver roubado do Rio a condição de Capital do país). Consta que
por muita sacanagem dos pomposos Ministros do Itamaraty, putos com os Generais,
foi o Turco colocado ao lado do Príncipe Phillip, Duque de Edimburgo. A folhas
tantas, cansado de ouvir tantos “nós vai e agente fumo” no inglês Ibrahmico
perguntou ao colunista sua opinião sobre Brasília o que o deleitou a responder:
Brasília es lá citá where is situê the Capital of Brazil, ao que o Duque teria
comentado para o vizinho do outro lado: I will be a circus monkey riding a
horse if this idiot is not the famous Ibrahim Sued! Para encerrar, a mais incrível piada sobre o Turco: Ao morrer
ele foi para o céu e, recebido por São Pedro, foi encaminhado ao Setor dos Colunistas
Sociais. Reclamou com o arcanjo que o levou, pois insistia em ser levado para o
Setor dos Filósofos. Tanto encheu o saco que São Gabriel retornou para São Pedro
e expôs o seu pleito. O porteiro do céu, com pena de Ibrahim mas vendo suas
falhas de vernáculo e ideias truculentas e pouco cultas, deu tratos à bola acerca
de qual o filósofo que escolheria para dividir o quarto com Ibrahim, até se
decidir sobre Confúcio (nosso Kung Fu Tsé) o filósofo da paciência. Dito e
feito. No fim da tarde Pedro, preocupado em como estariam as coisas no Setor,
pediu a Gabriel para dar uma checada. Quando se aproximou da alameda da Paz, o
Arcanjo ouviu que o chinês falava em voz muito alta para seu costume; na verdade
ele gritava! Apurou bem o ouvido a ponto de compreender o que tanto Confúcio
falava: “Não Iblahim, nãããããããão! Suruba não é carro japonês, via de regra não
é o caminho da menstruação das mulheres, ano santo nãããããão ééééé o cu do Papa
e...........Pafúncio..........Pafúncio, Iblahim........É A PUTA QUE TE PARIU! Simples
assim!
Deve ter sido realmente uma figura interessantíssima!!!
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