segunda-feira, 9 de julho de 2012

Bom dia para Ibrahim Sued


Na manhã de um dia que nem me lembro, do ano da Graça do Senhor, de 1995, o mundo perdia um de seus mais proeminentes filósofos populares, aos 72 de idade: Ibrahim Sued, ou apenas O Turco, para todos. Era um cara alto e muito bonito, olhos de um verde de mar do Caribe extremamente inteligente mas com a cultura de uma ostra nunca aberta. Tropeçava nas palavras e alimentava, como poucos, o anedotário carioca desde o início dos anos 50. A verdade é que, de um furador de festas e frequentador dos “serenos” dos mais importantes acontecimentos sociais da então capital brasileira, Ibrahim surgiu para a vida em um golpe de sorte. Visitava o Brasil o então Presidente norte-americano o Gen. Eisenhower. Sem coisa alguma pra fazer, Ibrahim muniu-se de uma câmera fotográfica e foi ao Palácio Monroe, sede do Senado, assistir à solenidade com o Presidente americano. Terminada a cerimônia, quase todo mundo já tendo se retirado e NENHUM jornalista presente, Ibrahim ficou por perto fuçando até que o prestigiadíssimo político brasileiro Otávio Mangabeira dirigiu-se à mesa e o corpulento General abaixou-se ao lado do móvel e lhe estendeu a mão direita para o cumprimento. Ato contínuo, Mangabeira puxa a mão do americano e tasca-lhe o maior beijo. Ibrahim, por ironia do destino, estava com câmera ligada e pipocou o flash: eternizou o maior ato explícito de subserviência ao capitalismo americano perpetrado por um representante do povo de uma republiqueta de bananas, tal o caso do Brasil na época e, por óbvio, vendeu a foto para TODAS as mais prestigiadas agências de notícias do mundo e, no Brasil, para o Jornal O Globo, de Roberto Marinho. No outro dia, ganhou emprego no Jornal O Globo, onde fundou a mais lida Coluna Social do país, à qual chamou de Zum Zum (em homenagem ao Clube dos Cafajestes, onde participava a fina flor da boêmia carioca, e o Turco no meio). Ibrahim chegou a sentar na Bancada do Jornal Nacional junto às vozes eternas de Heron Domingues, Hilton Gomes, Orlando Majestade e Cid Moreira. Fazia uma rápida entrada para dar o que ele chamava, aos gritos de: furo, fuuuro ou bomba, boooomba! Tropeçava tanto no idioma que nem o seu histrionismo pôde ser respeitado e foi defenestrado junto com a subida do padrão Globo de qualidade. Consta que o JN perdeu audiência, fato que obrigou a Globo a incluir outras atrações no noticiário como Ziraldo, Juarez Machado, João Saldanha e, mais tarde, Chico Caruso. Aparecer em sua coluna era o top de linha do marketing pessoal. Incrível para um homem de tamanha dificuldade de comunicação. Criou eventos fantásticos como os Desfiles da Bangu, recrutando manequins entre as damas do soçaite carioca. Espantoso como conseguiu essa façanha num país machista e, ainda, contando com a participação da Fábrica de Tecidos Bangu (patrono do clube de futebol de igual nome) e dirigida por Guilherme da Silveira (o Silveirinha), rei do Rio, bicheiro maior e pai de Castor de Andrade. Suas expressões, escritas na coluna ou ditas em programas de TV, são imortalizadas no Aurélio: High Soçaite (formado pelos ricos tradicionais), Café Soçaite (formado pelos novos ricos), Cervejota e Champanhota (conforme o evento fosse mais ou menos sofisticado); Sorry, periferia; Ademã que eu vou em frente. Alguns ditos foram definitivamente incorporados à língua portuguesa falada no Brasil: Rebu (acontecimento que gera confusão), os cães ladram e a caravana passa (muitas vezes falado “os cães dralam....” no meio do JN), cavalo não desce escada e, o mais emblemático de todos: não convidem para a mesma mesa fulano e sicrano, criada em 1957. Enveredou-se em negócios que sempre davam muito dinheiro e depois murchavam ou desapareciam: com Ronaldo Bôscoli criou uma fábrica de Whiskey nacional com a marca House of Lords, conhecida como a maior gênesi de enxaquecas do Brasil. Montou, com Bibi Ferreira, uma majestosa encenação teatral do clássico de Hollywood “My Fair Lady”, com mais de cem figurantes no palco. Procurou “seu” Roberto para completar a grana e este negou. Mas compareceu à avant-première e vaticinou: Vais ganhar muito dinheiro! E o Turco ganhou, demais. Mas a velocidade da entrada era a mesma da saída e assim Ibrahim fui curtindo a vida até morrer de repente. Uma parte imponente de sua biografia diz respeito às suas “comidas de carnaval”. Atrizes famosas trazidas pela revista “O Cruzeiro” para passar o carnaval no Rio e que imortalizaram a cama do Turco em sua suíte no Copa: Marylin Maxwell, Ava Gardner, Louella Parsons, Gina Lollobrigida, Jayne Mansfield e, dizem até que Kirk Douglas, Tony Curtis e Burt Lancaster, bissexuais famosos, visitaram seu leito. O mais sensacional, contudo, ficou conosco: o farto anedotário em torno de sua figura. Afirmam que uns são lendários mas outros, fatos consumados com testemunhas, como sua total ignorância em idiomas, apesar de se meter a falar inglês daquele tipo: Me Tarzan, you Jane! Na primeira vez que esteve em NYC se perdeu. Ligou para o Consulado do Brasil e a atendente lhe perguntou em que altura de Manhattan ele se encontrava, ao que ele respondeu: Entre as ruas One Way e Don’t Walk! Quando a rainha da Inglaterra visitou o Brasil nos anos 60, teve que vir a Brasília (cidade que detestava por haver roubado do Rio a condição de Capital do país). Consta que por muita sacanagem dos pomposos Ministros do Itamaraty, putos com os Generais, foi o Turco colocado ao lado do Príncipe Phillip, Duque de Edimburgo. A folhas tantas, cansado de ouvir tantos “nós vai e agente fumo” no inglês Ibrahmico perguntou ao colunista sua opinião sobre Brasília o que o deleitou a responder: Brasília es lá citá where is situê the Capital of Brazil, ao que o Duque teria comentado para o vizinho do outro lado: I will be a circus monkey riding a horse if this idiot is not the famous Ibrahim Sued! Para encerrar,  a mais incrível piada sobre o Turco: Ao morrer ele foi para o céu e, recebido por São Pedro, foi encaminhado ao Setor dos Colunistas Sociais. Reclamou com o arcanjo que o levou, pois insistia em ser levado para o Setor dos Filósofos. Tanto encheu o saco que São Gabriel retornou para São Pedro e expôs o seu pleito. O porteiro do céu, com pena de Ibrahim mas vendo suas falhas de vernáculo e ideias truculentas e pouco cultas, deu tratos à bola acerca de qual o filósofo que escolheria para dividir o quarto com Ibrahim, até se decidir sobre Confúcio (nosso Kung Fu Tsé) o filósofo da paciência. Dito e feito. No fim da tarde Pedro, preocupado em como estariam as coisas no Setor, pediu a Gabriel para dar uma checada. Quando se aproximou da alameda da Paz, o Arcanjo ouviu que o chinês falava em voz muito alta para seu costume; na verdade ele gritava! Apurou bem o ouvido a ponto de compreender o que tanto Confúcio falava: “Não Iblahim, nãããããããão! Suruba não é carro japonês, via de regra não é o caminho da menstruação das mulheres, ano santo nãããããão ééééé o cu do Papa e...........Pafúncio..........Pafúncio, Iblahim........É A PUTA QUE TE PARIU! Simples assim!    

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