Ah, de volta para o
futuro. Nada mais difícil, obviamente, do que fazer previsões para o futuro.
Não que inexistam profetas de verdade e adivinhos de toda a ordem. O problema é
o percentual de acertos. Na Israel dos templos bíblicos havia muitos profetas;
contudo, para que o povo tivesse a certeza de que expressavam a vontade de
Jeová, teriam que acertar TODAS as previsões, afinal, Deus não erra! Se
houvesse um único e escasso vacilo, o dito cujo era apedrejado até a morte no
ato da constatação da falha. A ciência estatística é muito utilizada para
tentar se perscrutar o amanhã mas é um método muito falho e logo explico
porque. Me divirto muito quando colunistas esportivos e repórteres de apoio
começam a descerrar um palco de dados pretéritos: o time tal não perde neste
campo há 30 anos (claro, cacete, ele só jogou lá uma vez). Tal esquadrão é
favorito! Por quê? Tem mantido uma invencibilidade de tantos jogos. Aí, na hora
da verdade, toma uma porrada de cinco! Ora, o passado nada significa como
hipótese para desenhar o futuro. Teve tempo que isso era quase plausível: na
chamada era da continuidade onde os passos que traziam a humanidade de ontem
para hoje seriam os mesmos que a levariam ao amanhã. Isso possibilitava, com
uma certa tranquilidade e folga, a criação de paradigmas muito fortes e
arraigados. Um paradigma pode ser descrito como um padrão, modelo ou forma.
Pode ser entendido, também, como uma estrutura aceita como forma usual para
conduta das entidades (indivíduos e organizações) na solução de seus problemas
e dificuldades. É, portanto, um instrumento fundamental no auxílio à solução
desses entraves, por constituir uma ferramenta de decodificação do problema
para um ambiente mais reconhecível. Funcionando como uma lente absolutamente
transparente que nos permite VER o mundo de uma forma personalíssima,
inquestionável e clara, nos acostumamos e adaptamos aos paradigmas de tal
maneira que, paradoxalmente, eles geram em nós sensações de INVISIBILIDADE
(quanto às realidades não detectadas pela “lente”) e de impossibilidade de entender outras realidades que nos cercam,
considerando o nosso nível de adaptabilidade às “verdades” paradigmáticas. Se
você usa óculos desde criança, certamente não perceberá que está com eles na
cara quando entrar no banho algumas vezes. Claro, os outros percebem seus
óculos melhor que você próprio. Eles são o paradigma pelo qual você enxerga e
interpreta o mundo. Martin Heidegger, filósofo alemão, afirma que o mais
próximo é o mais difícil, ou seja, quanto mais você se envolve pelo paradigma,
mais difícil se torna percebê-lo e, pior ainda, superá-lo. A partir da primeira
guerra mundial e, notadamente após o fim da segunda, o mundo passou por
transformações tão fantásticas, notadamente em ciência e tecnologia, que a
humanidade começou a viver uma era de descontinuidade onde, diferente do que
foi afirmado antes, as estatísticas passaram a pouco significar como base para
decisões sobre tudo. As quebras constantes de paradigmas universais fazem com
que os passos dados anteriormente nada signifiquem para os caminhos futuros.
Ora, acostumada à tranquilidade da vida de antes dessa explosão de novas
verdades, parece que só pessoas nascidas sob paradigmas mais recentes conseguem
perceber e reagir, a tempo, à descontinuidade das coisas. Exemplos antológicos
e emblemáticos de como os paradigmas agem sobre as pessoas encontram-se na
história e com facilidade, notadamente sobre a quebra de padrões há muito cristalizados.
Nenhuma fábrica de diligências do velho oeste se transformou em fábrica de
carros. Não há notícia sobre fabricantes de ônibus terem feito um ônibus
espacial e assim por diante. O filme sonoro, o uso de aeronaves em guerras, a
propagação da imagem pela televisão foram alguns fatos históricos que passaram
despercebidos pelas mentes mais brilhantes de antanho. O próprio desenvolvimento
da física quântica desnorteou verdades científicas adrede fixadas. Nada existe na realidade! O que há é só percepção
e depende do ângulo de análise do observador. Isto foi comprovado nos
experimentos da Caixa de Eisemberg e na discussão sobre o caráter da luz:
partícula ou onda (discussão que pôs em frentes diferentes Isaac Newton e o
universo da física Euclidiana e a Teoria da Relatividade de Einstein)? Colocaram,
na frente de uma fonte emissora de luz, dois tipos de receptores: um para
partículas e outro para ondas. O resultado foi que ambas as hipóteses quedaram
comprovadas: tanto os receptores de partículas como o de ondas, foram
sensibilizados. Isto é, a realidade das coisas depende de quem observa. O som
existe? Claro que não! Ele só existirá se houver, no raio correto de percepção,
estruturas como, por exemplo, os ouvidos humanos para registrarem-no. Sem ouvidos
não há som! Sem percepção, não existe a realidade! Porra, imagina o que isso
tem feito na cabeça dos seres humanos! Em suma, mal se esgota um paradigma e
logo um outro já está se acabando. Como ser professor, administrador, analista
ou qualquer profissional que lide com o ambiente (ou seja, todas as profissões)
em uma realidade cuja única coisa que parece existir é a mudança. Não há
portos. É uma viagem sem fim, sem chegada. Um Ulisses que nunca atingirá Ítaca;
um caminhar eterno no fio de uma navalha. Nesse diapasão, para imaginar como
será o futuro, coisa muito simples para a Miriam Leitão e todos os economistas,
basta imaginar que tudo o que se fará real ou perceptível amanhã, é uma coisa
que você não pode imaginar aos padrões de hoje. Aí você não precisa só ser um profeta
de fatos mas um antecipador de paradigmas e isso me soa quase impossível. Afinal,
veja só o que falou G. Duell, Diretor do Instituto Americano de Patentes, em 1899:
Tudo o que pode ser inventado já foi inventado! Ou, ainda melhor, um comentário
feito na prestigiada revista americana de showbiz Veriety, em março de 1956:
Até julho, sai de moda! Referia-se ao rock’n roll. Quanto acerto, hem? Simples
assim!
Texto nota 10, mano velho!!!
ResponderExcluirCongrats!!!
Eu acho sensacional essa aula sobre paradigmas....além de remeter às nossas conversas (e àqueles cursos que você deu na Difusora, quando pela primeira vez tive contato com a palavra), me lembra ainda o Tio André tentando me explicar - cientificamente - o que ele significava...boas lembranças!
ResponderExcluirAliás, ter boas lembranças é um paradigma que eu NÃO quero quebrar! Sensacional esse texto, papai!
E que bom que o editor da revista estava errado...
papai, eu também adorei esse post!
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