Ah essas maravilhosas Olimpíadas.
Nunca, em tempo algum, foram os Jogos Olímpicos uma salutar disputa restrita ao
romântico campo desportivo. Os Jogos em si simbolizavam uma cruenta luta
intestina para dominar a cultura helênica no ambiente nacional além de
reafirmar a superioridade eugênica dos Gregos, congregados pela política do
Pan-helenismo. Eram verdadeiras lutas por recordes que travavam, desde 776
a.C., atletas das principais cidades da Grécia como Tebas, Corinto, Delfos,
Argólio e Esparta, sendo os jogos mais importantes os realizados em Olímpia,
povoado perto de Atenas, em homenagem a Zeus. Isso também se estendia às
colônias helênicas insulares, compondo uma forma “salutar” de afirmar a cultura
Grega. O já gasto chavão sobre a importância da competição, sobrepujando a
busca pela vitória e defendido pelo romântico Barão Pierre de Coubertin, muito
cedo foi cedendo terreno a inconfessos interesses geopolíticos internacionais,
seguidos da ambição econômica a quem sempre estão aqueles atrelados. Trazidos
de volta à modernidade em 1896, na mesma Atenas da História, logo as Olimpíadas
começaram a desnudar a falência de qualquer sentimento de amadorismo e muita
hipocrisia rolou debaixo dessa ponte. O índio apache norte-americano Jim Thorpe,
o primeiro superatleta a ganhar, em Estocolmo 1912, o ouro no Pentatlo e
Decatlo, teve cassadas suas medalhas pelo fato de haver jogado beisebol em
campinhos de beira de estrada, em troca de pratos de comida, morrendo miserável
e esquecido. Foi acusado de PROFISSIONALISMO! Esse mesmo preciosismo certamente
não impediu a brutal politização dos Jogos de Berlim, em 1936, onde Hitler
utilizou, já àquela época, o marketing gratuito (a cerimônia de abertura foi o
primeiro evento a ser transmitida pela TV para outros países através do sistema
de micro-ondas) para ufanizar o mito da supremacia ariana, além de aproveitar o
ensejo para reafirmar o Nacional-Socialismo na própria Alemanha e resto da
Europa já cooptado. O marcial rufar dos tambores, os símbolos, estandartes,
brasões e saudações nazistas, as imensas concentrações e troar das botas
mancharam o Estádio Olímpico de Berlim levando simpatizantes europeus e no
resto do mundo, ao orgasmo (não psicológico mas gozo físico mesmo). Depois
viu-se no que isso deu, levando a humanidade a enfrentar a maior hecatombe
jamais presenciada. Passada a mortandade, logo os Jogos foram retomados a
partir de Londres, em 1948, repisando seu caráter de estandarte político (muito
ao estilo do PT de hoje), seguindo e aprofundando a dicotomia dos sistemas
capitalista ocidental e socialista euro-asiático. A supremacia norte-americana
começou a ser posta em xeque pelos atletas da União Soviética e seus países
satélites do leste europeu já que o rompimento com a China de Mao já se
avizinhava. Mas tudo seria aceitável se não mexessem com os judeus, aliás
olimpicamente inoperantes. O mundo extrafronteiras do Oriente Médio jogava a
sujeira da mortandade derivada do conflito árabe-israelense desde a Primeira
Guerra Mundial (com todo o romantismo britânico de Lawrence da Arábia),
literalmente para baixo do tapete. Parecia que eventos dramáticos como a Guerra
de Suez ou dos Seis Dias pouco importavam para o futuro do mundo. Obviamente
esse pano-de-fundo foi trocado quando o drama desenrolou-se em outro palco e seis
treinadores e cinco atletas israelenses foram mortos pelos terroristas do
Setembro Negro, em Munique, 1972, alguns dentro da Vila Olímpica e outros no
Aeroporto. A propalada inviolabilidade do solo olímpico e o caráter de união
dos povos foram solapados e os Jogos assumiram abertamente seu caráter de
propaganda dos dois sistemas em disputa. Os Estados Unidos boicotaram os jogos
de Moscou em 1980 e os Soviéticos retaliaram na mesma moeda nos Jogos de Los
Angeles, em 1984. Países nas zonas de interesse de ambas as potências como
Inglaterra, Canadá, Irlanda do Norte, Coréia do Norte, Vietnã, Cuba etc.
seguiram seus líderes. Estava exposto o engodo poético que sempre envolveu os
Jogos como o mais importante evento esportivo do mundo e os acontecimentos se sucederam
em cascata: as formas de doping foram se sofisticando na busca de super-homens
e supermulheres que justificassem a liderança de um ou outro sistema
político-econômico. A Alemanha Oriental criou hormônios sutis para feminilizar homens ou masculinizar
mulheres e que pulverizavam recordes diuturnamente a partir das Olimpíadas de
Montreal, em 1976. Florence Griffith Joyner (Flo-Jo) bela americana que destruiu
os recordes a partir de Seul 1988, nos 100 e 200 metros rasos, sucumbiu ainda
jovem e linda, aos 38 anos, com o cérebro paralisado de tantos hormônios. Suas
marcas duraram anos mas sua vida acabou, assim como aquela imagem de coxas de
halterofilista homem. Será que alguém lembra aquela deusa negra ainda hoje? O
canadense Bem Johnson e recentemente a “maravilha do ciclismo” Lance Armstrong
, reconheceram estarem dopados quando de suas conquistas. A certa época, com o
fim da União Soviética e países de influência no leste europeu, parecia que o
fim da dicotomia enterraria essa insanidade junto com ela. Esqueceram que a
China assumiria a dianteira esportiva da propaganda de regimes políticos, mesmo
dependendo a supremacia de um sistema híbrido: comunista para a vida
sócio-política e capitalista para a econômica. Pelo menos parece que estão
satisfazendo a Gregos e Goianos. A verdade é que as máscaras definitivamente
caíram e os jogos assumiram abertamente sua condição de vitrine de tudo o que
se possa vender, no mundo inteiro, entre produtos, serviços, processos e
tecnologias. . O véu de Olympia foi retirado e revelada abertamente a função
das Olimpíadas: propaganda exatamente como a concebeu Joseff Goebbels há 80
anos. Como reparo, é de citar uma outra inconfessa função dos Jogos Olímpicos
como, por exemplo, no caso brasileiro, enriquecer os apaniguados de sempre,
aqueles mesmos que todos sabem quem são mas ninguém revela. Aliás, acessei uns
dados imponentes a esse respeito. As verbas públicas do Comitê Olímpico
Brasileiro são de 389 milhões de reais (aí não se incluem os mega patrocínios
públicos e privados na entidade e dos atletas, do tipo Petrobrás, Vale,
Coca-Cola etc.). Desse butim, 55% vão para, pasmem, manutenção da entidade e
organização de eventos. E ficamos nós torcendo pela Mürer que se negou a pular,
com pavor da russa, em duas Olimpíadas seguidas; pelos pobres garotos do
futebol; pela Maurren Maggi que neste ano só tinha marcas de pulador de poças d’água
e para o Bernardinho, com 23 a 19 no placar, enfiar o Giba no time para se despedir
com o ouro e desmonta a equipe numa final olímpica. Eu morro de pena do Nuzmann, e do povo brasileiro. Simples assim!
Perfeita análise sobre as Olimpíadas. Até o Rio-2016, quando veremos mais do mesmo!
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