sábado, 24 de agosto de 2013

TIMES, TÉCNICOS E GÊNIOS!

Sei que futebol, principalmente hoje, não é um assunto que desperta o mesmo interesse de alguns anos atrás, no Brasil mais ainda. Estou vendo a enorme dificuldade do Bayern Munchen, time treinado pelo admirado e babado, Pep Guardiola, para vencer o Nurenberg, como tivera pra bater o Frankfurt por magro 1 a 0. Com isso confirmo, para mim mesmo, a tese de que não são os técnicos que fazem os espetáculos mais maravilhosos em todos os tempos, nem são também os grandes timaços mas OS GÊNIOS, às vezes um solitário ET que compunha esse triângulo. A crítica nacional e internacional bajulava Guardiola como o arquiteto dos espetáculos inesquecíveis do  Barcelona. Tanto que os alemães mo levaram para treinar o campeão europeu, a peso de ouro. Não, amigos e amigas, não era Guardiola o responsável por aquele show de tantas temporadas, como também não era o mágico time onde pontificavam Iniesta, Chabi, Davi Villa, Fabregas, Pique e outros excelentes coadjuvantes. O responsável por isso tudo era MESSI, o maior gênio em atividade nos campos de futebol. Quando saia Messi o Barcelona jogava pedrinha em mangueira. O grande Santos tinha um time mágico onde pontuavam Carlos Alberto, Rildo, Djalma Dias, Gilmar, Zito, Mengálvio, Dorval, Coutinho e Pepe. Seu técnico chamava Lula (que azar do cara e a família permitiu um apelido que, anos mais tarde, pouco recomendaria), aliás nome que quase ninguém sabe ou se lembra. Mas tinha um plus excepcional chamado Pelé. Era ELE que fazia a diferença. Tirava Pelé e o time do Santos se mostrava um timaço mas incapaz de fazer as loucuras que só Pelé fazia. Tostão foi o gênio de uma máquina montada pelo Cruzeiro nos anos 60-70. Raul, Piazza, Dirceu Lopes, Evaldo, Natal, Hilton Oliveira eram excepcionais, mas quando saía o solista TOSTÃO o time virava um ótimo time. Será que alguém recorda o nome do Técnico daquele tima.o? Era Airton Moreira! Sem qualquer brilho ou importância na máquina que se movimentava em campo com muita dificuldade. O Botafogo do final dos anos 50 e começo dos 60 tinha Nilton Santos, o mesmo Rildo, Didi, Paulo Valentim, Quarentinha, Zagalo e depois Amarildo e Arlindo. Mas o solista da orquestra chamava GARRINCHA aquele que fazia o povo brasileiro rir. Mesmo que o técnico fosse o genial jornalista gaúcho-carioca de alma, João Saldanha, sem Garrincha o nosso Fogo era cinzas. O mesmo acontecia com o Real treinado pelo feiticeiro Helenio Herrera e com monstros mitológicos como Gento, Del Sol, Puskas e Suarez; sem Don Alfredo Di Stefano o Real era meio-time. O mesmo o Ajax de Rinnus Michels, sem Cruijff; a Inglaterra de Sir Alf Ramsey, campeã do Mundo em 66, sem Bobby Moore e Bobby Charlton; a Argentina de Narigon, e seus Valdano, Brown, Ruggiero e Burruchaga. Sem Maradona virava o Excombatentes do Pará. Portanto, Guardiola nem ninguém fará o Bayern se transformar no Barcelona. Isso só poderá acontecer se e somente se, o time alemão contratar MESSI. Simples assim!  

sábado, 17 de agosto de 2013

IDADE E TEMPO TÊM LIGAÇÃO?

Realmente não sei responder essa pergunta! Dou um exemplo de hoje. Vinha caminhando pela Av. Nazaré e ia cruzar a Joaquim Nabuco, uma rua estreita e pequena quando vi, à minha frente, um senhor baixinho, cabelos laterais muito brancos e calvo. Calculei sua idade entre 90 e 92 anos, pelo andar curtinho e muito claudicante. Vestia trajes bonitos e novos, para caminhar. Notei que ele titubeava ao tentar atravessar a rua pois não tinha faixa nem sinal e o fluxo vindo da Avenida é intermitente. Emparelhei com ele e falei: Me acompanhe que vou atravessar com o senhor! Ele me mediu de alto a baixo, apertando os olhinhos azuis, perscrutando se eu era do bem ou um assaltante, como se minha roupa bem arrumada e meus tênis novos dessem alguma certeza de bom caráter, nos dias de hoje. Mas ele concluiu sua análise com um sorriso de aprovação. Após alguma hesitação consegui levá-lo em segurança e eu também. Puxei conversa sobre a boa forma dele e ele, parando, me respondeu: Ah meu amigo, era para eu estar bem melhor mas tive tantas cirurgias, me curei de um câncer foram tantos os meus problemas que meus 85 dariam uma melhor aparência hoje! Aproveitei a parada e disse: Meu caro amigo, você tem 19 anos a mais que eu e como eu gostaria de chegar nessa idade, tendo tanto chão ainda para percorrer, com sua beleza, inteligência e voz firme. Prossegui: meu querido, todos os seus problemas foram falados no tempo passado. Você já passou pelo câncer, pelas cirurgias, pelos problemas e está aqui na minha frente contando a história; e eu que nem sei se ainda vou passar por isso tudo, ou melhor, se nem vou passar pois minha vida se finda antes. E conclui: Caro amigo, seu tempo é AGORA, sua vida mal começou e hoje é o primeiro dia do resto que você ainda tem a viver. Ele demorou a responder e eu pensei comigo, lá vem um senhor esporro, uma esculhambação por minha intromissão indevida nos assuntos alheios, principalmente dando ensinamentos a um velho de 85 anos. Eu estava redondamente enganado! Ele sorriu largamente e falou: Sabe que você está certo! Foi Deus que lhe colocou no meu caminho hoje. Muito obrigado! Disse andou mais três metros e parou na frente de um gradil que tinha um belo prédio por trás. Aí ele falou: é aqui que eu moro, abrindo o portão e brilhando os olhos: Muito obrigado, disse entrando! Me afastei chorando de emoção e gratidão a Deus por aquele momento estelar que acabara de viver, aquela chance única e imperdível de aprender, ensinar e, acima de tudo, louvar Meu Senhor por tudo que tenho! Na minha felicidade, nem ele perguntou nem eu falei nossos nomes. Para sempre ele será, para mim, o Anjo da Av. Nazaré que Deus me pôs no caminho para aprender a dar valor a tudo que conquistei, tenho e ainda vou conquistar! Simples assim!

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Para o mundo você é o que pensam de você!

Tenho umas trinta enormes caixas de papelão. Como contêm reminiscências de cerca de 55 anos de minha vida, num tempo sem informática, computadores ou internet, penso em deixar para os outros que mandem queimar tudo. Não tenho coragem para isso e vivo me visitando no passado. Por ser feriado em Belém, hoje, resolvi mexer umas caixas e, lá estava ele. Ele era um escrito feito por um aluno meu chamado Olavo, no longínquo julho de 2001, atendendo uma solicitação que sempre fiz aos alunos de cerca de 12 disciplinas diferentes que dei na Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade de Brasília. Pedia que se formassem os grupos (que aliás eram formados no primeiro dia de aula) e preparassem um trabalho, escrito à mão mesmo, de uma folha de papel, no máximo (frente e verso), respondendo uma pergunta única: Do que mais você gostou nas aulas de..... Aí mencionava o nome da Disciplina que, neste caso, chamava Organização & Sistemas. Quem falava do que gostou também criticava o que não gostou e eu aproveitava para fazer uma correção de rumo a cada semestre. Mas muitos elogios a mim eram feitos. Nunca dei muita ciência disso a terceiros por achar puro cabotinismo desnecessário no meio acadêmico. Mas agora, passados onze anos que saí da UnB o que esse jovem de uns cinquenta anos escreveu, merece ser imortalizado. O original assinado está comigo para qualquer comprovação. Aproveito e já salvo o texto para arquivo eletrônico. Desde que ouvi isso, lido na minha cara e na frente de uma turma de mais de quarenta alunos muito categorizados, acho que passei a me ver com olhos mais compassivos! Olavo explicou que pediu à turma de seis alunos que deixassem ele produzir sozinho a resposta e, de certa forma, "traiu" seu grupo mas sendo perdoado pela ovação que logo se seguiu:
Travei contato com a Administração no longínquo ano de 19765, em um curso de economia quando a maior parte dos colegas sequer tinha nascido - ou ainda eram embalados nos ventres maternos. O autor recomendado era o Chiavenatto - sei lá se esse era o nome. O professor estava em fim de carreira e ouvi-lo falar sem conhecimento de causa sobre Taylor e Faiol, era deprimente. Principalmente porque eu tinha outras ocupações que invariavelmente tomavam meu tempo, mesmo em sala de aula - ocupava-me de meus amores, das leituras de Garcia Marques e Pablo Neruda, a quem eu descobrira recentemente. Passei por todo esse tempo achando que tinha aprendido a fazer organograma e outros gramas e que isso era bastante. Cheguei até a aprender um pouco de O&M que tive oportunidade de colocar em prática. Nessa época, Chico Buarque cantava "quando eu nasci veio um anjo safado, um chato de um querubim e disse que eu estava predestinado a ser errado assim". Drummond já tinha escrito - "quando eu nasci um anjo torto me disse: vai Carlos ser gauche na vida". Passei o resto desse tempo tentando descobrir a quem os dois poetas se referiam da mesma forma. Finalmente encontro esse gauche, "esse operário das letras, líder sindical das palavras" no dizer do jornalista Ivan Lessa. Ou mais recentemente com Milton Nascimento "quem é esse viajante, quem é esse menestrel que espalha esperança e transforma sal em mel?" Doido???, idealista ??? Drummond já escreveu - os desiludidos do amor estão se matando, do meu quarto ouço a fuzilaria. Com certeza o Sérgio Barros não é desiludido nem fuzileiro, ao contrário. Teria ele ouvido Milton Nascimento cantar: toda vida existe para iluminar o caminho de outras vidas que a gente encontrar? Seja lá na Dinamarca ou aqui, sonhe um sonho solidário, faz crescer o amor diário, faz amigo em cada rua ou num bar?????? Sei não. Acho o Sérgio muito pirado, sua cabeça é uma viagem. Será que fumou muita maconha e o efeito ainda não passou??? Pode ser, talvez seja! Administrar é motivar pessoas - disse seu irmão. Dar aula é fazer o papel de influenciar e motivar. Papel, influência e motivação. Três palavras resumidas em duas - influência e motivação. Duas que podem ser resumidas em uma - motivação. Valeu Doutor Sérgio Barros. Mesmo sem apostila você passou a maior parte do tempo ensinando motivação. Ainda que tal não constasse do programa de ensino, esse foi o grande aprendizado que você passou. Você é doido - acha que precisa de apostila para ensinar motivação. Para usar um ditado do interior de Minas Gerais - é como o boi, não sabe a força que tem. Você é a própria motivação, sem o uso do abominável poder, que a tudo destrói, corrompe e faz triste. Prossiga Sérgio Barros. Muito mais do que administração, aprendi - e posso afirmar que meu grupo também -, que o bom da vida é cruzar com os Sérgios Barros nas esquinas. Certamente para cada milhar de vagabundos dos mais variados matizes, encontraremos um Sérgio. A partir de hoje, estou no caminho. Quero ser um Sérgio! Olavo, Bsb, 10-07-01. 


Minha tia era minha mãe!

Seu nome era pomposo como título de ópera, Carmem Cativo Rosa, mas o apelido era de uma franciscana simplicidade espanhola: Carmita! Era minha Tia Carmita, com quem convivi, ora mais tempo juntos ora mais separados, 50 anos de minha vida (ela morreu em 1997). Eu a amo tanto que, ao perceber que minha mãe vivia doente, tinha eu cinco ou seis anos pedi a ela (minha mãe), bem baixinho e temendo sua reação sempre imprevisível: mãe, se você morrer eu não quero ficar morando com o Papai. Me deixa morar com Tia Carmita? Eu a olhava por baixo, como quem admira algo muito especial na vida. Era meu exemplo em várias coisas, até e principalmente, no jeito tão permissivo com o qual me tratava, deixando eu fazer coisas proibidas por minha mãe, como tomar banho de chuva na rua, sair nu envolto em uma fantasia de serpentinas que ela fez para mim no carnaval de 1953, deixar eu tomar café preto, dormir tarde e brincar nos quintais com os pés descalços. Minha maior felicidade na vida era passar temporadas, finais de semana, parte de férias, até uma simples visita à casa dela. Meus três primos e meu tio, seu marido, compunham todo o ideal de prazer que eu conhecia na vida. Ela trabalhava duro em cima de uma máquina mecânica (até instalar um pedal elétrico tempos depois) muitas vezes até passar de meia-noite. Ainda assim tinha tempo para me levar ao Clube do Guri na PRC-5 (Rádio Clube), no Jurunas, sábado à tarde; passear de ônibus que imitava o Zepellin; comer unha de camarão na Festa de Nazaré; conhecer o Pinheiro e as Praias de Mosqueiro, Soure e Salvaterra, na Ilha do Marajó. A simples visão de sua silhueta me desanuviava a alma e significava, antes de mais nada, a suspensão de surras, tapas, palmatórias na mão e outras torturas diárias tão ao gosto de minha mãe, sua irmã caçula. Juntava meus primos e meu irmão e lá ia nos levar pra ver, no sábado gordo e em plena Praça da República (naqueles tempos, Largo da Pólvora) assistir as Batalhas de Confete com os melhores blocos carnavalescos de Belém (Não Posso me Amofiná, Piratas da Cremação, Quem São Eles e o quase imbatível, Boêmios da Campina). Tudo que fiz de lúdico até minha adolescência foi sob os auspícios de minha amada Tia Carmita. Por que então a terei lembrado assim do nada? Esses são os meandres da alma. A cena me veio de repente. Era um sábado à noite. Ela preparava um vestido para ser entregue, e faturado na mesma hora ou, no máximo, no domingo de manhã. Todos estavam brincando na rua e eu fiquei, grudado no meio dos retalhos e do barulho gostoso de sua máquina. Ela já tinha os ombros curvados e eles balançavam com o ritmo dos pés naquele pedal que subia e descia: troc-troc-troc. Aí ela abria o compartimento das agulhas, colocava mais linhas dentro de um pequeno carretel de aço, trocava as agulhas duplas, uma mais alta que a outra e eu grudado na mesa. Tia, como é a marca da máquina? E ela: Parece que pronuncia FAF! Mas como se tem um P e dois FF, PFAFF? É porque ela é belga, estrangeira! Não se pronuncia o P! E o barulho não parava. Minhas intervenções pareciam não atrapalhá-la. Tia como chama esse tecido branco que brilha? É cetim? Não, meu filho, é um tecido novo, americano, que é feito com plástico e chama Tafetá? Queres ver eu fazer uma mágica com ele? Eu, absolutamente siderado: quero Tia, quero! Ela pegava um retalho, acendia um fósforo o tecido incendiava e soltava gotas queimando e fazendo estrelinhas como foguinhos de São João. Eu não conseguia abrir a boca e balbuciava, muito gago, uma pergunta amedrontada que ela, vendo meu engasgo, mais me metia medo ameaçando jogar o retalho incendiando em mim eu corria alguns passos e voltava ti-ti-ti-ti-a, pa-pa-para! Ela, completamente vermelha e sem fôlego de tanto rir, se livrava da tochinha e me abraçava: Titia tá brincando, meu filho! Por onde andarás, minha mãe? Branquinha e loura natural, seu apelido de infância era barata branca! Tia Carmita, já não tenho ninguém pra rir da minha gagueira. Aliás, nem a gagueira tenho mais. E também não tenho você!