quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Para o mundo você é o que pensam de você!

Tenho umas trinta enormes caixas de papelão. Como contêm reminiscências de cerca de 55 anos de minha vida, num tempo sem informática, computadores ou internet, penso em deixar para os outros que mandem queimar tudo. Não tenho coragem para isso e vivo me visitando no passado. Por ser feriado em Belém, hoje, resolvi mexer umas caixas e, lá estava ele. Ele era um escrito feito por um aluno meu chamado Olavo, no longínquo julho de 2001, atendendo uma solicitação que sempre fiz aos alunos de cerca de 12 disciplinas diferentes que dei na Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade de Brasília. Pedia que se formassem os grupos (que aliás eram formados no primeiro dia de aula) e preparassem um trabalho, escrito à mão mesmo, de uma folha de papel, no máximo (frente e verso), respondendo uma pergunta única: Do que mais você gostou nas aulas de..... Aí mencionava o nome da Disciplina que, neste caso, chamava Organização & Sistemas. Quem falava do que gostou também criticava o que não gostou e eu aproveitava para fazer uma correção de rumo a cada semestre. Mas muitos elogios a mim eram feitos. Nunca dei muita ciência disso a terceiros por achar puro cabotinismo desnecessário no meio acadêmico. Mas agora, passados onze anos que saí da UnB o que esse jovem de uns cinquenta anos escreveu, merece ser imortalizado. O original assinado está comigo para qualquer comprovação. Aproveito e já salvo o texto para arquivo eletrônico. Desde que ouvi isso, lido na minha cara e na frente de uma turma de mais de quarenta alunos muito categorizados, acho que passei a me ver com olhos mais compassivos! Olavo explicou que pediu à turma de seis alunos que deixassem ele produzir sozinho a resposta e, de certa forma, "traiu" seu grupo mas sendo perdoado pela ovação que logo se seguiu:
Travei contato com a Administração no longínquo ano de 19765, em um curso de economia quando a maior parte dos colegas sequer tinha nascido - ou ainda eram embalados nos ventres maternos. O autor recomendado era o Chiavenatto - sei lá se esse era o nome. O professor estava em fim de carreira e ouvi-lo falar sem conhecimento de causa sobre Taylor e Faiol, era deprimente. Principalmente porque eu tinha outras ocupações que invariavelmente tomavam meu tempo, mesmo em sala de aula - ocupava-me de meus amores, das leituras de Garcia Marques e Pablo Neruda, a quem eu descobrira recentemente. Passei por todo esse tempo achando que tinha aprendido a fazer organograma e outros gramas e que isso era bastante. Cheguei até a aprender um pouco de O&M que tive oportunidade de colocar em prática. Nessa época, Chico Buarque cantava "quando eu nasci veio um anjo safado, um chato de um querubim e disse que eu estava predestinado a ser errado assim". Drummond já tinha escrito - "quando eu nasci um anjo torto me disse: vai Carlos ser gauche na vida". Passei o resto desse tempo tentando descobrir a quem os dois poetas se referiam da mesma forma. Finalmente encontro esse gauche, "esse operário das letras, líder sindical das palavras" no dizer do jornalista Ivan Lessa. Ou mais recentemente com Milton Nascimento "quem é esse viajante, quem é esse menestrel que espalha esperança e transforma sal em mel?" Doido???, idealista ??? Drummond já escreveu - os desiludidos do amor estão se matando, do meu quarto ouço a fuzilaria. Com certeza o Sérgio Barros não é desiludido nem fuzileiro, ao contrário. Teria ele ouvido Milton Nascimento cantar: toda vida existe para iluminar o caminho de outras vidas que a gente encontrar? Seja lá na Dinamarca ou aqui, sonhe um sonho solidário, faz crescer o amor diário, faz amigo em cada rua ou num bar?????? Sei não. Acho o Sérgio muito pirado, sua cabeça é uma viagem. Será que fumou muita maconha e o efeito ainda não passou??? Pode ser, talvez seja! Administrar é motivar pessoas - disse seu irmão. Dar aula é fazer o papel de influenciar e motivar. Papel, influência e motivação. Três palavras resumidas em duas - influência e motivação. Duas que podem ser resumidas em uma - motivação. Valeu Doutor Sérgio Barros. Mesmo sem apostila você passou a maior parte do tempo ensinando motivação. Ainda que tal não constasse do programa de ensino, esse foi o grande aprendizado que você passou. Você é doido - acha que precisa de apostila para ensinar motivação. Para usar um ditado do interior de Minas Gerais - é como o boi, não sabe a força que tem. Você é a própria motivação, sem o uso do abominável poder, que a tudo destrói, corrompe e faz triste. Prossiga Sérgio Barros. Muito mais do que administração, aprendi - e posso afirmar que meu grupo também -, que o bom da vida é cruzar com os Sérgios Barros nas esquinas. Certamente para cada milhar de vagabundos dos mais variados matizes, encontraremos um Sérgio. A partir de hoje, estou no caminho. Quero ser um Sérgio! Olavo, Bsb, 10-07-01. 


Um comentário:

  1. Nossa! Motivo nenhum pra queimar essas suas lembrancas neh? Perder perolas como essa? O que mais precisamos hoje eh de pessoas que saibam valorizar o que eh bom. Me parece que estão adormecidas, anestesiadas de saber das coisas da vida, das coisas do coração, das coisas do intelecto, da alma. Eh um não saber e ignorar os q um pouco sabem q ficamos carentes, pq sim, cada "coisa" dessa ai precisa de atenção. Precisa de confimacao. Principalmente nos que não usamos essa "anestesia". Que bom q vc tem suas caixas de confirmacao...

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