sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Bom dia para as Olimpíadas


Ah essas maravilhosas Olimpíadas. Nunca, em tempo algum, foram os Jogos Olímpicos uma salutar disputa restrita ao romântico campo desportivo. Os Jogos em si simbolizavam uma cruenta luta intestina para dominar a cultura helênica no ambiente nacional além de reafirmar a superioridade eugênica dos Gregos, congregados pela política do Pan-helenismo. Eram verdadeiras lutas por recordes que travavam, desde 776 a.C., atletas das principais cidades da Grécia como Tebas, Corinto, Delfos, Argólio e Esparta, sendo os jogos mais importantes os realizados em Olímpia, povoado perto de Atenas, em homenagem a Zeus. Isso também se estendia às colônias helênicas insulares, compondo uma forma “salutar” de afirmar a cultura Grega. O já gasto chavão sobre a importância da competição, sobrepujando a busca pela vitória e defendido pelo romântico Barão Pierre de Coubertin, muito cedo foi cedendo terreno a inconfessos interesses geopolíticos internacionais, seguidos da ambição econômica a quem sempre estão aqueles atrelados. Trazidos de volta à modernidade em 1896, na mesma Atenas da História, logo as Olimpíadas começaram a desnudar a falência de qualquer sentimento de amadorismo e muita hipocrisia rolou debaixo dessa ponte. O índio apache norte-americano Jim Thorpe, o primeiro superatleta a ganhar, em Estocolmo 1912, o ouro no Pentatlo e Decatlo, teve cassadas suas medalhas pelo fato de haver jogado beisebol em campinhos de beira de estrada, em troca de pratos de comida, morrendo miserável e esquecido. Foi acusado de PROFISSIONALISMO! Esse mesmo preciosismo certamente não impediu a brutal politização dos Jogos de Berlim, em 1936, onde Hitler utilizou, já àquela época, o marketing gratuito (a cerimônia de abertura foi o primeiro evento a ser transmitida pela TV para outros países através do sistema de micro-ondas) para ufanizar o mito da supremacia ariana, além de aproveitar o ensejo para reafirmar o Nacional-Socialismo na própria Alemanha e resto da Europa já cooptado. O marcial rufar dos tambores, os símbolos, estandartes, brasões e saudações nazistas, as imensas concentrações e troar das botas mancharam o Estádio Olímpico de Berlim levando simpatizantes europeus e no resto do mundo, ao orgasmo (não psicológico mas gozo físico mesmo). Depois viu-se no que isso deu, levando a humanidade a enfrentar a maior hecatombe jamais presenciada. Passada a mortandade, logo os Jogos foram retomados a partir de Londres, em 1948, repisando seu caráter de estandarte político (muito ao estilo do PT de hoje), seguindo e aprofundando a dicotomia dos sistemas capitalista ocidental e socialista euro-asiático. A supremacia norte-americana começou a ser posta em xeque pelos atletas da União Soviética e seus países satélites do leste europeu já que o rompimento com a China de Mao já se avizinhava. Mas tudo seria aceitável se não mexessem com os judeus, aliás olimpicamente inoperantes. O mundo extrafronteiras do Oriente Médio jogava a sujeira da mortandade derivada do conflito árabe-israelense desde a Primeira Guerra Mundial (com todo o romantismo britânico de Lawrence da Arábia), literalmente para baixo do tapete. Parecia que eventos dramáticos como a Guerra de Suez ou dos Seis Dias pouco importavam para o futuro do mundo. Obviamente esse pano-de-fundo foi trocado quando o drama desenrolou-se em outro palco e seis treinadores e cinco atletas israelenses foram mortos pelos terroristas do Setembro Negro, em Munique, 1972, alguns dentro da Vila Olímpica e outros no Aeroporto. A propalada inviolabilidade do solo olímpico e o caráter de união dos povos foram solapados e os Jogos assumiram abertamente seu caráter de propaganda dos dois sistemas em disputa. Os Estados Unidos boicotaram os jogos de Moscou em 1980 e os Soviéticos retaliaram na mesma moeda nos Jogos de Los Angeles, em 1984. Países nas zonas de interesse de ambas as potências como Inglaterra, Canadá, Irlanda do Norte, Coréia do Norte, Vietnã, Cuba etc. seguiram seus líderes. Estava exposto o engodo poético que sempre envolveu os Jogos como o mais importante evento esportivo do mundo e os acontecimentos se sucederam em cascata: as formas de doping foram se sofisticando na busca de super-homens e supermulheres que justificassem a liderança de um ou outro sistema político-econômico. A Alemanha Oriental criou hormônios sutis  para feminilizar homens ou masculinizar mulheres e que pulverizavam recordes diuturnamente a partir das Olimpíadas de Montreal, em 1976. Florence Griffith Joyner (Flo-Jo) bela americana que destruiu os recordes a partir de Seul 1988, nos 100 e 200 metros rasos, sucumbiu ainda jovem e linda, aos 38 anos, com o cérebro paralisado de tantos hormônios. Suas marcas duraram anos mas sua vida acabou, assim como aquela imagem de coxas de halterofilista homem. Será que alguém lembra aquela deusa negra ainda hoje? O canadense Bem Johnson e recentemente a “maravilha do ciclismo” Lance Armstrong , reconheceram estarem dopados quando de suas conquistas. A certa época, com o fim da União Soviética e países de influência no leste europeu, parecia que o fim da dicotomia enterraria essa insanidade junto com ela. Esqueceram que a China assumiria a dianteira esportiva da propaganda de regimes políticos, mesmo dependendo a supremacia de um sistema híbrido: comunista para a vida sócio-política e capitalista para a econômica. Pelo menos parece que estão satisfazendo a Gregos e Goianos. A verdade é que as máscaras definitivamente caíram e os jogos assumiram abertamente sua condição de vitrine de tudo o que se possa vender, no mundo inteiro, entre produtos, serviços, processos e tecnologias. . O véu de Olympia foi retirado e revelada abertamente a função das Olimpíadas: propaganda exatamente como a concebeu Joseff Goebbels há 80 anos. Como reparo, é de citar uma outra inconfessa função dos Jogos Olímpicos como, por exemplo, no caso brasileiro, enriquecer os apaniguados de sempre, aqueles mesmos que todos sabem quem são mas ninguém revela. Aliás, acessei uns dados imponentes a esse respeito. As verbas públicas do Comitê Olímpico Brasileiro são de 389 milhões de reais (aí não se incluem os mega patrocínios públicos e privados na entidade e dos atletas, do tipo Petrobrás, Vale, Coca-Cola etc.). Desse butim, 55% vão para, pasmem, manutenção da entidade e organização de eventos. E ficamos nós torcendo pela Mürer que se negou a pular, com pavor da russa, em duas Olimpíadas seguidas; pelos pobres garotos do futebol; pela Maurren Maggi que neste ano só tinha marcas de pulador de poças d’água e para o Bernardinho, com 23 a 19 no placar, enfiar o Giba no time para se despedir com o ouro e desmonta a equipe numa final olímpica.  Eu morro de pena do Nuzmann, e do povo brasileiro. Simples assim!