terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

OS U.S.A. E A MÚSICA BRASILEIRA: UM PAPO REAL - PARTE III

PARTE III - EXISTE UM NÓS NESSA HISTÓRIA?
Encerrando a trilogia sobre assunto que me fascina há anos, tento descortinar o panorama atual sobre o momento da música brasileira nos States. Já falei sobre o engodo de shows de Dia do Brasil, mostrados pela Rede Globo com multidões de brasileiros, nunca de americanos. Será que hoje temos uma penetração de nossa música perante o grande público norte-americano? Se nos referirmos ao público jovem e aos amantes do rock em geral, acho que nunca ouviram falar do Brasil e nem sabem, olhando o Mapa Mundi, onde fica a América Latina. Contudo, se expandirmos nosso campo aos amantes do jazz, música latina em geral e remanescentes da Bossa-Nova e outros artistas que ganharam especial notoriedade até nos circuitos eruditos, principalmente se estamos falando de Jobim, Eumir Deodato, Milton Nascimento, Ivan Lins e Caetano Veloso, tende a haver luz no fim do tunel. As grandes escolas norte-americanas de música, como Berkley, Boston e muitas em Nova Iorque, possuem disciplinas específicas sobre o fenômeno musical brasileiro, especialmente a capacidade que tem o Brasil de, há décadas, possuir, dentro da sua pauta de exportações, um item sempre em alta, corporificado em sua cultura e cultura musical. Se você examinar essa produção massificada de cultura brasileira extra-muros, ela não só atinge o mercado norte-americano mas, principalmente, o japonês e europeu. A presença de grandes músicos brasileiros, que se mudaram para lá ou ainda têm o seu domicílio aqui, como Dori Caymmi, Edu Lobo, o próprio Sérgio Mendes (com seu recente casamento de muito sucesso com a música techno) e Menescal têm um mercado muito grande por lá, não só em bares alternativos, musicais, filmes e desenhos animados, mas o fonográfico especificamente. A presença do grande baixista brasileiro Luizão Maia (da banda de Cesar Camargo Mariano que sempre acompanhou Elis, incluindo aí também o guitarrista Natham Marques) se faz real como ídolo de grandes baixistas de bandas de sucesso no mercado norte-americano. Clint e seu filho Kile Eastwood são ligados umbilicalmente ao violonista Laurindo de Almeida (da segunda leva), que executa o Claudia's Theme do fabuloso Os Imperdoáveis (de autoria de Clint) como também participa da execução do tema musical de Gran Torino, composto por Kile. Maia Rita tem um público fiel no circuito off-Boroadway, em muitos barzinhos onde é muito requisitada. Há um grande movimento, em muitas High Scholl americanas, especialmente as novaiorquinas, para incluir o samba, especialmente os ritmos mais ligados ao samba e toda a sua entourage instrumental, nos curricula escolares em música. Especialmente na Escola Frederick Douglass onde cerca de 40 alunos formaram uma bateria de escola de samba que se apresenta no circuito comercial. Madaleine Perroux mantém jam sessions de jazz e Bossa-Nova que trazem dezenas de artistas de lá. A canadense Diana Krall tem, como percussionista de sua banda permanente, o brasileiro Paulinho Dacosta a quem já nos referimos em outra parte, mantendo-se fiel à colocação de, pelo menos, um suceso brasileiro em seus albuns. Burt Bachrach, com mais de 80 anos, compôs seus grandes sucessos, junto com a orquestra Tijuana Brass, de Herb Alpert, no ritmo da Bossa-Nova. Vem todos os anos se reciclar no Brasil. Em suma, parece evidente que existe uma maior penetração da música popular brasileira, em partes específicas do grande público Norte-Americano, contudo, no fundo, para a grande massa, o Brasil e suas coisas, notadamente culturais, prossegue sendo um gigante exótico que tangencia a realidade americana. Simples assim!

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

OS U.S.A. E A MÚSICA BRASILEIRA: UM PAPO REAL (Numa Trilogia)!

PARTE II - OS BRASILEIROS
A ida da música brasileira para os Estados Unidos se deu em levas, vagas. A primeira grande onda dessas foi Carmem Miranda, nos anos 30, e o Bando da Lua, espécie de regional que a acompanhava. Carmem também tinha uma grande entouage em sua volta, que incluía também sua irmã mais nova Aurora Miranda. Carmem, muito mais do que se fala e pensa, foi a artista brasileira (apesar de nascida em Portugal) de maior sucesso em toda a história desse casamento. Conhecida como Brazilian Bombshell, Carmem se transformou em astro de primeira grandeza em Hollywood, conseguindo papéis importantes e até protagonismos em filmes nos quais ela era a principal atração. Claro que os americanos estilizaram-na como ela poderia ser vendida com êxito: uma cucaracha ridícula, que sambava com as mãos e com um chapéu cheio de frutas tropicais onde se destacavam, claramente, as bananas. Evidente que, para você entender essa questão Carmem Miranda tem que saber que, para todo o americano médio, pelo menos até os anos 60-80, tudo o que se movia ao sul do Rio Grande, era nada mais que uma barata e sua qualidade era vista como exotismo. Carmem abriu o caminho, já pelo final dos anos 40 e início dos 50, para a ida de excelentes instrumentistas como os violonistas Bola Sete e Laurindo de Almeida, muto requisitados até antes de suas mortes. Essa segunda vaga consolidou-se com a ida dos astros do filme Orfeu Negro, de um poema musicado de Vinícius de Moraes, com a atriz-cantora negra americana Marpessa Dawn (belíssima), no papel de Eurídice, e Breno Silveira (belíssimo também), como Orfeu. O diretor era o francês Marcel Camous e, na verdade, foi o lançamento de um novo Brasil (1954), onde internalizou-se a idéia de que o Brasil poderia produzir algo de qualidade além de futebol, café, mulatas e carnaval. O texto de Vinícius e a música de Tom Jobin, cenários de Oscar Nyemeyer, foram muito bem recebidos nos círculos culturais dos Estados Unidos. Foi o primeiro encontro de músicos, cantores e produtores americanos com o samba de raiz, os alvores da bossa-nova e grandes intérpretes, músicos e a música de Jobin. Essa segunda leva se encerra com a ida de Luis Bonfá, com sua magnífica Manhã de Carnaval que se transforma no maior sucesso internacional pela Billboard e Cashbox, revistas norte-americanas especializadas em vendagem de discos e pesquisas de sucessos. Sua mulher e que interpretara a música, Maria Elena Toledo, é divinizada mesmo. Ainda há menções que dizem que Manhã de Carnaval teria se ombreado â Garota de Ipanema como tendo caido no gosto americano. Isso abriu a terceira leva, talvez a mais importante de todas, que foi a Bossa-Nova. Desde o show do Carnegie Hall, em 21 de novembro de 1962, os grandes músicos americanos do jazz ou das grandes orquestras, além do circuito alternativo, começou, na realidade, a grande invasão brasileira nos Estados Unidos. Capitaneados por Tom e João Gilberto, com a batida de violão que introduziu uma sincopada de jazz no samba, também apareceram Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes (e o conjunto Bossa Jazz) e, tão importante quanto, os maravilhosos ritmistas brasileiros. Sérgio Mendes, já na vaga dos que fugiram da ditaduras junto com Oscar Castro Neves, teve a grande sacada de trazer duas cantoras americanas (Lany Hall e Karen Phillip) para cantar os sucessos de Burt Bucharach, em inglês, e Jorge Ben, em péssimo português, mas colou. Nesse momento, arranjadores internacionais como o teuto-americano Klaus Ogermann, o argentino-americano Lallo Schifrin e Quincy Jones já estavam extasiados pela capacidade do músico brasileiro em produzir uma música dentro de um ritmo que ninguém conseguia imitar. Isso levou a grandes músicos e intépretes americanos a usar arranjos e gravar sucessos da música, principalmente, de Tom Jobim. Stan Getz, Sinatra, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, George Benson, Tonny Bennett, Pat Houston e dezenas de outros de grande valor artístico e popular, abrem realmente as portas de um público RESTRITO a bolsões do gosto americano, para grandes músicos brasileiros, ocasionando fatos como: Eumir Deodato, com a gravação bossa-novista de Also Sprach Zaratustra, vende CINCO MILHÕES de albuns, sob a batuta do grande produtor Creed Taylor que abriria portas a muitos outros. Os fenômenos ritmistas como Dom Um Romão, Airto Moreira ( e sua mulher, por ele transformada na cantora Flora Purin), Dom Salvador, Paulinho Dacosta mudam para lá e são escolhidos por 11 em cada 10 discos de feras do jazz. Flora, instigada por Airto, passa a usar sua voz como se fosse um instrumento e cria uma nova saída para as intérpretes de jaz, ganhando, pela Billboard, o título de melhor cantora de jazz DO MUNDO, não só dos Estados Unidos, seguidamente, de 1974 a 77, e isto é algo muito sério.Milton Nascimento, Ivan Lins, Roberto Carlos, Leny Andrade e dezenas de sucessos brasileiros passam a gravar em Los Angeles e New York, atrás da qualidade superior dos equipamentos deles. Amanhã, se Deus quiser, vamos ver o panorama de hoje e se há realmente uma influência brasileira na maravilhosa e criativa música americana, sempre o rock de fora.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

OS U.S.A. E A MÚSICA BRASILEIRA: UM PAPO REAL (Numa Trilogia)!

PARTE I - ELES
Às vezes flagro papos muito suspeitos sobre o "sucesso" de músicos brasileiros globais que vão preencher os Brazilian Days inventados pela Rede Globo, notoriamente com uma platéia 101% de migrantes brasileiros não nos Estados Unidos, mas em New Yor City, uma megalópole internacional que nada tem a ver com o american way of life. Em outros casos, detentores de "sucesso internacional" explodem plateias também de migrantes, adicionadas de cubanos, chicanos, portorriquenhos em Miami. Sempre vejo a verdadeira nata do  americano nato, o americano médio, bem longe disso tudo. Claro que eles têm lá um mix de altísima qualidade, que assim acho que posso analisar: uma sólida origem branca, manifestada na música irlandesa que os cowboys cantavam nos filmes e da qual derivaram o country e, mais miscigenado, o rock inglês, hoje a manifestação musical mais internacionalizada e de maior sucesso em todo o mundo, expandindo para muito mais além do que o simples horizonte do público jovem, de onde ele explodiu. Uma outra fortíssima base na cultura africana, nos cânticos das lavouras do sul, da qual manifestações eternas viriam eclodir. A música soul (e sua vertente no spiritual), o blues e, já numa miscigenação ARTÍSTICA (não sociológica, antropológica ou política pois o racismo branco era muito mais arraigado lá que cá e o negro visto como uma peça exótica mas EXTERNA. Diferente do Brasil português que miscigenava MESMO), o rock como evolução "normal" do swing e boogie-woogie; além de, last but not least, as duas facetas do fantástico jazz (o jazz "puro" negro, improvisado, cantado e tocado), e o jazz misturado à influência franco-europeia, chamado dixie, cujo maior museu vivo e ativo prossegue sendo New Orleans. Finalmente, a música nascida nos guetos latino-americanos que poderiam incluir: a conga, o mambo e a rumba, vindos da Cuba "libre", o maxixe e o samba, não brasileiros, mas de Carmem Miranda e o calypso caribeano. Esse é o pano-de-fundo para darmosinício a este trabalho que ainda comportará duas partes: OS BRASILEIROS e, finalmente, NÓS JUNTOS EXISTE?
Desse fantástico panorama, evidentemente a música norte-americana lato sensu, assim como o músico de lá, formariam uma casta de qualidade quase inigualável. Certo que eles contaram e contam com um portentoso instrumento de marketing que é Hollywood, para exportar esse produto, que já tinha e tem muita qualidade intrínseca, para todos os cantos da aldeia global. A música dos grandes musicais é eterna. Os cantores, cantoras, arranjadores e compositores, de todas essas orígens, além de fazerem coisas belas possuem um padrão de qualidade superior que lhes é permitido pela força do dolar e da onipresença da economia americana no mundo (e que gera essa ubiquidade de dupla entrada: de lá para o mundo e do mundo para lá). Esse caminho de volta é o que me interessa trilhar, apesar deste trabalho em três partes ser produto, UNICAMENTE, do que guardo na minha memória, sem nenhuma pesquisa externa a qualquer outra fonte que não eu próprio. Isto dará ao resultado uma forte impregnação de meus gosto e de minha visão como passageiro dessa agonia. Sei que corro o risco de não ser lido. Não importa, pois ficará o registro eternizado em meu blog.
Como mote para a segunda parte que publicarei, sequentemente, amanhã (24 de fevereiro) e terça-feira (25 de fevereiro de 2014), é cuidar de limpar as arestas de uma possível visão eivada de envolvimento pessoal, é registrar que, como aqui, lá eles têm suas Ivetes, Cláudias Leitte, Bandas Calypso, Michel Teló e outras porcarias, corporificadas em Beyoncés, Rihanas e Justin Biebers da vida. A mim interessa verificar onde a alma brasileira conseguiu influenciar a música americana de qualidade  com forte penetração no grande público, não só nos guetos. Para ver isso me acompanhe amanhã.