PARTE II - OS BRASILEIROS
A ida da música brasileira para os Estados Unidos se deu em levas, vagas. A primeira grande onda dessas foi Carmem Miranda, nos anos 30, e o Bando da Lua, espécie de regional que a acompanhava. Carmem também tinha uma grande entouage em sua volta, que incluía também sua irmã mais nova Aurora Miranda. Carmem, muito mais do que se fala e pensa, foi a artista brasileira (apesar de nascida em Portugal) de maior sucesso em toda a história desse casamento. Conhecida como Brazilian Bombshell, Carmem se transformou em astro de primeira grandeza em Hollywood, conseguindo papéis importantes e até protagonismos em filmes nos quais ela era a principal atração. Claro que os americanos estilizaram-na como ela poderia ser vendida com êxito: uma cucaracha ridícula, que sambava com as mãos e com um chapéu cheio de frutas tropicais onde se destacavam, claramente, as bananas. Evidente que, para você entender essa questão Carmem Miranda tem que saber que, para todo o americano médio, pelo menos até os anos 60-80, tudo o que se movia ao sul do Rio Grande, era nada mais que uma barata e sua qualidade era vista como exotismo. Carmem abriu o caminho, já pelo final dos anos 40 e início dos 50, para a ida de excelentes instrumentistas como os violonistas Bola Sete e Laurindo de Almeida, muto requisitados até antes de suas mortes. Essa segunda vaga consolidou-se com a ida dos astros do filme Orfeu Negro, de um poema musicado de Vinícius de Moraes, com a atriz-cantora negra americana Marpessa Dawn (belíssima), no papel de Eurídice, e Breno Silveira (belíssimo também), como Orfeu. O diretor era o francês Marcel Camous e, na verdade, foi o lançamento de um novo Brasil (1954), onde internalizou-se a idéia de que o Brasil poderia produzir algo de qualidade além de futebol, café, mulatas e carnaval. O texto de Vinícius e a música de Tom Jobin, cenários de Oscar Nyemeyer, foram muito bem recebidos nos círculos culturais dos Estados Unidos. Foi o primeiro encontro de músicos, cantores e produtores americanos com o samba de raiz, os alvores da bossa-nova e grandes intérpretes, músicos e a música de Jobin. Essa segunda leva se encerra com a ida de Luis Bonfá, com sua magnífica Manhã de Carnaval que se transforma no maior sucesso internacional pela Billboard e Cashbox, revistas norte-americanas especializadas em vendagem de discos e pesquisas de sucessos. Sua mulher e que interpretara a música, Maria Elena Toledo, é divinizada mesmo. Ainda há menções que dizem que Manhã de Carnaval teria se ombreado â Garota de Ipanema como tendo caido no gosto americano. Isso abriu a terceira leva, talvez a mais importante de todas, que foi a Bossa-Nova. Desde o show do Carnegie Hall, em 21 de novembro de 1962, os grandes músicos americanos do jazz ou das grandes orquestras, além do circuito alternativo, começou, na realidade, a grande invasão brasileira nos Estados Unidos. Capitaneados por Tom e João Gilberto, com a batida de violão que introduziu uma sincopada de jazz no samba, também apareceram Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes (e o conjunto Bossa Jazz) e, tão importante quanto, os maravilhosos ritmistas brasileiros. Sérgio Mendes, já na vaga dos que fugiram da ditaduras junto com Oscar Castro Neves, teve a grande sacada de trazer duas cantoras americanas (Lany Hall e Karen Phillip) para cantar os sucessos de Burt Bucharach, em inglês, e Jorge Ben, em péssimo português, mas colou. Nesse momento, arranjadores internacionais como o teuto-americano Klaus Ogermann, o argentino-americano Lallo Schifrin e Quincy Jones já estavam extasiados pela capacidade do músico brasileiro em produzir uma música dentro de um ritmo que ninguém conseguia imitar. Isso levou a grandes músicos e intépretes americanos a usar arranjos e gravar sucessos da música, principalmente, de Tom Jobim. Stan Getz, Sinatra, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, George Benson, Tonny Bennett, Pat Houston e dezenas de outros de grande valor artístico e popular, abrem realmente as portas de um público RESTRITO a bolsões do gosto americano, para grandes músicos brasileiros, ocasionando fatos como: Eumir Deodato, com a gravação bossa-novista de Also Sprach Zaratustra, vende CINCO MILHÕES de albuns, sob a batuta do grande produtor Creed Taylor que abriria portas a muitos outros. Os fenômenos ritmistas como Dom Um Romão, Airto Moreira ( e sua mulher, por ele transformada na cantora Flora Purin), Dom Salvador, Paulinho Dacosta mudam para lá e são escolhidos por 11 em cada 10 discos de feras do jazz. Flora, instigada por Airto, passa a usar sua voz como se fosse um instrumento e cria uma nova saída para as intérpretes de jaz, ganhando, pela Billboard, o título de melhor cantora de jazz DO MUNDO, não só dos Estados Unidos, seguidamente, de 1974 a 77, e isto é algo muito sério.Milton Nascimento, Ivan Lins, Roberto Carlos, Leny Andrade e dezenas de sucessos brasileiros passam a gravar em Los Angeles e New York, atrás da qualidade superior dos equipamentos deles. Amanhã, se Deus quiser, vamos ver o panorama de hoje e se há realmente uma influência brasileira na maravilhosa e criativa música americana, sempre o rock de fora.
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