Ah esses japoneses! Em setembro
de 1973 os árabes, de montão, invadiram Israel por todas as fronteiras e até
pelo mar, durante a comemoração do Yom Kippur ou Dia do Perdão para os judeus.
Os israelenses tinham surrado todos juntos em 1956 e 1966, nas chamadas Guerras
de Suez e dos Três Dias. Pensou-se que afinal tinham percebido a
impossibilidade de derrotar belicamente o Estado Judeu. Ledo engano! A coisa
fedeu dessa vez e Israel só saiu da draga com a ajuda dos satélites espiões
americanos que indicaram uma passagem nos Lagos Amargos para furar o cerco de
aço de Egito, Síria, Jordânia, Sudão e Líbia. O resultado foi a rendição
incondicional árabe e uma vingança do Islã que mudaria a face do mundo, PARA
SEMPRE! A terrível subida dos preços do petróleo que abalou o mundo capitalista
e a segunda crise, em 1979. No primeiro choque, o preço do barril que mal
chegava a cinco dólares pulou para 40 e, no segundo, que sucedeu a queda do Xá
da Pérsia e a subida ao poder dos Aiatolás, pulou para 80, desordenando todas
as grandes economias ocidentais, notadamente a dos Estados Unidos que passaram
a suportar um déficit brutal na conta petróleo e dificuldades imensas para a
rolagem dessa dívida fato que, aliás, só se normalizaria nos anos 90 com o
advento do Consenso de Washington onde 63 países emergentes tipo Brasil,
Argentina, México, Índia, Rússia, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul,
Coréia do Sul etc., adotaram as políticas neoliberais e se transformaram em
repassadores de capital para os americanos não quebrarem. Que gracinha, né?
Ocorre que, nesse ínterim, um país asiático, então quinta economia do mundo,
aquele mesmo onde se come peixe cru porque não tem graveto para queimar; não
produz uma gota de petróleo; não possui qualquer jazida de minérios estratégicos;
tem que importar quase tudo o que consome, até comida, exceto conhecimento e tecnologia. Não
possui rebanhos animais e plantações de soja, trigo, feijão, só arroz, e plantado no segundo e terceiro andares da
terra que lhes sobra em um solo vulcânico além de frutos do mar nas fazendas
criatórias na baía de Tóquio. Esse mesmo país teve seus centros industriais
básicos destruídos por duas bombas atômicas, explodidas cerca de 35 anos antes.
Mais ainda: teve dizimada sua população de machos adultos entre 14 e 65 anos,
isto é, só sobraram crianças, mulheres cultural e economicamente nulas e velhos. Foi
invadido por uma força inimiga que o maltratou por décadas. Teve que aceitar a
perda de grande parte de sua soberania e a falta de poder nos organismos
internacionais. Repetiu a Alemanha no pós duas guerras e as botas “aliadas” até
hoje estão fincadas em seu território. Não reclamou nem chorou nos foros
competentes. Evidente que qualquer pessoa normal imaginaria que esse país,
centro de uma civilização de 5.000 anos de existência, extremamente
tradicionalista e conservador e até xenófobo, estava literalmente fodido no
concerto internacional, a maior carta fora do baralho da história recente da
humanidade. Vejamos contudo, no que deu! Na passagem dos anos 70 para os 80,
sabia-se que os melhores pianos eram germânicos ou Anglo-Saxões: Steinway &
Sons, Fritzz Dobbert etc. De repente, os melhores concertistas do mundo
passaram a decantar a superior qualidade dos Yamaha. Máquinas fotográficas,
claro, eram as Kodak, Agfa e Rolleyflex.Nada disso! Asahi Pentax e Nikkon
passaram à dianteira mundial em excelência. Pera lá! E motocicletas? Evidente
que as Halley Davidson eram imbatíveis. Não! Suzukis, Yamahas e Hondas passaram
a inundar o mundo nas ruas e competições. Ufa, ainda bem que temos os carros
econômicos europeus como Wolks, Fiat, Citroen, Skoda e Volvo. Não, os carros
compactos japoneses passaram a rodar só com o cheiro do combustível. Vamos
combinar: um Jeep só pode ser Willys Overland ou Land Rover, OK? Não! Os Toyota
a diesel desbancaram todo o resto. Sim, sim, mas e os carrões beberrões
americanos? Acabaram junto com os choques de petróleo mas, em substituição,
Honda, Yamaha, Mitsubishi, Nisan e outras supriram de conforto os milionários da
época, rebeldes à nova ordem mundial. Para não ser chato, vou terminar esta
longa exposição de maravilhas da reação tecnológica japonesa com um teste muito
simples: procure em roupas mais velhas, se possível dos anos 80/90 e que tenham
zippers (onomatopeia do barulho que faz o fecho quando puxado, a mesma coisa
que o veeeeeeelcro), a marca desse pequeno mecanismo criado pelo americano
Judson em 1891, mas difundido pelos franceses como fecho éclair: certamente
será YKK. Vá lá e faça o teste e depois me confirme! Cacete, os japas tomaram
conta até dos zippers no mundo. Nesse tempo, os nipônicos perceberam que iriam
atingir o posto de primeira economia no mundo. O quê fizeram? Caíram na
gastança e farra dos neo-europeus no pós Euro? Muito diferente disso, saíram
comprando imóveis em New York, Los Angeles e Chicago para injetar dinheiro na economia
americana. O Primeiro-Ministro Kakuei Tanaka (1972/74) idealizou essa
visionária política, Takeo Fukuda (1976/78) a aprofundou e Masayoshi Ohira
(1980/82) a consumou. Este último utilizou, pela derradeira vez até hoje, pelo
que se sabe, uma rede de tv para fazer um pronunciamento oficial de três
minutos, pedindo à nação que, no ano de 1981, todo o japonês de qualquer idade
(e eram 130 milhões) gastasse, durante o ano inteiro, cem dólares em produtos
americanos e justificou: um negócio só é bom quando as partes envolvidas ganham
igual. “Nossos parceiros americanos passam enormes dificuldades com nosso
imenso superávit na balança comercial bilateral entre nossos produtos e
serviços. Com essa injeção de 13 bilhões de dólares o equilíbrio será ajudado”.
Pedido e feito. Alcançaram e permaneceram por quase duas décadas no posto de
segunda economia do mundo. Continuam sem gravetos para assar um peixe; sem
reservas de combustíveis fósseis, carvão, hulha etc. Enfrentam tempos duros com
a subida brutal, nos últimos anos, dos preços das commodities de que tanto
necessitam para sobreviver, perdendo seu vice para a China. Ainda assim, foram os Bancos japoneses que
financiaram a criação dos Tigres Asiáticos na orla do Pacífico. Enfrentam uma
enorme insegurança para consumir pois a tendência do povo é poupar. Sofrem a
desleal concorrência predatória dos produtos chineses sem chorar para seus
governos o aumento do dólar artificialmente, subsídios ou barreiras a essa
pirataria. Enfrentam tudo com trabalho e sem choradeira. Kakuei Tanaka, aquele
artífice da virada japonesa, foi parar na cadeia por um deslize que faria corar
de vergonha um Guarda Municipal que aceita dez paus de suborno. No mais das
vezes, quando um funcionário é pego com a boca na botija, suicida-se de
vergonha de si mesmo e de todos os demais japoneses. Rasga as tripas no ritual
do Harakiri. Claro que você, meu eventual leitor, já percebeu onde quero
chegar! Claro, é aí mesmo! Comparando Brasil e Japão. Imagine se nós fôssemos
um país igual ao deles, sem um pé de pau pra comer na seca, um riacho pra
fechar uma hidrelétrica, um lote pra construir uma mansão maior do que os 45 m2
permitidos nas áreas metropolitanas. Estaríamos de pires na mão chorando a
bomba atômica que jogaram em Porto Alegre e Belo Horizonte e que não estariam
reconstruídas até hoje só pra justificar o pranto e a passagem da sacolinha.
Temos uma diferença e não está nos nossos portentosos recursos minerais e nem
na capacidade mental deles de criar tecnologias inventivas e criativas: tudo
reside na merda do POVO que está lá e o que está aqui, gerando líderes sérios
ou desonestos, honradez ou bandalheira, tecnologia de ponta ou Bolsa-Cocô. Na
verdade, penso que não habitamos o mesmo planeta. Simples assim!
Massa!
ResponderExcluirAcho que na verdade o grande artífice da virada foi o antigo imperador Hirohito que, vendo o país destroçado e humilhado, disse: "Ainda iremos conquistar o mundo, mas desta vez sem armas...."
Dito e feito, como você exemplificou.
E não é apenas impressão: são realmente dois mundos distintos dentro do mesmo planeta!