terça-feira, 17 de julho de 2012

Bom dia para médicos e monstros. Ops! e mestres


Ah! Que saudade da nostalgia. Sinto que meus escritos são profundamente nostálgicos e uma ode ao saudosismo. Parece que não me encaixo no mundo contemporâneo. Mas o quê fazer se não consigo me entender bem com certas nuanças dos tempos de hoje. Uma antiga e querida amiga me mandou um PPS sobre a saudade de nossos médicos de outrora. Foi o bastante para me estimular os neurônios à mesma situação. Sou professor universitário há 16 anos, cursei faculdade entre 1966 e 1970 (fora o mestrado terminado em 2001) e comecei a estudar (tirando a alfabetização com a Profa. Bebê) na Escolinha da Professora Eugênia, na Gentil Bitencourt,  em 1954, com sete anos incompletos. Incrível como me lembro de sua irmã, Profa. Helga, que liderava as classes de primeiro e segundo anos primários. Por certo que a severidade era comum e alguns cascudos eu tomei por traquinagens em sala. Mas como era doce o olhar da minha professora. Naquele tempo ninguém chamava mestras de tias pois a designação “professor” trazia em seu bojo qualidades e valores essenciais à compreensão da vida. Naquelas eras pegava muito bem ser professor. E ainda havia excelentes preceptores (professores que moravam em casas de aluno e vice-versa, notadamente os vindos do interior). Passasse algum na frente de minha casa e era imediatamente cumprimentado por meus pais e avós com um tom respeitoso e de muita admiração. Nesse mesmo diapasão transcorreu a maestria de meus professores no restante dos anos primários nos Grupos Escolares Municipais. Lígia, Maria José; todos ocupam galardões profundos em meu coração. No ginásio e científico a diferença foi pouca pois nos Colégios Maristas os Irmãos (de batina, babador, colarinho e cordão à cintura comprovando os votos de castidade, humildade, pobreza e serviço à Maria e à Igreja) é que ensinavam. Aliás, nesses lugares quase santos, tudo se educava, inclusive a formação cultural, moral, física e religiosa dos jovens. Em suma, não só transmitiam o conhecimento mas formavam caráteres. Quando pus meus filhos para estudar no Colégio Marista de São Luís, poucos Irmãos se mantinham na ativa; quase todos os professores eram contratados e nem mais a visita do “caçador de talentos” para levar candidatos para o Seminário Marista de Apipucos – PE, havia. Mesmo na universidade meus mestres eram vetustos mas não ocos de vaidade; gostavam das pompas e circunstâncias da Cátedra sem humilhar seus discípulos. A velocidade do conhecimento não era transmitida nos anos-luz da internet e nem computadores havia. Mas, além disso, eles também transmitiam O SABER, coisa que não se faz mais. Raramente visitava a sala de um professor, fora do horário de aula. Presava a ética que não recomendava conversas a portas fechadas e, jamais, nunca eu me sentiria à vontade para cutucar a barriga de um mestre. Outra profissão que me encantava era a dos homens de branco. Como eles tinham tempo para conceder ao paciente nas consultas. A famosa anamnese médica, aquele diálogo longo e privado com o paciente foi substituída pelo excesso de especializações (aquelas da piada onde o cara é especialista em testículo direito; se o problema for no esquerdo ele nem te recebe) e pelos meios modernos de diagnose. Se uma epidemia de Gripe A se espalha e você tem acessos de espirro e tosses, notadamente se você compuser o grupo de risco, claro que procura um médico. Ele quase nunca lhe olha nos olhos. Já vai disparando três ou quatro requisições de exames escalafobéticos onde você é escaneado dos pés à cabeça, só para ver se tem uma gripe. As salas de espera nos consultórios são abarrotadas de gente e seu atendimento é por ordem de chegada. Você adianta duas horas mas os médicos, via de regra, atrasam três e acaba não compensando. Se você compra um Plano de Doença aí lhe marcam um cateterismo pré-enfarte para daqui a três meses. Aí você morre antes. Se vai pelo SUS até que consegue umas brechinhas e ele, pelo menos, responde pelo alto custo dos tratamentos mais caros. Mas se for emergência ou urgência (aliás, alguém já lhe explicou a diferença? Para mim tentaram mas não entendi!) esteja certo que vai para o corredor se não tiver a sorte de morrer primeiro. Mesmo que você tenha grana e procure um raro generalista, os Clínicos Gerais em extinção, ele não terá a menor paciência em espichar o diálogo, pelo menos para lhe dar um prognóstico do que pode lhe acontecer doravante. Jesus! Eu sou do tempo de um Vade Mecum denominado “O Médico do Lar”, livrão muito grosso e de capa dura onde, em simples ordem alfabética, lia-se sobre as doenças conhecidas e os tratamentos disponíveis. Se os sintomas batiam e era coisa nova, mamãe levava no Hospital da Aeronáutica de Belém para sermos examinados e tratados pelo Dr. Olavo Leôncio, Cirurgião Geral mas que entendia de unha encravada a câncer. Se a coisa parecia mais simples, toda a tarde passava na porta de casa o Dr. Osmar Sampaio, médico e major da Polícia Militar. Vinha de ônibus, todos os dias. Descia na Av. Independência e passava defronte a nossa casa em direção à sua, na Conselheiro Furtado ou Gentil. Todo de branco, com divisas e um quepe que eu achava um charme. Era baixinho, careca e gordinho, além disso torcia pelo Remo, time odiado por mim e por toda a família de minha mãe. Mas seu sorriso era uma pomba voando no horizonte ensolarado. Suas prescrições eram fatais..... para as doenças que nos acometiam. Todo o dia lá vinha ele, batia palmas ao portão, entrava e sentava no páteo; era quase 18 horas. Desciam eu ou meu irmão para abrirmos a porta e conversarmos com ele pois mamãe, invariavelmente, estava no andar de cima com enxaqueca, as quais ele muitas vezes curou com Novalgina ou Anador, na veia, misturado com soro glicosado. Ficava conversando conosco até perto de 19 quando já tinham chegado o Cacá (meu avô postiço paterno) e o próprio papai, quando não estava prevaricando. A conversa fluía fácil: futebol, política, seleção brasileira de 54 e 58, piadas, coisas do cotidiano e, pasmem, até os nossos exames de língua de fora, ausculta cardiorrespiratória (com direito a falar 33 e tudo o mais) e toque nos gânglios. Às vezes o papo era tão bom que a febre de garganta sumia. Claro que os diagnósticos evoluíram muito e a expectativa de vida é bem maior. À época, depois dos 40, o cigarro levava muita gente de colapso cardíaco (com se dizia então); pessoas que passavam de 60 já espantavam os circundantes. Quando morria algum gordo, já que gordura era sinal de saúde, todo mundo dizia: morreu com todo o corpo, claro que para diferenciar daquelas moléstias que descarnam lentamente. Não sei se é vantajoso viver-se mais. Sou tentado a pensar que bom seria viver-se melhor e mais feliz. Qualidade ao invés de quantidade. Pra que ultrapassar os cem sem poder usufruir os melhores gozos que a vida lhe oferece? Tenho que reconhecer: quanta saudade dos mestres e médicos de outrora. Certamente sentirei muita falta deles quando chegar a minha hora. Simples assim!

Um comentário:

  1. Realmente, bons médicos e excelentes professores serão sempre lembrados por nós.

    De alguns, é fato que não me esquecerei jamais!

    Pena sofrerem com o desrespeito salarial....dia desses abriram um concurso aqui por perto cujo salário dos "doutores" girava em torno de 1.500 reais.

    Sem mais comentários.

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