quinta-feira, 9 de maio de 2013
Timidez, gagueira e epilepsia
Nasci gago! Acho que desde o ventre de minha mãe eu era gago aliás, como ela. Isso me marcou muito na infância (gaguinho, metralha etc.) e, principalmente, na adolescência. A gagueira é socialmente um desastre, nessa idade, um rastilho pra bullying (que nesse meu tempo sequer existia como fato reconhecível) e brutal para a construção de uma autoestima. Fui ficando naturalmente tímido e achei que habitava um mundo terrível. Não, ledo engano! Sempre pode piorar! Em 23 de setembro de 1961 (14 anos), na mesa do café, desabei desmaiado no chão, babando e me retorcendo. Acordei quatro horas depois com um diagnóstico, obviamente escondido por todos os meus familiares, de epilepsia, um mal socialmente devastador. Gago e epilético era demais! Meu pai me levou pro Rio e SP onde fiquei 30 dias fazendo todos os exames conhecidos pela medicina até então e podiam ser feitos nos grandes centros do país. O diagnóstico foi inconclusivo e achei que estava bom. Em 23 de outubro de 1963 (16 anos), um dia após o assassinato de Kennedy, aconteceu outra vez mas agora no páteo do meu colégio, caindo de cabeça no chão, batendo a testa em um resto de tijolo. Dessa vez foram sete horas desacordado. Aí veio a sentença irreversível: epilepsia meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeesmo! Por pouco não me suicidava. Mas, passei a vegetar: minha timidez virou síndrome de pânico de sair nas ruas e passar perto de uma menina virou um calvário. Aos 25 e já casado (não sem antes meus pais avisarem aos pais de minha então noiva do perigo que seria casar comigo e gerar filhos epiléticos), meu médico que morava em Belém me chamou para um novo exame que surgira. Fiz tudo o que seria viável pela medicina brasileira em 1973. Resultado: diagnóstico de cura! Mas pastei muito com as meninas, só me aproximando com uma para namorar, perto dos dezoito anos, tateando de vergonha. Ainda restava a gagueira e o pavor de falar em público. Estando no INAN e sendo Secretário Geral do órgão, em 1973, Dr. Gamboa me designou para dar palestras sobre as políticas e filosofias do INAN em diversas capitais brasileiras. Estava preparado na parte de conhecimento do assunto mas me tremia só de pensar em gaguejar. Tive um estalo de Vieira, divino, dos céus. Não escrevi a palestra e decorei com facilidade o sumário na cabeça. Quando eu comecei as palavras fluíam fáceis e fui aplaudido de pé quase duas horas depois. Só aprendi que o gago não gagueja quando fala coisas sobre as quais se preparou e as diz como se fossem uma fala de um personagem em uma peça~nessa época. Virei um sem-vergonha na mesma hora e dei show onde fui dar a palestra. Transformei-me em um instrutor, palestrante, conferencista e, finalmente, um exitoso professor. Perdi a vergonha, perdi a timidez, adoro dar aulas e falar em público. Virei um chato mas nunca mais um tímido. Quando me lembro da timidez, gagueira e epilepsia, o ritmo de meu título me lembra o genial bolero de Rosinha Passos, "Formicida, Corda e Flor", que irei postar em seguida. Só nunca mais tive a chance de estar tão perto de meninas tão lindas como as que dispensei na juventude. Ossos do ofício. Que fazer!
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A gagueira que você tinha certamente estava relacionada à epilepsia. Existem formas insidiosas de epilepsia que produzem sintomas não-convulsivos como a gagueira.
ResponderExcluirAssim como você, existem milhares de gagos que nem imaginam que a causa subjacente de seu problema é uma epilepsia oculta. Fico feliz que você tenha encontrado um tratamento eficaz.
Abs,
Dr. Leonardo Macieira