domingo, 19 de maio de 2013

De filosofia e tapiocas.

Domingo é muito especial para mim. Afinal, é o dia no qual, bem cedo, vou à Tapiocaria Mosqueirense sorver meu café preto adoçado com sucralose (o único que não amarga no fim, é extraído da cana e não engorda nem faz mal a diabéticos), acompanhando duas tapiocas secas com manteiga (a única exceção que me permito no diuturno combate contra o colesterol). Chego por volta das seis e trinta e ainda pego a cara sonolenta dos garçons, muitos chegando da esbórnia em suas motos não muito caras. Espero desvirarem uma mesa e cadeiras para mim e sento. A avenida está quase deserta. Belém acorda tarde pois sábado à noite é dia das aparelhagens, do tecnobrega, do "treme", sem falar no carimbó, siriá, lundu da ilha e marujadas de Bragança. Me fascina o recorte das casas baixas e dos muitos prédios altos, emoldurando um céu de muitas nuvens. Lá em cima os altos cirros, parecendo bordados filigranados com nesgas de céu bem azul como pano de fundo. Mais embaixo seguem-se os extratos e, baixinho, os cúmulos de algodão. Não! Não há CB's hoje, aqueles bem cinza chumbo ou até preto anunciando que o pampeiro vai desabar. De repente me dou conta de que sou o inverso dos astronautas. Eles, da grandeza de seu macrocosmo observam a nossa pequenez microcósmica curiosamente tão azul quanto a tonalidade que me protege agora. A imensidão do universo! Aí, prazeirosamente, começo a viajar sem drogas, exceto as que meu corpo produz. A imaginação e a admiração, esta, segundo Aristóteles e até Sócrates (citado,  pois nada deixou escrito para nós), a verdadeira mãe de toda a Filosofia. Aguça-se meu hemisfério direito, meu cérebro límbico e, deixando a lógica às favas, mergulho nas mais recônditas emoções que a vida nos permite. Interessante como, apesar de estar vivendo a quadra ou terço mais duros da minha existência, vejo e sinto esta cidade me abraçar com um carinho e um amor até então insuspeitado. Já morei no Rio, Brasília, Anápolis, São Luís, Imperatriz, Timbiras e Fortaleza, mas jamais me senti tão amado e abraçado por uma cidade. Então vejo quão tolo era o pensamento de um amigo que me falava que cidades boas, para nós, eram aquelas onde ganhávamos muito dinheiro. Insensato! Quanta distância entre a prata corrompida e o amor que me abraça sob um céu que me protege. Certamente por ter pisado as mesma pedras em minha infância, persiste o fascínio desse aglomerado que criou alma, corpo e um coração que bate uníssono com o meu. Não importam meus apertos ou se estou sozinho ou não, na cidade e até no universo. Mais do que nunca me sinto feliz aqui e agora. Opa, chegou meu café preto fumegante e minhas tapiocas vazando de calor e manteiga, É servido?

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