sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Bom dia para os desejos insatisfeitos.


Ah as coisas que deixamos de fazer! Já é lugar comum ouvirmos dizer que devemos nos arrepender pelo que deixamos de fazer não pelo que fizemos. Apesar de motivo estranho e muito pessoal para servir de mote a uma crônica e ainda considerando o fato de que não sou “celebridade”, mesmo assim gostaria de deixar registrado para a posteridade, meus desejos insatisfeitos no tempo de uma vida. Vamos lá para as coisas que gostaria de ter feito antes de morrer, não fiz e acho que não vou fazer,  pois sinto que já são muito improváveis hoje. Pular de paraquedas e dar um voo de asa delta, já que sou ferrenho crítico de todos os chamados esportes radicais, chegando a ansiar por finais infelizes (do tipo torcer para o leão comer o domador), todas as vezes que alguém arrisca a vida em troca de um uh huuuuuuu! Entrar em campo no antigo Maracanã, com quase 200.000 pessoas, num domingo de sol, junto com o time do Vasco em uma final de campeonato contra o Flamengo. Fazer meu doutorado (PhD) e pós-doutorado na Universidade de Stanford, na Califórnia, recebendo a aprovação da Tese com a menção suma cum lauda. Aqui cumpre explicar que PhD (Philosopher Doctor) é um título exclusivo para quem defende uma tese de doutorado em UNIVERSIDADE NORTE AMERICANA. Não existe PhD fora dos Estados Unidos. Na Grã-Bretanha é DPh (Doctor in Filosofy), ou seja doutor na filosofia da disciplina escolhida. Logo, não há PhD tirado em qualquer outro país do mundo, inclusive no Brasil, onde se usa o título de Doutor ou Professor Doutor. Desvirginar uma mulher pois, conscientemente, não tenho a certeza de ter feito isso alguma vez na vida. Se fiz, não percebi. Visitar o Egito, a Índia e o Himalaia, terras onde reside a origem de todo o misticismo antigo. Ter presenciado a uma pregação de Jesus Cristo. Perguntar a Marx por que ele chamou sua genial construção filosófica de Socialismo CIENTÍFICO quando a ciência é o único tipo de conhecimento refutável. Passar, pelo menos um dia, na presença dos meus mortos mais amados: Tio Ernane, Tio Edmundo, Tio Celeste. Tio Belarmino, papai, mamãe, André, minha prima Ilma e meu saudoso Anfrísio. Todos juntos fazendo uma “igrejinha”, tomando uma gelada e terminar jogando uma canastra uruguaia. Morar na mesma cidade que meu amigo Cássio. Publicar um livro dos treze científicos e um de poemas que produzi e nunca consegui mandar para o prelo. Voltar no tempo ainda a ponto de desfazer a maior idiotice que realizei em toda a minha vida, que foi acabar com meu casamento, praticamente jogando fora o amor de três filhos meus. Nunca ter fumado ou entrado em um cassino clandestino para jogar minha saúde fora. Surfar uma pororoca como meu pai fez, viajando sozinho e em noite escura, em uma lanchinha voadeira da Petrobrás, na foz do Rio Amazonas, mais precisamente entre as costas da Ilha de Marajó e do Amapá. Fazer um périplo de volta ao mundo em um desses transatlânticos supermodernos.  Ler todos os livros que deixei de ler. Com a velhice, exacerbar minhas virtudes e diminuir meus tantos defeitos. Ter nascido mulher só para ter útero e ovários, podendo parir um filho e compreender como é, na realidade, o universo feminino. Conversar com as pessoas que conseguiram resistir a forças muito mais poderosas e venceram, como Ho Chi Min, Giap, Fidel, Mao, Samora Machel, Mandela, Bolívar, Tito e outros menos votados, ainda que tenham usado mal o poder, posteriormente à vitória. Ter a genialidade histriônica do Anfrísio Nunes e a genialidade empreendedora de seu irmão André Nunes. Visitar os poucos rincões que não consegui atingir, em todo o Brasil. Passear de mãos dadas com uma velha que me ame romanticamente, em uma pracinha do interior. Ter feito mais terapias psicológicas do que fiz. Ser mais humilde. Comer algum manjar desconhecido em qualquer parte do mundo, pois comi tudo o que me apresentaram como comestível e gostei! Bater um papo com uma Carmelita Descalça, fora do claustro, para entender por que ela entregou sua vida à Igreja sem sequer poder ministrar um sacramento. Ter assistido, de uma colina e com potente binóculo na mão, aos quase quatro dias de duração da Batalha de Gettysburg, na Pensilvânia, aquela que decidiu antecipadamente o destino da sangrenta Guerra da Secessão Norte-Americana. Cavalgar um dia com Gengis Khan, Amilcar e Alexandre o Grande. Ter descoberto a identidade de Jack, the ripper. Visitar a floresta tropical da Costa Rica, percorrendo-a do Atlântico ao Pacífico. Falar fluentemente cinco idiomas. Andar um dia pelo Saara. Evitar o desastre que matou Albert Camus. Ter vivido em Paria nos anos vinte, sentando numa mesa de bar com Sartre, Simone, Anaïs Nin, Gertrude Stein, Virginia Woolf, Hemingway, Henri Miller, F. Scott e Zelda Fitzgerald, Ezra Pound e James Joyce. Tá bom pra vc?  Ser assistente de direção de Lang, Eisenstein, Kurosawa, Ford, Buñuel e Glauber. Rever todos os filmes nos quais chorei por algum motivo: tristeza, emoção e de rir. Ouvir minhas velhas fitas k-7, gravadas ao longo de minha vida. Assistir ao “rapto” da Igreja e subir junto. Rever todos os poucos mas enormes amigos que cultivei e não mais cultivo. Tocar piano como César Camargo Mariano, Luiz Eça, Wagner Tiso e Luiz Carlos Vinhas (um mix deles todos). Quero pouco, né? Gravar um CD de bossa-nova. Continuar a fazer as pessoas rirem , até meu fim neste plano. Dar aulas de pós-graduação até perder minhas forças. Não morrer afogado no seco. Assistir ao soerguimento do Vasco como o maior time do Brasil, como era nos anos 50, quiçá um dos maiores do mundo, hoje relegado a um terceiro plano no futebol brasileiro, pela incompetência de um grande ídolo (que na verdade conclui um processo iniciado há muito tempo) que sabia, como poucos, fazer muitos gols mas NADA entende de Administração. Ser amado e possuir a felicidade possível, aquela que a gente planta pra depois colher os frutos, bons ou maus. Simples assim!

2 comentários:

  1. Muito bom, papai!

    Acredito que algumas delas ainda são possíveis SIM nessa vida, nesse plano.

    O importante é sonhar em poder realizá-las. Deixar de sonhar é que é a merda!

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  2. Infelizmente, meu filho, neste estado que estou, nem sonhar é mais possível. Vê-se que vc não tem a mais pálida ideia do que estou passando. Mas vou poupá-lo até o fim. Firme!

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