quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Bom dia eterno para a questão indígena.


Assisti hoje, no jornal matutino da tv, uma cena que me espantou: um grupo alentado de índios invadiu a Prefeitura de Santa Luzia do Pará, entrou pelo gabinete do Prefeito, arrancando-o da mesa aos safanões, jogando-o contra a parede e ameaçando-o com arcos retesados e bicos de flecha a centímetros de seu corpo. Logo imaginei que se tratava de mais uma questão ligada ao centenário problema ligado às terras indígenas. Qual não foi minha surpresa ao ser informado de que os silvícolas ali estavam para protestar contra o afastamento do antigo Prefeito, por decisão da Câmara Municipal, empossando seu Presidente, em substituição. O Prefeito afastado pertence ao PT, que tem o apoio dos “povos da floresta”. Isso mexe com tantos fatos e ideias, que comportariam um livro inteiro, bem mais que um artigo. Tentando resumir, a questão indígena, no Brasil, tem sido resolvida ao sabor dos ventos. Retirou-se a responsabilidade jurídica, dando-lhes uma posição híbrida de relativamente incapazes mas esqueceram que isto também os torna relativamente capazes. Entregar esse problema aos desejos de governos ditos de esquerda significa romantiza-lo. Me parece muito pouco viável, em estrutura sócio-econômica absolutamente capitalista, tratar os índios  como cidadãos intocáveis e acima do mercado. Manter sua proteção como se fossem menores de idade, erige a figura do Estado-Babá a qual, aliás, já proliferam nas diversas “Bolsas” que se dá à plebe. Sempre a humanidade transitou com muita dificuldade ao examinar suas questões fundamentais, de maneira enviesada, de banda. Com algumas exceções, os países do Novo Mundo, África, Oceania e parte da Ásia foram colonizados pelos Europeus e optaram por duas saídas, entre duas viáveis: puxar os índios para formas protegidas de economias de mercado ou foram substituindo a cultura e os princípios coloniais, aos poucos ou abruptamente, como no Haiti, pelo comando dos detentores originais do domínio dobre a nação. No primeiro grupo encontram-se, por exemplo, Canadá, México, Estados Unidos e Austrália que abertamente segregaram suas populações indígenas e tutelaram sua sobrevivência, ora com evidente vantagem, ora largando-as a seus próprios destinos. No segundo grupo estão os países da América Central, a Bolívia e, mesmo politicamente sob o jugo de elites mas compondo maiorias populacionais étnicas, o Peru, o Equador e o Paraguai. Deixado de lado de propósito, o Brasil sempre tratou a questão indígena de forma capenga. No litoral dizimou ou aculturou desde cedo, importantes nações como os Gês, Tapuias e Aimorés. Contudo, ao interiorizar o progresso, pela ação das Entradas, Bandeiras e do Mal. Rondon e seus seguidores, culminou por invadir grandes territórios indígenas, carreando um simulacro civilizatório mais representado por elementos alienígenas como as doenças e endemias até então desconhecidas e que mataram enormes contingentes dessas populações. O próprio nome da Autarquia que originou as políticas indigenistas, no Brasil, explica o problema: Serviço de PROTEÇÃO ao Índio. Enquanto eles eram constitucionalmente transformados em bebês, esqueceram que manter crianças sadias, bem escolarizadas e alimentadas custa caro e o descaso veio se chegando. Ao perceberem que estavam sob a égide de um perigoso hibridismo, os índios passaram a desenvolver a esperteza de seus colonizadores, tentando tirar vantagem de sua condição jurídica de tutelados ao mesmo tempo em que desenvolveram importantes aspectos capitalistas e de mercado em seus territórios, como os pedágios, o extrativismo mineral, a abertura para neo-colonizadores muito bem equipados (como as Missões cristãs) e outras medidas de seus evidentes interesses. Em outras palavras, começaram a fazer uso comercial de suas figuras exóticas enquanto deixavam-se explorar por bem azeitadas máquinas de madeireiros, garimpeiros e até políticos interesseiros. Os militares, com suas políticas ufanistas tipo “Brasil ame-o ou deixe-o”, incentivaram a exploração sistemática e extrativista da Amazônia (Jari, Transamazônica, agrovilas e outras besteiras da espécie) mas permitiram a criação de verdadeiras nações, assim mesmo denominadas, como a imensa Reserva Yanomami, uma Holanda encravada no Brasil, onde não é permitida a entrada de brasileiros não índios, exceto com a permissão das autoridades locais. Impressionante como se comenta tudo a respeito da questão indígena mas NADA se fala ou ouve acerca dessa Reserva. Inclusive chegou a povoar a net o boato (ou fato?) de que os Yanomamis pleiteariam sua independência junto à ONU, baseados nos conceitos de direito internacional sobre os significados de nação e soberania dos povos. Existem, na verdade, muitos aspectos não muito bem explicados no trato dessa questão, contudo, me parece claro que não é possível seguir uma política indigenista a cada governo ou orientação política dominante no país. Evidente que deixar os índios à sua própria sorte em uma economia de mercado como a nossa, é comprovada prática de genocídio. Efetivar políticas públicas eficazes, para o setor e que pareceria ser uma solução inteligente, termina na anemia de verbas, notadamente escorridas no grande ralo da corrupção como também na incapacidade de nossos governos em planejar para um futuro superior a quinze minutos. Romanticamente retornar o caminho para o domínio indígena não é viável pela presença de pouca população remanescente; além disso o exemplo boliviano tende a não ser o melhor a ser seguido. Usar a hipocrisia atual de criar cotas para indígenas, iguala a questão por cima, em um patamar que certamente eles só alcançarão daqui a cinco gerações. Parece certo que não se pode cobrar, de mim ou de você, um débito histórico que é rolado e enrolado a mais de cinco séculos. Tampouco tende a ser civilizado assistir a índios invadir uma Prefeitura de interior a quase matar o Prefeito. Ainda que haja razões práticas pendentes e que, em princípio justifiquem essa atitude, os índios não podem ser incapazes de sofrer perdas e plenamente capazes para auferir ganhos. Inclusive no fato mencionado, a aproximação da PM ante a agressão foi bem diferente da saraivada de balas que matou sete meliantes em São Paulo e causou a carnificina atual que se busca varrer para baixo do tapete. É muito difícil, mas há que escolher uma política indigenista responsável e não paternalista e seguir com ela, alterando a rota conforme a realidade exija, com objetivos claros e metas quantificadas no tempo.  É isto ou teremos que conviver com índios, daqui a pouco, invadindo prédios públicos e privados, matando gente e ficando por isso mesmo. Duro é conviver com enormes terras produtíveis “retornadas” a seus domínios enquanto o Brasil, na Europa, pousa de salvador da pátria. Que pátria, cara pálida? Ou assumimos nosso capitalismo ou permaneceremos no limbo de um socialismo inexistente, na prática, onde índios, sem-terra, sem-teto e quejandos, estão se transformado em cidadãos de uma classe superior, acima do bem e do mal. Simples assim!

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