sábado, 20 de julho de 2013

De Quesnay a Zidane a França agoniza!

Nasci e me eduquei em um universo francofônico. A nobreza, e depois a alta burguesia, brasileiras respiravam o universo francês. Não vou fazer um longo ensaio até porque os poucos que me leem não suportam mais isso e de poucos passo a raros leitores. En passant lembro que todo o edifício teórico e pragmático do moderno pensamento político nasceu nas cabeças roladas da Revolução de 1779, aquele que, na verdade, jamais terminou. O edifício liberal econômico inglês de Smith, Ricardo, Malthus e Marshall não existiriam sem os alicerces fisiocratas lançados por Quesnay e seu fiel escudeiro Turgot, médicos pessoais de Luís XV, que idealizaram a produção comparada ao funcionamento do corpo humano, onde se abeberou Adam Smith, professor de filosofia moral da Universidade de Glasgow, para sua teoria das causas naturais da riqueza das nações. Como também o capitalismo não se teria se complementado, exacerbado e consolidado sem a enunciação da Lei de Jean Baptiste Say, para quem a oferta criava sua própria demanda e não o contrário como sempre se pensou. Daí apenas vieram os supermercados, shopping centers e todo o marketing contemporâneo. Na filosofia política, Hobbes e Locke não se teriam costurado sem o toque de Rousseau ao estender o liberalismo aos sistemas educacionais latinos, além da genial visão de Montesquieu com a separação dos poderes no sistema republicano. Na própria evolução do pensamento humano o quê dizer dos enciclopedistas D'Allembert, Diderot e do próprio Rousseau que conseguiram, em pleno Século XVIII, compilar todo o conhecimento da Humanidade até a edição de sua monumental obra. Berço do libertinismo dos anos 10 e 20 que transformaram a França e, mais especificamente, Paris, no centro do universo cultural então conhecido, pelo Quartier Latin passaram todos os exponentes da literatura libertária e revolucionária desde Marx e Engels (que moraram em Paris e incitaram a avassaladora Comuna). Lá, Lacan revolucionou a análise Freudiana e Jungiana, da alma do homem; Miró e Picasso lançaram as bases do cubismo da arte contemporânea, sem falar em Toulouse-Lautrec e outros geniais pintores e escultores a exemplo de Rodin; Sartre traz ao mundo o Realismo e o Feminismo; Comte e outros lançam a Sociologia e Lévy-Strauss os alvores da antropologia cultural. Na música, Chopin, Liszt e Debussy lá viviam e trabalhavam o mesmo que aconteceria com Stravinsky. Quando criança, em Belém e no resto do Brasil, ser galicista era chic enquanto o anglo-saxonismo soava como palavrão. A Cultura Inglesa e o Instituto Brasil-Estados Unidos tinham três alunos por sala enquanto a Aliança Francesa pululava das belas pernocas de nossas meninas. Em nossa língua, neologismos como fecho-eclair, abat-jour e dezenas de outras incorporavam nosso linguajar popular. Tive a ventura de ter um irmão mais velho intelectual desde 12 anos e que devorava, e me fazia devorar com direito a tomar a lição de casa, Collette, Françoise Sagan e Duras. Tive a ventura de ser apresentado à nouvelle-vague desde RiFiFi de Henry-Georges Clouseaux e Mon Oncle de Jacques Tati, até visitas quase diárias a Truffaut, Chabrol, Varda, Vadin e Godard. Nossas bronhas passeavam pelas sensuais imagens de Martine Carol, Mylenne Demongeot, Micheline Presle, Jeanne Moureau e, PRINCIPALMENTE, Brigite Bardot, nossa eterna Marianne, símbolo da República Francesa, depois imortalizada pela Belle de Jour, Ctherinne Deneuve e muito bem secundada por sua mana mais velha Françoise Dorleac. Sem esquecer os homenes mais bonitos da história do cinema mundial: Henri Vidal, Alain Delon e Jean Sorel. Até no futebol sempre nos curvamos à genialidade de um ataque fulmimante formado por Piantonni, Raymond Kopas, Just Fontaine, Jonquet e Vincent que só se dobraram a Garrincha e Pelé juntos. Mas nos rendemos a Platini e Zidane. Mas, afinal, por quê tanto lero-lero? Basta ver o que é a França hoje. Acho que não preciso falar mais nada, diante de nossa total rendição à cultura norte-americana. A classe, o refino e o bon vivant morreram no mundo junto com ele. Simples assim!

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