domingo, 21 de julho de 2013

As Grandes Vitórias Anônimas!

Morei sozinho muito pouco mas frutíferas vezes para meu crescimento pessoal, especialmente. Já quando residia com minha mãe em Fortaleza, seus dois últimos anos de vida foram quase de reclusão para mim. Contudo, desde que deixei a casa de minha amada prima Venise, a irmã mulher que a natureza não me deu mas a vida me permitiu ter, no exato dia 31 de outubro de 2011, quando mudei para meu querido Carandiru, estou por mim e por Deus. O fato de morar só em um momento já passado de idade, aos 65 anos, principalmente para um eterno dependente de mãe e depois de mulher, ambas extremamente cuidadoras, ao invés de se transformar num tormento pessoal, virou um delicioso desafio contra minhas carências naturais e adquiridas. Incrível como você descobre, quando não tem praticamente ninguém que lhe resolva as coisas, como é importante desenvolver, mesmo na terceira idade (melhor idade é coisa pra quem não teve infância, adolescência nem vida adulta profícua), certas habilidades que se transformam, na verdade, em vitórias muito comemoradas no recôndito de sua alma. Apesar de algo dotado de conhecimento, raciocínio e inteligência, a sabedoria prática sempre passou a quilômetros de mim e algumas coisas tão simples para outras pessoas, pra mim sempre foram um tabu quase intransponível como, por exemplo, trocar uma lâmpada e remontar um controle remoto ou ainda celular que se espalha pelo chão passando pelos invisíveis, mas bem efetivos e enormes, buracos que se criam nas mãos dos velhos. Assim, toda a vez que logro reparar um monstro desses é como se eu tivesse redescoberto a eletricidade ou reinventado a roda. Coisa parecida como comemorar um golaço em final de campeonato. Quer ouvir exemplos práticos? Então lá vai! Tomo uma média de cinco litros de água por dia, isso me leva a adquirir dois garrafões de vinte litros de água, a cada oito dias. Tive que penar para bolar um funil cortando uma garrafa pet em um terço do seu tamanho. Armazenar garrafões menores de cinco litro cada (dá para encher oito). Conseguir passar essa água toda para os pequenos garrafões sem derramar uma gota virou um desafio que venço a cada semana. Imagina descobrir que, levantando de leve o funil não se forma um colchão de ar que faz o fluxo da água ir preenchendo a parte de cima do funil, liberando-a para encher os outros recipientes menores sem perder uma gota. Claro que há a tentação de pedir, como sempre fiz, para "técnicos", "faz tudo", "curiosos" e quejandos, para fazerem as coisas em meu lugar, obviamente compensando seus serviços com um dinheiro que hoje não tenho para gastar. Justamente essa vitória pessoal, escondida e anônima, me faz sentir um campeão de vida. Sempre contestei cientificamente, e contestarei sempre, os princípios da astrologia sobre a influência da conjugação dos astros sobre a personalidade das pessoas. Todavia, fiel ao princípio de que "no creo en brujarias pero que las hay, las hay!", realmente sou um chato metódico e me cobro muito pessoalmente esquecimentos, derramamentos e outros mentos que apenas morando sozinho percebi que tinham vindo pra ficar, características propaladas aos virginanos, como eu, nascido em 17 de setembro. Instalar um engraçadíssimo check-list na minha porta de saída, como um avião prestes a decolar, foi uma das coisas mais geniais que realizei, no caminho de parar de esquecer tudo, já quando estava no trabalho e retornei três vezes, a pé, pra pegar em casa chaves, remédios, penn drives, trabalhos realizados no fim de semana etc. Até hoje ainda me olho no espelho para confirmar se fui eu mesmo, sozinho, que instalei meu novo aparelho de DVD, o forno de microondas, a navegação do controle remoto da TV a Cabo. E quando consigo "inventar" algo que para mim jamais existiu? O mesmo que socar o ar comemorando um golaço que só Pelé seria capaz de fazer! Navegar pela Internet, achando a pesquisa, utilizar um penn drive, um CD-R, abrir um DVD de imagens, salvar o arquivo de uns nos outros, coisas corriqueiras para uma criança de dois anos, para mim equivalem a cruzar o Cabo das Tormentas e não morrer na travessia. Fazer uma elogiada crônica usando minha prodigiosa memória é coisa que faço em quinze minutos sem levantar a cabeça do teclado do computador. Difícil mesmo é saber o dia do aniversário das pessoas que HOJE mais prezo na vida; acertar um caminho novo em uma Belém que não via há quase 50 anos; economizar dinheiro e bens de consumo; lavar minha louça, especialmente minhas seis taças de cristal só tendo que repor uma única em dezoito meses de lavagens quase diárias; diminuir minha ajudadora antes de três vezes por semana, para a atual UMA ESCASSA VEZ A CADA SEMANA; descascar cebola, alho e pimentão; fazer orçamento de gastos e NÃO SAIR DELE NEM POR TORTURA; perder o peso excessivo, andar muito, comer simples, ou seja, adquirir hábitos saudáveis de vida, não para retardar ou temer a morte, mas para VIVER ATÉ MORRER, sem vegetar antes, em uma cama por um AVC ou coisa que o valha ou numa cadeira de rodas pelo pulmão destruído pelo fumo; mudar rotinas, adaptar o tamanho do estômago às novas exigências da idade; reconhecer que você está cumprindo o processo natural de envelhecimento e isto NÃO SIGNIFICA morrer em vida; conhecer e reconhecer sua fé em Deus e praticá-la nas pequenas coisas do seu cotidiano; comemorar cada vitória não contra a natureza mas seguindo seu curso sem sobressaltos. São minhas fantásticas vitórias anônimas de meu dia a dia solitário mas nunca sozinho! Simples assim!

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