domingo, 28 de julho de 2013
ANIMAL OU HOMINAL?
Tenho um dos grandes e velhos irmãos que eu me permiti escolher pela vida, o Cássio Seixas (menciono o nome pois sei que ele me dá esta liberdade poética), que falava uma coisa muito engraçada quando, frequentemente, nos alimentávamos juntos: o Luiz arruma a comida em seu prato com tanto esmero, usa garfo e faca pra misturar tudo e depois aproximar o montinho, puxar das beiradas do prato, num ritual tão incrível que, muitas vezes, mesmo tendo o costume de só comer um prato eu sinto a vontade de me servir de novo! Isso me veio a mente a propósito de uma cena parecida que acabo de presenciar no café da manhã. Um senhor um pouco mais velho que eu, algo entre 69 ou 70 anos, que trouxe os ingredientes de seu café da manhã da mesa principal e os colocou cuidadosamente à sua frente. Pegou um simétrico ovo frito com gema mole, abriu vagarosamente um pão francês estalando de quente, voltou-se para o ovo e reiniciou seu ritual formal: cortou o ovo, com muito jeito, em cruz, pegou uma das quatro partes da divisão perfeita, voltou-se para o pão, levou uns 40" cortando vagarosamente ao meio, tirou o miolo, limpou as mãos no guardanapo e voltou à sua faina deliciosa. Pegou o ovo com colher de sobremesa, brilhando, e foi agasalhando o ovo com precisão cirúrgica na "caminha" de pão. Verificou se tinham gotas perdidas pelas bordas, fechou com cuidado, passou uns 30" mirando sua obra-prima, tal qual Michelangelo extasiado com seu Davi, e deu uma cuidadosa dentada, com absoluto carinho para evitar espadorrar (termo usado por minha saudosa amiga Maria Drummond) a gema pão afora e queixo abaixo. Engoli em seco e por pouco não plaudia de pé aquela maravilha do mundo animal, ou seria HOMINAL? Na verdade me vieram à mente os felinos, com muita fome, abocanhando e estraçalhando suas presas, enfiando, goela abaixo, couro duro com pelo, ossos, tudo junto com as vísceras molezinhas ou os filés mignon de zebras, gnus e búfalos ou mesmo nossos queridos tubarões cabeça-chata de Boa Viagem, castigando os fêmures de suas incautas vítimas ou até mesmo nossos primos próximos, os babuínos, apertando crânios bem "macios". Se somos animais MESMO, nós temos algo mais que fome. Temos apetite, paciência à mesa, prazer em comer, olhos gulosos mas comedidos. Nossa voracidade é controlada e fica a milhões de milhas de distâncias dos animais. Nessas horas em que duvido de nossa qualificação como membros do reino animal, é que mais e mais me convenço de que temos uma centelha fantástica e inexplicável racionalmente, que nos faz ocupar uma posição diferente no Cosmos. E, como dizia o Teólogo católico Teillhard du Chardin, no mundo do cósmico só o fantástico tem a possibilidade de ser verdadeiro. Decididamente, pelo menos aquele homem que acompanhei seus cuidadosos e estudados momentos, hoje, pelo menos ele, não é, definitivamente, um animal mas uma destacada criatura de uma força superior que, por cautela, prefiro não nominar para não ferir susceptibilidades, notadamente de ateus e agnósticos. Simples assim!
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