terça-feira, 11 de junho de 2013

Duas historinhas ditatoriais!

O cenário é a Brasília de 1965. Castelo Branco no poder. Falavam que era liberal pois não fechara o Congresso nem extinguira os Partidos. Não interessa! Rasgou a Constituição de 1946 e era um Ditador como todos o são! Vinha eu pelo Eixo Rodoviário Sul em direção à UnB, em nossa "Pracinha" a caminhonete popular da DKW-VEMAG. Eu dirigia, tendo ao lado meu falecido irmão André e, no banco de trás, José Araripe e Etel Garcia, que seria a primeira esposa de meu irmão. Trânsito livre pois era algo como 6:45 da manhã. Eixão livre eu ia algo como 110 km por hora. Nisso escuto uma barulheira de sirenes e buzinas atrás e levemente à minha esquerda. Tomei um baita susto com o grito do Araripe, "Encosta do lado esquerdo". Instintivamente diminuí e, quase parando fui me escanchando no meio-fio a tempo de ver uma comitiva voando baixo, vindo pela faixa central, com um carro preto no meio, Veraneios à frente e atrás e umas seis Harley-Davidson dos "Catarinas", como chamávamos os loirões do Batalhão da Guarda Presidencial - BGP. Apurei a vista e assisti aquele anão esquálido sentado, solitário, no banco de trás: era Castelo! Muda o cenário para o cinema da Escola Parque, centro de solução dos problemas do mundo, pela esquerda festiva que eu frequentava junto com o mesmo André, o mesmo Araripe e a mesmíssima Etel, querida Etel! Estávamos esperando um jovem pianista brasileiro que acabara de ganhar um concurso internacional de Chopin, imaginam aonde? Em Varsóvia, terra do homem. Era Arthur Moreira Lima, com cara de bebê. Marcado para 21 h o concerto estava atrasado. Pelas 21:45 h, as vaias já pipocando, quando entra o tricolor Moreira Lima, assustado. É vivamente aplaudido quando se ouve um zum-zum vindo da entrada do cinema. Entra aquela coisa de terno escuro; dirige-se à beira do palco e estende a mão para Arthur que, mais assustado ainda, desce do banquinho do piano, ajoelha-se e pega a mão do ditador. Vaias esparsas estouram, amedrontadas pela presença de muitos gorilas de terno amarrotado, da segurança. Me abaixo na poltrona e vaio alto, desencadeando uma baita e uníssona vaiona. Foi meu maior e único ato de coragem na vida. Simples assim!

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