domingo, 23 de junho de 2013

A TERRA E O OVO!

Dependendo do observador a Terra é um ovo ou um imenso gigante suspenso no Cosmos. Só aqui, no nosso minúsculo sistema solar, Júpiter e Saturno (apesar de gigantes gasosos) e Urano (massa como a da Terra)  são maiores. Mas, para um ácaro, uma bola de basquete deve se assemelhar ao planeta em que vivemos. Tudo muda conforme a grandeza do observador e do observado. Vejam o que me aconteceu hoje de manhã! Moro num condomínio muito bem localizado na parte mais viva de Belém. Tem horas que me lembra Copacabana de madrugada: tem sempre gente (viva, é óbvio mas é prudente lembrar) passando, bares abertos e tudo o que me faz bem aos quase 66. Por isso insisto em ficar neste lugar de classe "d", carinhosamente chamado de "Carandiru" pela minha família. Realmente só para chegar à minha porta passo por três portas de grade que fazem barulho de ferrolhos grandes se movendo, exatamente como deve ser em um presídio. Os prédios (pavilhões) são muito simples e os corredores (alas) dão acesso aos apartamentos minúsculos (celas). Talvez por isso a vizinhança não é muito de arreganhar sorrisos nem trocar cumprimentos mesmo informais. A maioria mora de temporada e tem sempre pressa. Quebrei um pouco o protocolo fazendo uma amizade de vizinhança com o morador da minha esquerda, um simpático professor do ensino médio. Mas, o que sempre me impressionou foi o vizinho da porta seguinte. Um homem de idade talvez um pouquinho maior que a minha, porte de atleta, alto, magro mas sarado, cabelos e cavanhaque muito brancos, como algodão, fartos e sempre bem cuidados. Exala cheiro de colônia de boa qualidade e está sempre bem vestido. Não tem aquela curvatura nas costas, sempre ereto. Tenho raríssimos contatos com ele mas, sempre que ocorrem, trocamos palavras muito gentis, percebendo uma voz bem colocada e vernáculo escorreito. O máximo que nos permitimos foi a troca de nomes, Antonio ele e Sérgio, eu. Hoje pela manhã descemos juntos pela escada como sempre com pequenas intervenções formais do tipo a quanto tempo não nos vemos, como vai tudo e coisas do gênero. Notei que não nos dirigimos para a saída do condomínio mas em direção ao nosso amigo comum Tony, um americano de Memphis, Tennessee com quem treino meu inglês diariamente pra não perder a embocadura (ele já me falou, para meu gáudio, que tenho sotaque bostoniano, ora vejam só!). Falando com Tony em inglês notei o silêncio do Antonio, pedimos desculpas e continuamos a falar em Português quando passa uma mocinha fugindo do cachorro do Tony, que enche o saco de meio Carandiru mas nunca havia mordido ninguém, Dessa vez ela deu uma babada na batata da perna da menina, claro que protegida pela grossa calça jeans. Ela passou a mão na saliva umedecendo-a. Antonio lhe disse: vá lavar pois isso é perigoso; minha sogra morreu de hidrofobia mordida de leve por um cãozinho da casa que passou um dia na rua. Lembrei-me de história igual, ocorrida em minha infância com a esposa de Atreu Baena, um velho amigo de meus pais e falei o caso. Aí ele se espantou e disse: estamos falando do mesmo caso! De onde você conhece aquela família? Eu falei que era o caso da esposa do Atreu, pai do Emílio, Verinha e Ronaldo e como eu os conhecia até passando férias na fazenda Curuxís, no Marajó. Aí ele mais espantou-se: Eu sou o ex-marido da Verinha e você. Então quase gritei, com minha memória paquidérmica: Antonio Manoel Santos Silva Pimentel Piqueira? Ele disse sou eu! Terminei já explicando: sou o Luiz Sérgio e ele completou, filho da Raquel e do Alair, irmão mais novo do André? Findamos, tão rápido quanto já exigia nosso jejum, ouvindo nossas histórias sobre quem morrera e onde estava o resto do pessoal. Agora não somos mais Antonio e Sérgio, dois desconhecidos, mas Piqueira e Luiz Sérgio, dois colegas contemporâneos de Colégio Nazaré, com histórias muito próximas! Ah, ele está com 69. Simples assim!

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