Hehehehehehehe, meu amigo, não me cutuque na ponta do fígado como está fazendo. Como um professor universitário muito consciente do que fez e ainda poderá fazer, esse sistema é, no mínimo, rocambolesco. Você se esforça por dar aulas substantivas, ou seja, aquelas em que se foge o máximo possível das soluções de algibeira, dos modismos, mantras, gurus e curandeiros de toda a ordem que buscam adjetivar o saber. Notadamente nos cursos de humanidades, ensinar essas práticas salvadoras faz com que o aluno, ao se formar, saiba de tudo das novidades na praça lançadas durante os seus quatro ou cinco anos de graduação; ocorre que, no momento seguinte, já estará desatualizado. Existe uma Teoria Científica subjacente ao ensino e estudos das ciências sociais e que deve ser respeitada como alicerce de todo o novo saber. Isso não é feito pois procura-se pasteurizar, padronizar e empacotar o saber, preparando-se os alunos para um mercado mutante. Meanwhile, poucos estão inseridos no custoso contexto de aprender a saber, compreender, digerir, analisar, sintetizar e, só então partir para um abraço. Tiro desse rol, por óbvio, as universidades públicas federais. Nesse diapasão temos que considerar a aculturação e os processos de educação formal e informal dos alunos, desde a primeira infância, criando uma espécie de caldo cultural adrede adquirido. O que falta, infelizmente e por situações odiosas das quais tenho ciência e não se resolvem sem o sacrifício de três ou quatro gerações, é um nivelamento, mesmo por baixo, desde a aprendizagem dos primeiros sons, fonemas, números, letras, palavras, frases e assim por diante. Quando você, após hercúleo esforço de docentes e discentes, consegue uma padrão mínimo ou nível básico de compreensão substantivada, lhe enfiam, goela abaixo, 50% do tamanho da turma formados por novos alunos absolutamente despreparados para acompanhar até o ritmo que você tentava negociar com os antigos. Aí se instala uma terrível "Escolha de Sofia": paro com a evolução normal já negociada com a turma preexistente ou mantenho as coisas como estavam e passo a praticar, com os "cotados" o temível pacto da mediocridade (eu finjo que ensino e vocês fingem que aprendem?)? Não há solução eficiente. Tudo se resolve no campo da politicagem eleitoreira e de uma estúpida ideologização da educação. Se você pretende dar uma solução séria ao problema educacional brasileiro, faça como a Coréia do Sul e comece pela alfabetização, alimentando as crianças, mantendo-as pelos menos oito horas diárias no ambiente escolar e, então, nivelando todos quer sejam os coreanos negros, pardos ou mesmo os índios coreanos. Depois da base feita, faça como a Índia pós-Ghandi que mandou TODOS os formados pelas poucas universidades indianas, para fazer pós-graduação (Lato e Stricto Sensu, Doutorado e Pós-Doutorado). Só então você estará em condições de equalizar o problema EM TODOS OS SEUS NÍVEIS além de alavancar um desenvolvimento realmente sustentável, no fundo a melhor resultante do processo educacional. Basta ver que a Índia, hoje, possui a maior quantidade de doutores em todo o mundo e conseguiu desenvolver o maior cluster em Tecnologia e Ciência da Informação e da Computação, passando inclusive o Vale do Silício na Califórnia. Enquanto isso, a Coréia do Sul ostenta níveis de excelência educacional e padrão de vida do povo (índice IHS e outros parâmetros melhores ainda) comparáveis à Escandinávia. Mas no Brasil as coisas se fazem por quilos, no caso por toneladas, justamente para comprovar nosso complexo de commoditie. Em suma, a corrupção não deixa as verbas chegarem às pontas dos sistemas que necessitam delas como camelos não entijolados há mais de noventa dias perdidos no Saara; não existe planejamento exceto para um universo de QUINZE MINUTOS, isto é, o tempo necessário pra se dar bem numa jogada mensaleira, por exemplo; não se resolve a questão levantada pela necessidade de cotistas, de forma estrutural, daí restando um círculo vicioso que explode na cara dos mais necessitados. Não existem soluções milagrosas do tipo sopa de pedra para os famintos. Sem dinheiro não se chega a lugar nenhum, da mesma forma que um navio que desconhece seu destino final, sabendo apenas a primeira escalada em um portinho escondido no meio de nada. Assim como as Bolsas apenas resultam em números fantasiosos de extinção da pobreza, já que ninguém fala sobre os milhões que já regrediram pela falta de políticas públicas de sustentação dos avanços ou ainda contrapartidas sérias dos beneficiados; dessa mesma forma as cotas, com brilhantes exceções de pessoas que se fizeram na vida com um portentoso sacrifício individual, a exemplo do Ministro Joaquim Barbosa, levarão milhões de negros, mulatos, índios e outras "minorias" a um limbo de incompetência, portando um lustroso diploma na mão, e que não os levará, nem o Brasil, a nenhum lugar de destaque. Na Coréia do Sul o ensino está socializado e a profissão de professor, desde os de alfabetização até dos PHZ's (já passaram por D, E, F etc.), têm um PISO salarial de 12.000,00 DÓLARES. Isso é criar uma solução para um país dividido e destroçado no início da década de 50, por uma guerra civil devastadora e utilizada pelas grandes potências como marketing de suas benesses. Eu lamento muito isso tudo, principalmente porque, gosto de repetir, vejo que a solução está na vontade de gerações futuras, bem distantes do tempo de minha própria história!
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