PARA ANDRÉ DA COSTA NUNES FILHO
Quando aconteceu uma hecatombe em minha vida, com a perda de todos os nossos bens, minhas famílias (nuclear e consanguínea) entraram em diáspora. André, meu irmão, foi para Manaus. Eu e minha família (mulher e quatro filhos) fomos para São Luís do Maranhão. Meus pais saíram da Miguel Lemos com Atlântica, em Copa, e foram dar costados em Valparaíso I, no entorno de Brasília. Os desdobramentos disso, no final de 1982, foram terríveis em todos os sentidos. Muito pranto e ranger de dentes, não só pelo que se perdeu, mas pela impossibilidade material de refazê-lo e a dificuldade de enfrentar tudo de novo, já perto dos 40. Regularmente nos comunicávamos, chorávamos nossas dores comuns mas seguíamos em frente. O primeiro grande alento que nos surgiu foi quando soube que meu irmão, André Barros, estava trabalhando para o André da Costa Nunes Filho, irmão do Anfrísio, casado com nossa prima Venise, e estava se deslocando para Itaituba, oeste do Pará, no Tapajós, abaixo de Santarém. Ele me explicou que estava indo agenciar a Filial da TABA (Transportes Aéreos da Bacia Amazônica) cuja representação pertencia a ANDRÉ NUNES, o inesquecível tipo que preenche a motivação desta crônica. Depois de meu irmão tentar pintá-lo como um gênio incomparável dos negócios, tive a ventura de, num deslocamento casual do meu irmão para me visitar em São Luís, afinal, conhecer André Nunes. Estava no Hotel Villa Rica, um dos dois five stars da cidade. Fomos jantar juntos e vi, pela vez primeira, aquela figura extremamente morena, bronzeado como o Júlio Iglezias e portando dois faróis azuis, de fazer inveja à Elizabeth Taylor. Fiquei fascinado de como esse empreendedor, misto de índio, caboclo e europeu sergipano, discorria sobre estratégias, planejamentos, ações, coisas das quais só ouviria falar, com a mesma profundidade, quando fiz meu Mestrado em Administração, na Universidade de Brasília, em 2001. Sua retórica era de Platão; seus gestos de um prima ballerina do Royal Ballet; sua argumentação mayêutica (socrática) destruía em segundos ideias contrárias; suas colocações rolavam soltas mas com peso de um Caterpillar. Cedo percebi que para ele não existiam mini ou midi, só mega e que se tratava de um grande visionário, do porte de outros conhecidos da História como Onassis, Howard Hughes, Akio Morita ou Ted Turner e fascinado, me senti abandonado quando, horas depois ele partiu. Depois, André Nunes montou uma fantástica obra de sonho chamada SQUEMA: uma prestadora de serviços de limpeza e desinfecção de fichas telefônicas em praticamente todo o Brasil e lá levou o André Barros para São Paulo, Florianópolis, Brasília e sei lá quantas outras capitais. Meu irmão vivia no ar e quando baixava ao solo e o André Nunes aparecia, o Barros me dizia: acabou meu trabalho; André me chama no Hotel, para os relatórios, mas tudo regado a Balla 12 e tudo para. Não tinha putaria, não pintavam mulheres nem sacanagens comuns entre dois machos brasileiros fora da sede. Os assuntos eram futuro, estratégia, vantagens competitivas além dos dois elementos principais: beber até chamar Jesus de Genésio e conceber uma Organização futurística que açambarcasse inúmeros ramos de negócio, numa organicidade quase impossível num tempo sem computadores. Mas não para o André Nunes. Confesso que babei de inveja por todo o tempo que o sabia tão perto e não poderia trabalhar para ele pois já estava remontando minha vida no Maranhão. Perdi seu contato por volta de 1988/89. Agora, em maio de 2011, chego vencido e vendido de volta a Belém do Pará, quando nosso sobrinho comum, Luiz Cláudio Nunes me dá em mãos duas obras literárias: A Batalha do Riozinho do Anfrísio e Diário de um velho comunista! Muito abalado e doente fui sorvendo em goles gulosos aquelas duas obras-primas, até acaba-las e mandar um mail ao André, o Nunes, expressando minha incomparável admiração pela qualidade literária das obras, felicidade do argumento e estilo de escrita de roteiro cinematográfico de Quentin Tarantino: começo pelo fim, meio pelo começo, fim pelo meio. Abismado, foi o único adjetivo que encontrei. Na insana luta pela sobrevivência acabei por deixar esse monstro sagrado pelo caminho. Agora ele me volta, duro mas terno, exatamente como o Che, floreando e iluminando o resto do meu caminho. É Restaurateur do Terra do Meio, fantástico empreendimento gastronômico-amazônico no Sítio do Uriboca, pedaço virgem da floresta quase dentro de Belém. Já era ambientalista sem o saber. Não quero rasgar seda; não sou cabotino e nem busco elogios vãos, assim como estou abrindo o único espaço que uso para crônicas, meu blog, para homenagear essa figura. Só queria que todos soubessem que se não existisse este, a natureza teria inventado um clone e, para mim, resta o consolo que sempre anima minhas esperanças: que bom que ainda estou dividindo um mesmo tempo de vida e um mesmo planeta com André Nunes da Costa Filho! Simples Assim!
Sem dúivida alguma, deve se tratar de um cara muito bacana e especial diante do relato, papai!
ResponderExcluirAndré Nunes faz parte de meu seleto grupo de tipos inesquecíveis, junto com Tio Edmundo e papai.
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