Bom dia, para os idosos, como eu.
Nasci em 1947. Quando tinha uns sete anos (1954) comecei a tomar conhecimento
da finitude da vida e fiz meus cálculos. Os mais interessantes eram saber
quantos anos eu teria na virada do século XXI, 2000/2001. Dava entre 53 e 54
anos. Pensava então: claro que estarei morto nesse tempo! Nos anos 50 partiram,
de uma penada só, meus avós maternos com 64 e 67 anos. Meu avô paterno, de
Manaus, já tinha ido no dia em que completou 50 anos. Meus dois tios mais
queridos foram aos 44 e aos 51 (em 1963 e 1971, respectivamente). Isso tudo,
somado ao fato de morar em uma cidade com esgotos a céu aberto e num dos
Estados mais pobres da Federação, além da cultura vigente, me faziam imaginar
que a velhice começava por volta de 40 anos. Minha mente começou a se preparar
para meu envelhecimento físico muito cedo. Além disso, meus conhecimentos em
História me diziam que o passado realmente condenava. A expectativa de vida de
um ser humano, ao nascer era, no Paleolítico, de 19 anos; no Neolítico, 22; em
4.000 a.C., 25; entre os séculos XV e XVIII, 30; entre 1750 e 1950, 55; entre
1950 e 1993, 80 anos e, a projeção para o final deste século é que tenhamos, em
média, uma vida de 115 anos. Claro que esses números valem para o sítio
exemplar da História que é a Europa Ocidental (Cotrim, 1996). No Brasil, por
volta do meu tempo de vida, segundo dados de 2003, do IBGE, em 1900 os
brasileiros tinham uma expectativa, ao nascer, de viver 33,7 anos em 1900; 43,2
em 1950; 71,3 em 2003; 75,3 em 2025 (se eu viver até lá, terei 77/78). Claro
que a questão que busco analisar não é meramente estatística. Idosos têm sido
vistos já como um problema, notadamente na visão de mercado capitalista voraz,
pois gerariam déficits enormes e quebra das Previdências ao redor do mundo. Em
todos os países “sob ataque especulativo”, a primeira coisa a se fazer é cortar
aposentadorias ou, o que me parece evidente e necessário, atrasar o inícios
desses benefícios que, no Brasil, sempre foram marcados para muito cedo. Há
gente aposentada entre 40 e 50 anos. Evidente que é válido que nós, idosos, já
contribuímos com nossa parte do sacrifício para manter gerações futuras. Ocorre
que, na verdade, as condições de sobrevida estão melhorando e ESTAMOS VIVENDO
MAIS QUE O DESEJADO.....pelos outros! Confirmadas as projeções estatísticas (e
nesse campo elas tendem sempre a acertar), em 2015 (logo daqui a três anos),
seremos 15% da população mundial ou, pasmem, UM BILHÃO DE PESSOAS! No Brasil,
que possui seus dados próprios, nossos números saltaram de 2 milhões, em 1950,
para seis em 75, 14,5 em 2.000. Porra, isso significa que, a cada ano, 650.000
NOVOS SEXAGENÁRIOS são incorporados à população geral. O problema que aqui
trato diz respeito a que somos consumidores, comemos, vestimos, ainda nos
divertimos mas escasseiam as oportunidades de trabalho para nossa faixa etária.
O Brasil, o país das idiotas cotas segregacionais para negros, pardos e índios;
outras justificáveis para portadores de deficiências, não respeita os seus
velhos. Não precisamos de cotas só de um mínimo de respeito e inteligência no
trato da questão. Apesar de eu possuir um razoável currículo de 69 páginas no
Sistema Lattes, do CNPq, com exatos 45 anos de experiência em trabalhos
diversos, três graduações e um mestrado na Universidade de Brasília, sou
seguidamente humilhado em minha terra, Belém do Pará, onde parece que
professores velhos, os mais procurados nas nações desenvolvidas, por seus
conhecimentos e vasta experiência, simbolizam restolho do “mercado” e incapazes
de competir com os mais jovens e INEXPERIENTES, como fui um dia. Claro que não
vou desistir, até por uma questão “simples” de sobrevivência, mas sinto que
chegará o dia em que as forças, ainda abundantes em mim, poderão começar a
faltar e, aí sim, temo passar à categoria de peso morto. Bom seria continuar no
Mercado até porque prossigo contribuindo para a Previdência e pagando tributos
Até lá, gostaria de dividir com meus poucos e mui eventuais leitores, uma velha
frase dita por um professor meu, ainda do antigo Ginasial, que foi chamado de
velho por um jovem colega: Filho, minha velhice é definitiva mas sua juventude
é passageira. Simples assim!
adorei esse texto, papai! já trabalhei no min. previdência e aprendo que o cálculo da contribuição é cruel mesmo.. não tem como fechar!!
ResponderExcluirMactubby (nem sei como se escreve). Ter um texto elogiado por você é um prazer inexcedível. Você é o melhor cronista da família, onde existem eu, Augusto e a bissexta Carolina. Todos se expressam muito bem, mas vc produz antologias. Tomara que se empolgue, como eu, e passe a escrever com mais assiduidade.
Excluir