sábado, 15 de dezembro de 2012

Mau dia para a violência inexplicável.


Ah a violência inexplicável. Tem sido difícil entender o que está se passando nos Estados Unidos com esses constantes e brutais ataques a escolas fundamentais, high schools, universidades, parques, lanchonetes, postos de gasolina e outros locais públicos. Me lembro que esse funério modismo começou em 1º de agosto de 1966, quando 14 pessoas foram mortas e 31 feridas quando um ex-Major dos Marines, Charles Whitman, subiu na torre mais alta da Universidade do Texas, em Austin, e se serviu com a mira telescópica de um potente fuzil. Antes já havia matado sua mãe em casa a facadas. Então tinha 16 anos e me lembro que fiquei estupefato com o ocorrido, principalmente com os detalhes sobre o armamento e a incalculável quantidade de munição encontrados em sua posse, após ser morto por policiais. Desde então penso que não se passam um ano sem que enfrentemos episódios assemelhados e no mesmo país. A coisa cada vez toma aspectos mais grotescos. Quando comecei a pensar seriamente sobre o assunto, ainda o fiz sob a lógica maniqueísta sob a qual fui educado. A eterna luta do bem contra o mal. Na Carta de S. Paulo aos Romanos está bem clara a luta permanente do homem contra os principados e as potestades do ar, muito em razão da carne militar contra o espírito e o espírito contra a carne. Santo Agostinho, um ex-maniqueu declarado (Ordem da qual faziam parte os maniqueístas), só se alfabetizou aos 33 anos e logo leu justamente a Carta aos Romanos. Sua pregação, já que diferentemente de Santo Agostinho (um intelectual do Alto Clero) era um vibrante orador para as massas incultas e membro do Baixo Clero, possuía o arroubo do medo e da ira contra Satanás e os Infernos, muita vez sobrepujando o amor a Deus, criador de todas as coisas e que, teologicamente, teria gerado ou pelo menos permitido a proliferação do mal, conforme o Versículo sete, do Capítulo 45, do Livro do Profeta Isaías, que diz: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”. Ora, como pelo meu finito e falho conhecimento não consigo explicar essas coisas e muito menos possuo sabedoria espiritual para entender a permanência do mal num mesmo ambiente com o Deus onipotente, abandonei de propósito essa parte da minha análise. Passei para a segunda razão mais plausível e criticada muito pela minoria espalhafatosa dos antiarmamentistas norte-americanos, corporificada na facilidade da compra legal de armamentos, constitucionalmente permitida naquela Nação. Na verdade a maioria silenciosa daquele país possui armas e, muitas vezes, muitas armas em casa. Caçam com os pais desde bem novos; praticam tiro ao alvo em zilhões de clubes especializados; desde a segunda guerra mundial já devem ter invadido uns cinquenta territórios estrangeiros. Na verdade basta ir lá, frequentar um lar americano, para se perceber a belicosidade imanente ao povo americano. Parece óbvio que a proibição de venda de armas seria tapar o sol com uma peneira de poros bem largos. Quando aqueles lunáticos decidem praticar essas asneiras não precisam usar armas específicas. Três bombas caseiras ou bananas de dinamite fariam o mesmo efeito; além disso eles têm fácil acesso a produtos e gases mortais. Em última análise, teriam esquecido o episódio da Lei Seca, aquela que proibiu o fabrico e comercialização de bebidas alcoólicas. Na verdade jamais se bebeu tanto na América. Tudo proibido excita a clandestinidade e já imaginaram a proibição de armas lícitas nos Estados Unidos a hecatombe que criaria no tráfico de armas? Quem alimentaria a indústria armamentista norte-americana, incentivadora do uso dessas máquinas mortíferas? Se eles mal conseguem resolver a proliferação de drogas ilícitas e os problemas com o terrorismo local, imagina incluir mais esse item na agenda de pavores e ilicitudes americanas. Também abandonei esse diapasão! Não me parece que a presença de armas seja causa estrutural de tamanha violência, quando muita, uma das causas conjunturais, algo como a ocasião fazer o ladrão. Passei então a perscrutar os intricados labirintos da mente humana, aqueles onde habitam os medos, pavores, taras, iras, neuras, psicoses, neuroses,  bullyings mal resolvidos e quejandas. Desconfio que fiquei ainda mais distanciado de uma resposta que apascentasse minha alma. Também por aqui e em todos os países do mundo essas coisas acontecem e, quando explodem nessas imbecilidades pragmáticas de sair abatendo criancinhas como cachorros hidrófobos, contam-se os casos: aquele na França; aquele outro na Noruega (ou terá sido Finlândia?); um outro na Alemanha, talvez dois na Inglaterra e acabou! Pouco para cotejar com as centenas de exemplos na América do Norte. Quase sem outros elementos de análise, senti que algo incomodava lá de longe; coisa do tipo do grão de ervilha colocado sob vinte colchões onde dormiria uma princesa, para ser testada, no conhecido conto de Hans Christian Andersen “A Princesa e o Grão de Ervilha”! Será que essa insanidade tem algo a ver com os valores da modernidade? Aí fui lembrando da propalada, mas evidente, degradação moral da América. Aqueles valores fundamentais (sem ser, necessariamente, fundamentalistas) que criaram esse gigante, há muito estão se esfacelando ou já esfacelados pelas posturas atuais. Lá começaram as crises na adolescência; os quartos fechados e os direitos à privacidade de meninos e meninas despreparados para a vida; a facilidade da “ficação, da banalização da perda do cabaço, de meninos e meninas; a fuga às escolas dominicais; a vergonha até dos pais irem buscar filhos na porta dos colégios; o descaso para com a moral; a proliferação do homossexualismo de ambos os sexos; a convivência promíscua com as drogas e, principalmente lá, a pior delas: o álcool! As armações ilimitadas e as malhações; as baladas, raves, hip hops, nets, redes e tudo o mais que, de uma forma ou de outra, aparta os adolescentes da vida em família, aquela que lhes transmitiria princípios, práticas, culturas e valores partilhados por todos em um ambiente sadio. A aversão a Deus e a qualquer freio de ordem ética. A cultura do imediatismo; o abandono dos pais aos lares, para a labuta diária em um mercado autofágico. A educação informal através da televisão e das babás semianalfabetas. A substituição dos brinquedos de madeira, educativos por videogames de monstros e assassinos intergalácticos e, notadamente, perseguições nos becos, vielas e nas guerras imaginárias. Os pontos contam-se pela quantidade de cadáveres deixados no chão. Exatamente como os neo-Charles Whitman fazem: mortes desenfreadas; assassinatos sem ódio; abate de inimigos que nada fizeram para merecer tal qualificação. Sei não, mas algo me diz que, aos 49 do segundo tempo, afinal estou trilhando um caminho lógico, não para explicar mas, pelo menos, para entender o que movimenta uma mente tão doentia. E, como tudo que viceja por lá se transforma em objetivo imediato aqui, temo por demais que também esse produto seja incluído em nossa cesta de importados americanos. Simples assim!

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