domingo, 2 de dezembro de 2012

Bom dia para a banalização da corrupção


Ah a banalização da corrupção no Brasil! Todo mundo sabe, ou devia saber, que a corrupção é um prato frio que muitos concorrem no seu consumo; os que não participam são de dupla índole: os que estão loucos para entrar no festim do demônio e os que, como nós, apenas esperneamos contra sua sobrevivência tão firme. A História relata a convivência do ser humano com a corrupção desde priscas eras. Todos os grandes impérios da antiguidade desmoronaram vítimas desse mal que parece eterno. Os Persas nomeavam Sátrapas, governantes locais das terras conquistadas mas o gigante desmoronou carcomido pelos desvios e desmandos desses burocratas de antanho. Alexandre conquistou praticamente o mundo conhecido e adotava outra prática mas que também pereceu diante da impossibilidade do alcance do controle: matava o rei dos territórios dominados e casava com a rainha. Ia matando e casando e deixando governantes locais que transfeririam o poder aos filhos gerados dessas uniões. Morreu cedo e a coisa também desandou. Não havia um território romano onde o sol estivesse posto. Ao ocidente, oriente, sul e norte, sempre haveria uma terra romana banhada pela luz do dia. Era tão imenso esse domínio que dividiram as terras sob o domínio de Roma e sob a administração de Constantinopla. Ainda assim foi sendo corroído por dentro em um processo de séculos mas que chegou ao desiderato de todos: falência múltipla dos órgãos componentes daquele corpo já morto. Assim também feneceram os grandes impérios mercantilistas de Espanha, Portugal e Inglaterra. Pensar que a combalida economia britânica já teve sob seu mando direto algo como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e outras terras subsaarianas, Índia e China. Mas um dia tudo sucumbiu e não pensem que também a corrupção não terá ajudado nesse processo. Portugal perdeu o Brasil que dividira em algo hediondo chamado de Capitanias Hereditárias, em outras palavras, uma divisão de todo nosso imenso território entre os nobres corruptos da Corte, por critérios absolutamente cartoriais. A própria colonização ibérica foi maculada sempre por favoritismos, auxílios do poder público, subsídios e outras benesses que terminaram por gerar, em solo brasileiro, a maldita cultura do quebra-galho, do jeitinho, práticas que fazem com que os brasileiros ainda pensem, em esmagadora maioria, que não existe fronteira entre o público e o privado. Tudo pertenceria a um fundo mútuo para bancar o sonho de “se dar bem” ao assumir o “ônus” de gerir a Res Publica. Essa atitude patrimonialista, familiar, corporativista que presidia o Império, prosseguiu intocada na República, nada mais que um grito de VIVA onde nada foi modificado na cultura da responsabilidade fiscal, do respeito aos orçamentos e outras práticas nitidamente divisórias do público e do particular. O povo brasileiro, ainda hoje e por sua incultura de base, pensa que governo tem dinheiro e riquezas, que os cargos públicos realmente dirigem-se a locupletar uma casta à qual não pertence. Na sua mente, o brasileiro comum, cordial, inocente e útil, não percebe que honestidade deve ser tida como obrigação basilar jamais como vantagem competitiva no discurso político. Imaginar que, ao assumir o múnus público, não se pode ter condescendência com quem “rouba mas faz”. Todos são guindados apenas para fazer e servir, nunca para roubar. Essa convivência absolutamente perniciosa torna-se um monstro silencioso que, quase nunca, toca a nós formadores de opinião, para o fato de estarmos falando para um imenso deserto. Imaginamos que nossos blogs e as redes sociais estão chegando às filas de desempregados, aos encostados no INSS, aos que não votam, não sabem ler, àqueles que leem eventualmente o que escrevemos mas não sabem interpretar uma linha de nossas intenções, por formarem filas com milhões de outros analfabetos funcionais. Não adianta nos esgoelarmos para que compreendam que nossa educação, nossa saúde, nosso saneamento, nossa infraestrutura e nossa segurança vão mal não porque faltem verbas pois elas existem à saciedade. Deveriam perceber, se cultos a esse ponto inatingível, que elas, as verbas, se perdem nos meandres dos canos do sistema. Não chegam, jamais, a encher 1/3 da caixa de contenção e distribuição, apodrecendo nas mãos incautas dos espertos da república brasileira. Acabamos de descobrir mais um poço sem fundo e de uma hediondez inenarrável. Passando por entre os vasos sanguíneos e linfáticos do alto poder republicano, centenas, ou melhor, milhares de ladrões estão engolindo, diuturnamente, o soro e as ambulâncias de nossos hospitais; os armamentos e treinamentos de nossas polícias e forças armadas; os materiais que construiriam nossas fossas sépticas, casas populares, refariam nossas estradas e se distribuiriam em imensos caminhos de ferro por toda a nação; equipariam as escolas , pagariam melhor os professores, enfim, transformariam nosso eterno país do futuro em uma grandeza presente e vibrante. Por muito menos que isso presidentes e reis caíram e foram destronados; ratos levaram bala na nunca na China; governante norte-americano sofreu impeachment; dirigentes de países totalitários foram suicidados; muitos seres humanos imprescindíveis foram à luta sofrendo tortura e morrendo nos porões do medo. Se pelo menos pudéssemos inocular vergonha na nossa cara, sequer sairíamos às ruas em sinal de luto por viver num país com dirigentes tão corruptos e que nada explicam por suas práticas. Instado a explanar sua participação, já sendo investigada,  na operação Porto Seguro da PF, o presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Negri saiu-se com uma pérola inesquecível: Importante esclarecer que as investigações sobre minha não comprovada participação na Operação Porto Seguro, nada têm a ver com minhas atividades à frente da Federação Paulista de Futebol ou do meu escritório profissional de advocacia!?!?!? Faltou acrescentar: dentro da toca dos ratos, ninguém é de ferro, né? Simples assim!

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