domingo, 9 de dezembro de 2012

Bom dia para a invasão cultural


Dia 31 de outubro passado vinha eu pela rua pensando na vida e na morte raspando minhas goiabinhas (como diria Primo Altamirando personagem de Stainslaw Ponte Preta, genial criação de Sérgio Porto), bem pra lá de Marraquesh quando, de repente, tomei um susto e tive alguma dificuldade em fixar o olhar numa leva de crianças que vinha se aproximando em sentido contrário, fazendo um alarido de bando de araras ao anoitecer. A pupila meio dilatada com meu olhar antes semicerrado, não ajudou na nitidez da imagem mas, em fração de segundos que me pareceram meio século, percebi que era uma vara de vampiros com vistosas capas pretas de cetim; bruxas da Branca de Neve, com nariz preenchido de verrugas; crâneos ensanguentados com machadinhas enfiadas até o encéfalo; assassinos da “Hora do Pânico” com aquela máscara insensível e a boca aberta meio metro em direção ao peito; muitos Jasons, inúmeros lobisomens; uma porrada de cadáveres insepultos ao estilo de Thriller, um horror! Quando a caterva passou por mim, meio tonto e sem saber o que estava se passando em minha volta, de repente me brilhou a centelha e me flagrei pensando: What a hell! What is this! Just a minute.....ho ho ho they’re enjoying the halloween! Oh my gosh! Sim, para uma invasão cultural desse jaez só pensando em inglês, idioma oficial do Brasil atual, pelo menos nos vídeo games, nos desenhos, nos mangás, nos filmes, nas músicas, em tudo. Claro que para um idioma se internacionalizar a ponto de substituir a língua original dos povos, só mesmo abrindo as artérias do cérebro e do coração, de toda uma nação, para trocar todo o sangue de nossa então rica história. Dormi naquele dia com um horrível gosto de derrota na boca e saudade, muita saudade: do boto, da boiuna, da Iara Mãe d’Água, da Mãe do Rio, da Matita Perê, do Curupira, do Caapora, do Negrinho do Pastoreio, da mula sem cabeça e de todos os mitos e lendas que povoaram de gostoso pavor minhas madrugadas infantis e insones. Fico imaginando o que vai ser deste país, quando abolirem o Português e nos obrigarem a traduzir para o inglês vulgar as obras de  Camões, Eça, Pessoa, Saramago, Vinícius, Drumond, Cacaso, Augusto dos Anjos, Machado e, principalmente, os neologismos de Rosa, do tipo: Justinhamente, Nonada, Redondoso e Grugulejou! Simples assim!

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