Encerrando a trilogia sobre assunto que me fascina há anos, tento descortinar o panorama atual sobre o momento da música brasileira nos States. Já falei sobre o engodo de shows de Dia do Brasil, mostrados pela Rede Globo com multidões de brasileiros, nunca de americanos. Será que hoje temos uma penetração de nossa música perante o grande público norte-americano? Se nos referirmos ao público jovem e aos amantes do rock em geral, acho que nunca ouviram falar do Brasil e nem sabem, olhando o Mapa Mundi, onde fica a América Latina. Contudo, se expandirmos nosso campo aos amantes do jazz, música latina em geral e remanescentes da Bossa-Nova e outros artistas que ganharam especial notoriedade até nos circuitos eruditos, principalmente se estamos falando de Jobim, Eumir Deodato, Milton Nascimento, Ivan Lins e Caetano Veloso, tende a haver luz no fim do tunel. As grandes escolas norte-americanas de música, como Berkley, Boston e muitas em Nova Iorque, possuem disciplinas específicas sobre o fenômeno musical brasileiro, especialmente a capacidade que tem o Brasil de, há décadas, possuir, dentro da sua pauta de exportações, um item sempre em alta, corporificado em sua cultura e cultura musical. Se você examinar essa produção massificada de cultura brasileira extra-muros, ela não só atinge o mercado norte-americano mas, principalmente, o japonês e europeu. A presença de grandes músicos brasileiros, que se mudaram para lá ou ainda têm o seu domicílio aqui, como Dori Caymmi, Edu Lobo, o próprio Sérgio Mendes (com seu recente casamento de muito sucesso com a música techno) e Menescal têm um mercado muito grande por lá, não só em bares alternativos, musicais, filmes e desenhos animados, mas o fonográfico especificamente. A presença do grande baixista brasileiro Luizão Maia (da banda de Cesar Camargo Mariano que sempre acompanhou Elis, incluindo aí também o guitarrista Natham Marques) se faz real como ídolo de grandes baixistas de bandas de sucesso no mercado norte-americano. Clint e seu filho Kile Eastwood são ligados umbilicalmente ao violonista Laurindo de Almeida (da segunda leva), que executa o Claudia's Theme do fabuloso Os Imperdoáveis (de autoria de Clint) como também participa da execução do tema musical de Gran Torino, composto por Kile. Maia Rita tem um público fiel no circuito off-Boroadway, em muitos barzinhos onde é muito requisitada. Há um grande movimento, em muitas High Scholl americanas, especialmente as novaiorquinas, para incluir o samba, especialmente os ritmos mais ligados ao samba e toda a sua entourage instrumental, nos curricula escolares em música. Especialmente na Escola Frederick Douglass onde cerca de 40 alunos formaram uma bateria de escola de samba que se apresenta no circuito comercial. Madaleine Perroux mantém jam sessions de jazz e Bossa-Nova que trazem dezenas de artistas de lá. A canadense Diana Krall tem, como percussionista de sua banda permanente, o brasileiro Paulinho Dacosta a quem já nos referimos em outra parte, mantendo-se fiel à colocação de, pelo menos, um suceso brasileiro em seus albuns. Burt Bachrach, com mais de 80 anos, compôs seus grandes sucessos, junto com a orquestra Tijuana Brass, de Herb Alpert, no ritmo da Bossa-Nova. Vem todos os anos se reciclar no Brasil. Em suma, parece evidente que existe uma maior penetração da música popular brasileira, em partes específicas do grande público Norte-Americano, contudo, no fundo, para a grande massa, o Brasil e suas coisas, notadamente culturais, prossegue sendo um gigante exótico que tangencia a realidade americana. Simples assim!
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
OS U.S.A. E A MÚSICA BRASILEIRA: UM PAPO REAL (Numa Trilogia)!
PARTE II - OS BRASILEIROS
A ida da música brasileira para os Estados Unidos se deu em levas, vagas. A primeira grande onda dessas foi Carmem Miranda, nos anos 30, e o Bando da Lua, espécie de regional que a acompanhava. Carmem também tinha uma grande entouage em sua volta, que incluía também sua irmã mais nova Aurora Miranda. Carmem, muito mais do que se fala e pensa, foi a artista brasileira (apesar de nascida em Portugal) de maior sucesso em toda a história desse casamento. Conhecida como Brazilian Bombshell, Carmem se transformou em astro de primeira grandeza em Hollywood, conseguindo papéis importantes e até protagonismos em filmes nos quais ela era a principal atração. Claro que os americanos estilizaram-na como ela poderia ser vendida com êxito: uma cucaracha ridícula, que sambava com as mãos e com um chapéu cheio de frutas tropicais onde se destacavam, claramente, as bananas. Evidente que, para você entender essa questão Carmem Miranda tem que saber que, para todo o americano médio, pelo menos até os anos 60-80, tudo o que se movia ao sul do Rio Grande, era nada mais que uma barata e sua qualidade era vista como exotismo. Carmem abriu o caminho, já pelo final dos anos 40 e início dos 50, para a ida de excelentes instrumentistas como os violonistas Bola Sete e Laurindo de Almeida, muto requisitados até antes de suas mortes. Essa segunda vaga consolidou-se com a ida dos astros do filme Orfeu Negro, de um poema musicado de Vinícius de Moraes, com a atriz-cantora negra americana Marpessa Dawn (belíssima), no papel de Eurídice, e Breno Silveira (belíssimo também), como Orfeu. O diretor era o francês Marcel Camous e, na verdade, foi o lançamento de um novo Brasil (1954), onde internalizou-se a idéia de que o Brasil poderia produzir algo de qualidade além de futebol, café, mulatas e carnaval. O texto de Vinícius e a música de Tom Jobin, cenários de Oscar Nyemeyer, foram muito bem recebidos nos círculos culturais dos Estados Unidos. Foi o primeiro encontro de músicos, cantores e produtores americanos com o samba de raiz, os alvores da bossa-nova e grandes intérpretes, músicos e a música de Jobin. Essa segunda leva se encerra com a ida de Luis Bonfá, com sua magnífica Manhã de Carnaval que se transforma no maior sucesso internacional pela Billboard e Cashbox, revistas norte-americanas especializadas em vendagem de discos e pesquisas de sucessos. Sua mulher e que interpretara a música, Maria Elena Toledo, é divinizada mesmo. Ainda há menções que dizem que Manhã de Carnaval teria se ombreado â Garota de Ipanema como tendo caido no gosto americano. Isso abriu a terceira leva, talvez a mais importante de todas, que foi a Bossa-Nova. Desde o show do Carnegie Hall, em 21 de novembro de 1962, os grandes músicos americanos do jazz ou das grandes orquestras, além do circuito alternativo, começou, na realidade, a grande invasão brasileira nos Estados Unidos. Capitaneados por Tom e João Gilberto, com a batida de violão que introduziu uma sincopada de jazz no samba, também apareceram Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes (e o conjunto Bossa Jazz) e, tão importante quanto, os maravilhosos ritmistas brasileiros. Sérgio Mendes, já na vaga dos que fugiram da ditaduras junto com Oscar Castro Neves, teve a grande sacada de trazer duas cantoras americanas (Lany Hall e Karen Phillip) para cantar os sucessos de Burt Bucharach, em inglês, e Jorge Ben, em péssimo português, mas colou. Nesse momento, arranjadores internacionais como o teuto-americano Klaus Ogermann, o argentino-americano Lallo Schifrin e Quincy Jones já estavam extasiados pela capacidade do músico brasileiro em produzir uma música dentro de um ritmo que ninguém conseguia imitar. Isso levou a grandes músicos e intépretes americanos a usar arranjos e gravar sucessos da música, principalmente, de Tom Jobim. Stan Getz, Sinatra, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, George Benson, Tonny Bennett, Pat Houston e dezenas de outros de grande valor artístico e popular, abrem realmente as portas de um público RESTRITO a bolsões do gosto americano, para grandes músicos brasileiros, ocasionando fatos como: Eumir Deodato, com a gravação bossa-novista de Also Sprach Zaratustra, vende CINCO MILHÕES de albuns, sob a batuta do grande produtor Creed Taylor que abriria portas a muitos outros. Os fenômenos ritmistas como Dom Um Romão, Airto Moreira ( e sua mulher, por ele transformada na cantora Flora Purin), Dom Salvador, Paulinho Dacosta mudam para lá e são escolhidos por 11 em cada 10 discos de feras do jazz. Flora, instigada por Airto, passa a usar sua voz como se fosse um instrumento e cria uma nova saída para as intérpretes de jaz, ganhando, pela Billboard, o título de melhor cantora de jazz DO MUNDO, não só dos Estados Unidos, seguidamente, de 1974 a 77, e isto é algo muito sério.Milton Nascimento, Ivan Lins, Roberto Carlos, Leny Andrade e dezenas de sucessos brasileiros passam a gravar em Los Angeles e New York, atrás da qualidade superior dos equipamentos deles. Amanhã, se Deus quiser, vamos ver o panorama de hoje e se há realmente uma influência brasileira na maravilhosa e criativa música americana, sempre o rock de fora.
A ida da música brasileira para os Estados Unidos se deu em levas, vagas. A primeira grande onda dessas foi Carmem Miranda, nos anos 30, e o Bando da Lua, espécie de regional que a acompanhava. Carmem também tinha uma grande entouage em sua volta, que incluía também sua irmã mais nova Aurora Miranda. Carmem, muito mais do que se fala e pensa, foi a artista brasileira (apesar de nascida em Portugal) de maior sucesso em toda a história desse casamento. Conhecida como Brazilian Bombshell, Carmem se transformou em astro de primeira grandeza em Hollywood, conseguindo papéis importantes e até protagonismos em filmes nos quais ela era a principal atração. Claro que os americanos estilizaram-na como ela poderia ser vendida com êxito: uma cucaracha ridícula, que sambava com as mãos e com um chapéu cheio de frutas tropicais onde se destacavam, claramente, as bananas. Evidente que, para você entender essa questão Carmem Miranda tem que saber que, para todo o americano médio, pelo menos até os anos 60-80, tudo o que se movia ao sul do Rio Grande, era nada mais que uma barata e sua qualidade era vista como exotismo. Carmem abriu o caminho, já pelo final dos anos 40 e início dos 50, para a ida de excelentes instrumentistas como os violonistas Bola Sete e Laurindo de Almeida, muto requisitados até antes de suas mortes. Essa segunda vaga consolidou-se com a ida dos astros do filme Orfeu Negro, de um poema musicado de Vinícius de Moraes, com a atriz-cantora negra americana Marpessa Dawn (belíssima), no papel de Eurídice, e Breno Silveira (belíssimo também), como Orfeu. O diretor era o francês Marcel Camous e, na verdade, foi o lançamento de um novo Brasil (1954), onde internalizou-se a idéia de que o Brasil poderia produzir algo de qualidade além de futebol, café, mulatas e carnaval. O texto de Vinícius e a música de Tom Jobin, cenários de Oscar Nyemeyer, foram muito bem recebidos nos círculos culturais dos Estados Unidos. Foi o primeiro encontro de músicos, cantores e produtores americanos com o samba de raiz, os alvores da bossa-nova e grandes intérpretes, músicos e a música de Jobin. Essa segunda leva se encerra com a ida de Luis Bonfá, com sua magnífica Manhã de Carnaval que se transforma no maior sucesso internacional pela Billboard e Cashbox, revistas norte-americanas especializadas em vendagem de discos e pesquisas de sucessos. Sua mulher e que interpretara a música, Maria Elena Toledo, é divinizada mesmo. Ainda há menções que dizem que Manhã de Carnaval teria se ombreado â Garota de Ipanema como tendo caido no gosto americano. Isso abriu a terceira leva, talvez a mais importante de todas, que foi a Bossa-Nova. Desde o show do Carnegie Hall, em 21 de novembro de 1962, os grandes músicos americanos do jazz ou das grandes orquestras, além do circuito alternativo, começou, na realidade, a grande invasão brasileira nos Estados Unidos. Capitaneados por Tom e João Gilberto, com a batida de violão que introduziu uma sincopada de jazz no samba, também apareceram Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes (e o conjunto Bossa Jazz) e, tão importante quanto, os maravilhosos ritmistas brasileiros. Sérgio Mendes, já na vaga dos que fugiram da ditaduras junto com Oscar Castro Neves, teve a grande sacada de trazer duas cantoras americanas (Lany Hall e Karen Phillip) para cantar os sucessos de Burt Bucharach, em inglês, e Jorge Ben, em péssimo português, mas colou. Nesse momento, arranjadores internacionais como o teuto-americano Klaus Ogermann, o argentino-americano Lallo Schifrin e Quincy Jones já estavam extasiados pela capacidade do músico brasileiro em produzir uma música dentro de um ritmo que ninguém conseguia imitar. Isso levou a grandes músicos e intépretes americanos a usar arranjos e gravar sucessos da música, principalmente, de Tom Jobim. Stan Getz, Sinatra, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, George Benson, Tonny Bennett, Pat Houston e dezenas de outros de grande valor artístico e popular, abrem realmente as portas de um público RESTRITO a bolsões do gosto americano, para grandes músicos brasileiros, ocasionando fatos como: Eumir Deodato, com a gravação bossa-novista de Also Sprach Zaratustra, vende CINCO MILHÕES de albuns, sob a batuta do grande produtor Creed Taylor que abriria portas a muitos outros. Os fenômenos ritmistas como Dom Um Romão, Airto Moreira ( e sua mulher, por ele transformada na cantora Flora Purin), Dom Salvador, Paulinho Dacosta mudam para lá e são escolhidos por 11 em cada 10 discos de feras do jazz. Flora, instigada por Airto, passa a usar sua voz como se fosse um instrumento e cria uma nova saída para as intérpretes de jaz, ganhando, pela Billboard, o título de melhor cantora de jazz DO MUNDO, não só dos Estados Unidos, seguidamente, de 1974 a 77, e isto é algo muito sério.Milton Nascimento, Ivan Lins, Roberto Carlos, Leny Andrade e dezenas de sucessos brasileiros passam a gravar em Los Angeles e New York, atrás da qualidade superior dos equipamentos deles. Amanhã, se Deus quiser, vamos ver o panorama de hoje e se há realmente uma influência brasileira na maravilhosa e criativa música americana, sempre o rock de fora.
domingo, 23 de fevereiro de 2014
OS U.S.A. E A MÚSICA BRASILEIRA: UM PAPO REAL (Numa Trilogia)!
PARTE I - ELES
Às vezes flagro papos muito suspeitos sobre o "sucesso" de músicos brasileiros globais que vão preencher os Brazilian Days inventados pela Rede Globo, notoriamente com uma platéia 101% de migrantes brasileiros não nos Estados Unidos, mas em New Yor City, uma megalópole internacional que nada tem a ver com o american way of life. Em outros casos, detentores de "sucesso internacional" explodem plateias também de migrantes, adicionadas de cubanos, chicanos, portorriquenhos em Miami. Sempre vejo a verdadeira nata do americano nato, o americano médio, bem longe disso tudo. Claro que eles têm lá um mix de altísima qualidade, que assim acho que posso analisar: uma sólida origem branca, manifestada na música irlandesa que os cowboys cantavam nos filmes e da qual derivaram o country e, mais miscigenado, o rock inglês, hoje a manifestação musical mais internacionalizada e de maior sucesso em todo o mundo, expandindo para muito mais além do que o simples horizonte do público jovem, de onde ele explodiu. Uma outra fortíssima base na cultura africana, nos cânticos das lavouras do sul, da qual manifestações eternas viriam eclodir. A música soul (e sua vertente no spiritual), o blues e, já numa miscigenação ARTÍSTICA (não sociológica, antropológica ou política pois o racismo branco era muito mais arraigado lá que cá e o negro visto como uma peça exótica mas EXTERNA. Diferente do Brasil português que miscigenava MESMO), o rock como evolução "normal" do swing e boogie-woogie; além de, last but not least, as duas facetas do fantástico jazz (o jazz "puro" negro, improvisado, cantado e tocado), e o jazz misturado à influência franco-europeia, chamado dixie, cujo maior museu vivo e ativo prossegue sendo New Orleans. Finalmente, a música nascida nos guetos latino-americanos que poderiam incluir: a conga, o mambo e a rumba, vindos da Cuba "libre", o maxixe e o samba, não brasileiros, mas de Carmem Miranda e o calypso caribeano. Esse é o pano-de-fundo para darmosinício a este trabalho que ainda comportará duas partes: OS BRASILEIROS e, finalmente, NÓS JUNTOS EXISTE?
Desse fantástico panorama, evidentemente a música norte-americana lato sensu, assim como o músico de lá, formariam uma casta de qualidade quase inigualável. Certo que eles contaram e contam com um portentoso instrumento de marketing que é Hollywood, para exportar esse produto, que já tinha e tem muita qualidade intrínseca, para todos os cantos da aldeia global. A música dos grandes musicais é eterna. Os cantores, cantoras, arranjadores e compositores, de todas essas orígens, além de fazerem coisas belas possuem um padrão de qualidade superior que lhes é permitido pela força do dolar e da onipresença da economia americana no mundo (e que gera essa ubiquidade de dupla entrada: de lá para o mundo e do mundo para lá). Esse caminho de volta é o que me interessa trilhar, apesar deste trabalho em três partes ser produto, UNICAMENTE, do que guardo na minha memória, sem nenhuma pesquisa externa a qualquer outra fonte que não eu próprio. Isto dará ao resultado uma forte impregnação de meus gosto e de minha visão como passageiro dessa agonia. Sei que corro o risco de não ser lido. Não importa, pois ficará o registro eternizado em meu blog.
Como mote para a segunda parte que publicarei, sequentemente, amanhã (24 de fevereiro) e terça-feira (25 de fevereiro de 2014), é cuidar de limpar as arestas de uma possível visão eivada de envolvimento pessoal, é registrar que, como aqui, lá eles têm suas Ivetes, Cláudias Leitte, Bandas Calypso, Michel Teló e outras porcarias, corporificadas em Beyoncés, Rihanas e Justin Biebers da vida. A mim interessa verificar onde a alma brasileira conseguiu influenciar a música americana de qualidade com forte penetração no grande público, não só nos guetos. Para ver isso me acompanhe amanhã.
Às vezes flagro papos muito suspeitos sobre o "sucesso" de músicos brasileiros globais que vão preencher os Brazilian Days inventados pela Rede Globo, notoriamente com uma platéia 101% de migrantes brasileiros não nos Estados Unidos, mas em New Yor City, uma megalópole internacional que nada tem a ver com o american way of life. Em outros casos, detentores de "sucesso internacional" explodem plateias também de migrantes, adicionadas de cubanos, chicanos, portorriquenhos em Miami. Sempre vejo a verdadeira nata do americano nato, o americano médio, bem longe disso tudo. Claro que eles têm lá um mix de altísima qualidade, que assim acho que posso analisar: uma sólida origem branca, manifestada na música irlandesa que os cowboys cantavam nos filmes e da qual derivaram o country e, mais miscigenado, o rock inglês, hoje a manifestação musical mais internacionalizada e de maior sucesso em todo o mundo, expandindo para muito mais além do que o simples horizonte do público jovem, de onde ele explodiu. Uma outra fortíssima base na cultura africana, nos cânticos das lavouras do sul, da qual manifestações eternas viriam eclodir. A música soul (e sua vertente no spiritual), o blues e, já numa miscigenação ARTÍSTICA (não sociológica, antropológica ou política pois o racismo branco era muito mais arraigado lá que cá e o negro visto como uma peça exótica mas EXTERNA. Diferente do Brasil português que miscigenava MESMO), o rock como evolução "normal" do swing e boogie-woogie; além de, last but not least, as duas facetas do fantástico jazz (o jazz "puro" negro, improvisado, cantado e tocado), e o jazz misturado à influência franco-europeia, chamado dixie, cujo maior museu vivo e ativo prossegue sendo New Orleans. Finalmente, a música nascida nos guetos latino-americanos que poderiam incluir: a conga, o mambo e a rumba, vindos da Cuba "libre", o maxixe e o samba, não brasileiros, mas de Carmem Miranda e o calypso caribeano. Esse é o pano-de-fundo para darmosinício a este trabalho que ainda comportará duas partes: OS BRASILEIROS e, finalmente, NÓS JUNTOS EXISTE?
Desse fantástico panorama, evidentemente a música norte-americana lato sensu, assim como o músico de lá, formariam uma casta de qualidade quase inigualável. Certo que eles contaram e contam com um portentoso instrumento de marketing que é Hollywood, para exportar esse produto, que já tinha e tem muita qualidade intrínseca, para todos os cantos da aldeia global. A música dos grandes musicais é eterna. Os cantores, cantoras, arranjadores e compositores, de todas essas orígens, além de fazerem coisas belas possuem um padrão de qualidade superior que lhes é permitido pela força do dolar e da onipresença da economia americana no mundo (e que gera essa ubiquidade de dupla entrada: de lá para o mundo e do mundo para lá). Esse caminho de volta é o que me interessa trilhar, apesar deste trabalho em três partes ser produto, UNICAMENTE, do que guardo na minha memória, sem nenhuma pesquisa externa a qualquer outra fonte que não eu próprio. Isto dará ao resultado uma forte impregnação de meus gosto e de minha visão como passageiro dessa agonia. Sei que corro o risco de não ser lido. Não importa, pois ficará o registro eternizado em meu blog.
Como mote para a segunda parte que publicarei, sequentemente, amanhã (24 de fevereiro) e terça-feira (25 de fevereiro de 2014), é cuidar de limpar as arestas de uma possível visão eivada de envolvimento pessoal, é registrar que, como aqui, lá eles têm suas Ivetes, Cláudias Leitte, Bandas Calypso, Michel Teló e outras porcarias, corporificadas em Beyoncés, Rihanas e Justin Biebers da vida. A mim interessa verificar onde a alma brasileira conseguiu influenciar a música americana de qualidade com forte penetração no grande público, não só nos guetos. Para ver isso me acompanhe amanhã.
domingo, 19 de janeiro de 2014
Carta Aberta a meu Mestre André Costa nunes
Muitas vezes “acusado” de ser ateu e de introduzir a duvida a respeito
de Deus, Albert Einstein elaborou e seguiu um pensamento religioso complexo e
profundo, entendendo que a religião e a ciência eram complementares.
Gilberto Schoereder
Gilberto Schoereder
Quando se pretende falar da relação
entre Albert Einstein e a religião, é inevitável lembrar uma de suas frases
mais famosas: “A ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é
cega”. Isso seria mais do que suficiente para se perceber que o cientista tinha
uma relação especial com a religião. Alguns biógrafos de Einstein (1879-1955)
chegaram a defender a noção de que essa relação ocorreu basicamente em sua
infância, mas essa idéia já não é mais aceita. Uma das pesquisas mais profundas
desse relacionamento entre ciência e religião na vida e obra de Einstein está
no livro Einstein e a Religião, de Max Jammer, professor de Física e colega de
Einstein em Princeton.
O interesse popular no cientista alemão se mantém, mesmo 50 anos após sua morte e num momento em que muitas de suas teorias vêm sendo questionadas. Einstein continua sendo uma das figuras mais conhecidas do planeta e, certamente, o nome que a maioria das pessoas imediatamente associa à ciência.
Jammer cita outra frase importante de Einstein, numa entrevista concedida ao escritor James Murphy e ao matemático John William Navin Sullivan (1886-1937), em 1930. “Todas as especulações mais refinadas no campo da ciência”, disse Einstein, “provêm de um profundo sentimento religioso; sem esse sentimento, elas seriam infrutíferas”.
Assim, percebe-se claramente a opinião do cientista de que a ciência e a religião eram complementares. No entanto, é preciso entender exatamente o que ele queria dizer com isso.
Os avôs e o pai de Albert eram judeus, mas ele não foi criado seguindo à risca as tradições judaicas. Segundo Jammer, tudo indica que seus pais não eram dogmáticos e sequer freqüentavam os serviços religiosos na sinagoga. Aos seis anos, ele entrou para uma escola pública católica, e teve aulas de religião – católica, bem entendido. Diz-se que só então seus pais resolveram lhe ensinar os princípios do judaísmo, para contrabalançar contrabalançar os ensinamentos católicos.
O SENTIMENTO RELIGIOSO SURGIU CEDO EM EINSTEIN, e ele chamou essa fase de sua infância de “paraíso religioso”, mas existem dúvidas quanto a como ele teria se desenvolvido. Quando os pais resolveram que ele devia conhecer o judaísmo, contrataram um parente distante para ensiná-lo e, segundo Maja, irmã de Albert, foi esse parente que despertou nele o sentimento religioso. Já Alexander Moszkowski, que escreveu a primeira biografia de Einstein, em 1920, afirmou, baseado em conversas pessoais com o cientista, que esse sentimento foi despertado após seu maior contato com a natureza, depois que a família se mudou de Ulm para Munique. O mesmo biógrafo também disse que a música desempenhou papel importante nesse sentimento religioso de Albert.
Apesar da biografia ter sido baseada em conversas pessoais, em 1949, o próprio Einstein escreveu, em Notas Autobiográficas, que sua religiosidade tinha se baseado tanto num sentimento de depressão e desespero quanto no reconhecimento da futilidade da rivalidade humana na luta pela vida. A religião trazia algum alívio, segundo ele disse, mas Jammer parece acreditar que essa idéia de Einstein foi formada posteriormente, uma projeção de suas idéias maduras para sua juventude.
Um fato importante ocorre aos 12 anos de idade, época em que deveria realizar o bar mitzvah, a confirmação judaica, que Einstein se recusou a realizar. Jammer entende que isso se deve à característica da personalidade de Einstein, de demonstrar independência com relação à autoridade e à tradição. Essas noções começaram a se desenvolver, ao que tudo indica, quando sua família recebeu um estudante judeu pobre, Max Talmud, dez anos mais velho do que Einstein. Os dois se tornaram grandes amigos, e foi através de Max que Einstein conheceu os textos a respeito de ciência, geometria, matemática, e a Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant.
Segundo o próprio cientista escreveu posteriormente, ele percebeu, através dos livros científicos, que muitas das histórias da Bíblia não podiam ser verdade e que os jovens são intencionalmente enganados pelo Estado com mentiras. “Dessa experiência”, ele escreveu em Notas Autobiográficas, “nasceu minha desconfiança de todo e qualquer tipo de autoridade, uma atitude cética para com as convicções que vicejavam em qualquer meio social especifico. Essa atitude nunca mais me abandonou, embora, mais tarde, graças a um discernimento melhor das ligações causais, tenha perdido parte de sua contundência original”.
ESSA POSTURA TAMBÉM SE EVIDENCIA NO FATO de que a primeira esposa de Einstein, Mileva Maric, pertencia à Igreja Ortodoxa grega. Os pais de ambos foram contrários ao casamento, mas eles não pareceram se importar com isso.
Max Jammer escreveu que toda essa situação poderia corroborar a tese de que a ciência e a religião são opostos irreconciliáveis, mas Einstein nunca concebeu essa relação como uma antítese, vendo os dois como complementares, como já ficou demonstrado nas frases citadas anteriormente.
O que aparentemente é uma contradição – uma vez que Einstein desaprovou a educação religiosa de seus filhos, considerando-a “contrária a todo o pensamento científico” – explica-se pelo entendimento correto de como Einstein usava os termos “religião” e “religioso”. Por exemplo, na expressão “ensino da religião”, ele via a instrução fornecida de acordo com a tradição de um credo; já na expressão “ciência sem religião”, o termo se referia ao sentimento de uma devoção inspirada, avessa aos dogmas. Em outras palavras, Einstein se referia ao sentimento religioso próprio da pessoa, sem intermediários, sem o poder da instituição e dos dogmas.
Jammer também levanta outra questão importante para se entender o pensamento de Einstein com relação à religião e Deus, e que está ligado à sua admiração pelo filósofo Baruch (posteriormente Benedictus) Espinosa (1632-1677), que negou a concepção judaico-cristã de um Deus pessoal, mas tinha a crença na existência de uma inteligência superior que se revela na harmonia e na beleza da natureza. Jammer explica que Einstein, como Espinosa, “negava a existência de um Deus pessoal, construído com base no ideal de um super-homem, como diríamos hoje”.
Numa oportunidade em que lhe pediram para definir Deus, Einstein disse: “Não sou ateu, e não creio que possa me chamar panteísta. Estamos na situação de uma criancinha que entra em uma imensa biblioteca, repleta de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros, mas não sabe como. Não compreende as línguas em que foram escritos. Tem uma pálida suspeita de que a disposição dos livros obedece a uma ordem misteriosa, mas não sabe qual ela é. Essa, ao que me parece, é a atitude até mesmo do mais inteligente dos seres humanos diante de Deus. Vemos o Universo, maravilhosamente disposto e obedecendo a certas leis, mas temos apenas uma pálida compreensão delas. Nossa mente limitada capta a força misteriosa que move as constelações. Sou fascinado pelo panteísmo de Espinosa, mas admiro ainda mais sua contribuição para o pensamento moderno, por ele ter sido o primeiro filósofo a lidar com a alma e o corpo como uma coisa só, e não como duas coisas separadas”.
MAIS OU MENOS NA MESMA ÉPOCA em que falava sobre sua crença em Deus, Einstein também era acusado de ser um ateu, especialmente numa discussão provocada pelo cardeal O’Connell, arcebispo de Boston, ao advertir os membros do Clube Católico Americano da Nova Inglaterra a não lerem nada sobre a Teoria da Relatividade, uma vez que ela era “uma especulação confusa, que produz a dúvida universal sobre Deus e Sua criação (...) e encobre a assustadora aparição do ateísmo”.
O rabino Herbert S. Goldstein, da Sinagoga Institucional de Nova York, reagiu enviando um telegrama a Einstein pedindo que ele respondesse à simples pergunta: “O senhor acredita em Deus?” A resposta foi: “Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na harmonia ordeira daquilo que existe, e não num Deus que se interesse pelo destino e pelos atos dos seres humanos”. Em última análise, pode se dizer que é uma resposta e um ponto de vista que se aproxima bastante de muitas posturas religiosas ou espiritualistas da chamada Nova Era, com um abandono do Deus pessoal.
Max Jammer alerta para o fato de que Einstein sempre estabeleceu uma distinção nítida entre sua descrença num Deus pessoal, de um lado, e o ateísmo, de outro. Num texto em que comentava um livro que negava a existência de Deus, Einstein disse: “Nós, seguidores de Espinosa, vemos nosso Deus na maravilhosa ordem e submissão às leis de tudo o que existe, e também na alma disso, tal como se revela nos seres humanos e nos animais. Saber se a crença em um Deus pessoal deve ser contestada é outra questão. Freud endossou essa visão em seu livro mais recente. Pessoalmente, eu nunca empreenderia tal tarefa, pois essa crença me parece preferível à falta de qualquer visão transcendental da vida. Pergunto-me se algum dia se poderá entregar à maioria da humanidade, com sucesso, um meio mais sublime de satisfazer suas necessidades metafísicas”.
Fica mais do que claro que Einstein não era e nem tinha qualquer apreço pelo ateísmo. Como Jammer destaca, ele não questionava a utilidade da educação religiosa, mas se opunha a ela – como no caso de seus filhos – “quando desconfiava que o principal objetivo era ensinar cerimônias religiosas ou ritos formais, em vez de desenvolver valores éticos”.
O PRIMEIRO ENSAIO DE EINSTEIN A RESPEITO DA RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO data do final de 1930, ainda que se diga que seu interesse no assunto já vinha da década de 20. Sua postura contra todo tipo de dogmatismo religioso pode ser verificada mais uma vez na sua recusa em utilizar o termo “teologia”, entendendo que sua abordagem da religião diferia muito da dos teólogos profissionais, especialmente daqueles para quem “a teologia é detentora da verdade e a filosofia está em busca da verdade”.
A maioria de seus textos sobre religião surgiram no período entre 1930 e 1941, e diz Jammer que seu interesse em escrever sobre o tema cresceu devido a duas entrevistas. A primeira, no início de 1930, dada a J. Murphy e J.W.N. Sullivan, já citada no início da matéria. A segunda entrevista foi com o poeta e filósofo místico hindu Rabindranath Tagore (1861-1941), Prêmio Nobel de Literatura em 1913.
Aparentemente, Einstein ficou um pouco decepcionado com a conversa com Tagore, e resolveu escrever o ensaio chamado Aquilo em que Acredito, que despertou a ira dos nazistas. Um dos trechos diz: “A mais bela experiência que podemos ter é a do mistério. Ele é a emoção fundamental que se acha no berço da verdadeira arte e da verdadeira ciência. Quem não sabe disso e já não consegue surpreender-se, já não sabe maravilhar-se, está praticamente morto e tem os olhos embotados. Foi a experiência do mistério – ainda que mesclada com a do medo – que gerou a religião. Saber da existência de algo em que não podemos penetra, perceber uma razão mais profunda e a mais radiante beleza, que só nos são acessíveis à mente em suas formas mais primitivas, esse saber e essa emoção constituem a verdadeira religiosidade; nesse sentido, e apenas nele, sou um homem profundamente religioso. Não consigo conceber um Deus que premie e castigue suas criaturas, ou que tenha uma vontade semelhante à que experimentamos em nós”.
QUANDO ESCREVEU O ENSAIO RELIGIÃO E CIÊNCIA para a New York Times Magazine, em 1930, Einstein elaborou a idéia de três estágios do desenvolvimento da religião. O primeiro estágio, ele chamou de “religião do medo”. Pensando em quais teriam sido as necessidades e os sentimentos que levaram ao pensamento e à fé religiosa, entendeu que, para o homem primitivo foi, antes de tudo, o medo, seja da fome, dos animais, das doenças ou da morte. A mente humana, disse, criou seres imaginários de cuja vontade dependiam a vida ou a morte do indivíduo e da sociedade. E, para aplacar esses seres, os humanos lhes ofereciam súplicas e sacrifícios, formas primitivas de oração e rituais religiosos.
Ele não aceitava a idéia da religião se originando pela revelação, segundo a qual Deus dá a conhecer Sua realidade aos homens; isso exclui a aparição a Moisés e acontecimentos como o nascimento, vida e morte de Jesus Cristo, ou ainda as palavras de um anjo, como diz o Alcorão. Jammer diz ainda que a idéia da religião surgindo do medo não é de Einstein, ainda que provavelmente ele não tenha lido os autores que falaram disso antes dele.
O segundo estágio, ele escreveu, foi a “concepção social ou moral de Deus”, decorrente do “desejo de orientação, amor e apoio”. É o Deus que premia e castiga, ao qual ele já havia se referido anteriormente. Einstein via no Antigo e no Novo Testamentos uma ilustração admirável dessa transição de uma religião do medo para a religião da moral, ainda ligada a uma concepção antropomórfica de Deus.
O terceiro estágio Einstein chamou de “sentimento religioso cósmico” e, segundo explicou, é um conceito muito difícil de elucidar para as pessoas que não têm esse sentimento, uma vez que ele não comporta qualquer concepção antropomórfica de Deus. Ele disse que “os gênios religiosos de todas as épocas distinguiram-se por esse tipo de sentimento religioso, que não conhece nenhum dogma e nenhum Deus concebido à imagem do homem; não pode haver uma Igreja cujos ensinamentos centrais se baseiem nele. Assim, é entre os hereges de todas as eras que vamos encontrar homens que estiveram repletos desse tipo mais elevado de sentimento religioso, e que, em muito casos, forma encarados por seus contemporâneos ora como ateus, ora como santos. Vistos por esse prisma, homens como Demócrito, Francisco de Assis e Espinosa assemelham-se muito”.
APESAR DE TANTAS DEMONSTRAÇÕES DE QUE NÃO ERA ATEU, mas que via a religiosidade de uma forma particular, até recentemente Einstein era citado como um ateu. Numa conversa como príncipe Hubertus de Löwenstein, disse que o que realmente o aborrecia era que as pessoas que não acreditam em Deus viviam citando-o para corroborar suas idéias. Jammer cita um livro popular sobre a vida do cientista, publicado em 1998, em que surge a frase “ele (Einstein) foi ateu a vida inteira”, apesar de uma citação de Einstein no mesmo livro contradizer essa afirmação: “O Divino se revela no mundo físico”.
O maior problema parece ser mesmo a dificuldade das demais religiões em aceitar uma religião na qual as instituições e os dogmas perdem os sentido. Elas não aceitam essa situação, como não podem aceitar um homem que diz que “se você ora a Deus e Lhe pede algum beneficio, não é um homem religioso”.
Einstein não desrespeitava as religiões estabelecidas, mas apenas não concordava com elas. Jammer diz que ele venerava os fundadores das grandes religiões, e isso pode ser visto numa mensagem que enviou à Conferencia Nacional de Cristãos e Judeus, em 1947. “Se os fieis das religiões atuais”, escreveu Einstein, “tentassem sinceramente pensar e agir segundo o espírito dos fundadores dessas religiões, não existiria nenhuma hostilidade de base religiosa entre os seguidores dos diferentes credos. Até os conflitos no âmbito da religião seriam denunciados como insignificantes”.
Hoje em dia, muitos religiosos dizem exatamente isso, tendo em vista a situação explosiva em que p mundo se encontra, em grande parte devido a conflitos religiosos. Na religião de Einstein, os conflitos seriam impossíveis de existir.
(Extraído da revista Sexto Sentido 52, páginas 24-30)
O interesse popular no cientista alemão se mantém, mesmo 50 anos após sua morte e num momento em que muitas de suas teorias vêm sendo questionadas. Einstein continua sendo uma das figuras mais conhecidas do planeta e, certamente, o nome que a maioria das pessoas imediatamente associa à ciência.
Jammer cita outra frase importante de Einstein, numa entrevista concedida ao escritor James Murphy e ao matemático John William Navin Sullivan (1886-1937), em 1930. “Todas as especulações mais refinadas no campo da ciência”, disse Einstein, “provêm de um profundo sentimento religioso; sem esse sentimento, elas seriam infrutíferas”.
Assim, percebe-se claramente a opinião do cientista de que a ciência e a religião eram complementares. No entanto, é preciso entender exatamente o que ele queria dizer com isso.
Os avôs e o pai de Albert eram judeus, mas ele não foi criado seguindo à risca as tradições judaicas. Segundo Jammer, tudo indica que seus pais não eram dogmáticos e sequer freqüentavam os serviços religiosos na sinagoga. Aos seis anos, ele entrou para uma escola pública católica, e teve aulas de religião – católica, bem entendido. Diz-se que só então seus pais resolveram lhe ensinar os princípios do judaísmo, para contrabalançar contrabalançar os ensinamentos católicos.
O SENTIMENTO RELIGIOSO SURGIU CEDO EM EINSTEIN, e ele chamou essa fase de sua infância de “paraíso religioso”, mas existem dúvidas quanto a como ele teria se desenvolvido. Quando os pais resolveram que ele devia conhecer o judaísmo, contrataram um parente distante para ensiná-lo e, segundo Maja, irmã de Albert, foi esse parente que despertou nele o sentimento religioso. Já Alexander Moszkowski, que escreveu a primeira biografia de Einstein, em 1920, afirmou, baseado em conversas pessoais com o cientista, que esse sentimento foi despertado após seu maior contato com a natureza, depois que a família se mudou de Ulm para Munique. O mesmo biógrafo também disse que a música desempenhou papel importante nesse sentimento religioso de Albert.
Apesar da biografia ter sido baseada em conversas pessoais, em 1949, o próprio Einstein escreveu, em Notas Autobiográficas, que sua religiosidade tinha se baseado tanto num sentimento de depressão e desespero quanto no reconhecimento da futilidade da rivalidade humana na luta pela vida. A religião trazia algum alívio, segundo ele disse, mas Jammer parece acreditar que essa idéia de Einstein foi formada posteriormente, uma projeção de suas idéias maduras para sua juventude.
Um fato importante ocorre aos 12 anos de idade, época em que deveria realizar o bar mitzvah, a confirmação judaica, que Einstein se recusou a realizar. Jammer entende que isso se deve à característica da personalidade de Einstein, de demonstrar independência com relação à autoridade e à tradição. Essas noções começaram a se desenvolver, ao que tudo indica, quando sua família recebeu um estudante judeu pobre, Max Talmud, dez anos mais velho do que Einstein. Os dois se tornaram grandes amigos, e foi através de Max que Einstein conheceu os textos a respeito de ciência, geometria, matemática, e a Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant.
Segundo o próprio cientista escreveu posteriormente, ele percebeu, através dos livros científicos, que muitas das histórias da Bíblia não podiam ser verdade e que os jovens são intencionalmente enganados pelo Estado com mentiras. “Dessa experiência”, ele escreveu em Notas Autobiográficas, “nasceu minha desconfiança de todo e qualquer tipo de autoridade, uma atitude cética para com as convicções que vicejavam em qualquer meio social especifico. Essa atitude nunca mais me abandonou, embora, mais tarde, graças a um discernimento melhor das ligações causais, tenha perdido parte de sua contundência original”.
ESSA POSTURA TAMBÉM SE EVIDENCIA NO FATO de que a primeira esposa de Einstein, Mileva Maric, pertencia à Igreja Ortodoxa grega. Os pais de ambos foram contrários ao casamento, mas eles não pareceram se importar com isso.
Max Jammer escreveu que toda essa situação poderia corroborar a tese de que a ciência e a religião são opostos irreconciliáveis, mas Einstein nunca concebeu essa relação como uma antítese, vendo os dois como complementares, como já ficou demonstrado nas frases citadas anteriormente.
O que aparentemente é uma contradição – uma vez que Einstein desaprovou a educação religiosa de seus filhos, considerando-a “contrária a todo o pensamento científico” – explica-se pelo entendimento correto de como Einstein usava os termos “religião” e “religioso”. Por exemplo, na expressão “ensino da religião”, ele via a instrução fornecida de acordo com a tradição de um credo; já na expressão “ciência sem religião”, o termo se referia ao sentimento de uma devoção inspirada, avessa aos dogmas. Em outras palavras, Einstein se referia ao sentimento religioso próprio da pessoa, sem intermediários, sem o poder da instituição e dos dogmas.
Jammer também levanta outra questão importante para se entender o pensamento de Einstein com relação à religião e Deus, e que está ligado à sua admiração pelo filósofo Baruch (posteriormente Benedictus) Espinosa (1632-1677), que negou a concepção judaico-cristã de um Deus pessoal, mas tinha a crença na existência de uma inteligência superior que se revela na harmonia e na beleza da natureza. Jammer explica que Einstein, como Espinosa, “negava a existência de um Deus pessoal, construído com base no ideal de um super-homem, como diríamos hoje”.
Numa oportunidade em que lhe pediram para definir Deus, Einstein disse: “Não sou ateu, e não creio que possa me chamar panteísta. Estamos na situação de uma criancinha que entra em uma imensa biblioteca, repleta de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros, mas não sabe como. Não compreende as línguas em que foram escritos. Tem uma pálida suspeita de que a disposição dos livros obedece a uma ordem misteriosa, mas não sabe qual ela é. Essa, ao que me parece, é a atitude até mesmo do mais inteligente dos seres humanos diante de Deus. Vemos o Universo, maravilhosamente disposto e obedecendo a certas leis, mas temos apenas uma pálida compreensão delas. Nossa mente limitada capta a força misteriosa que move as constelações. Sou fascinado pelo panteísmo de Espinosa, mas admiro ainda mais sua contribuição para o pensamento moderno, por ele ter sido o primeiro filósofo a lidar com a alma e o corpo como uma coisa só, e não como duas coisas separadas”.
MAIS OU MENOS NA MESMA ÉPOCA em que falava sobre sua crença em Deus, Einstein também era acusado de ser um ateu, especialmente numa discussão provocada pelo cardeal O’Connell, arcebispo de Boston, ao advertir os membros do Clube Católico Americano da Nova Inglaterra a não lerem nada sobre a Teoria da Relatividade, uma vez que ela era “uma especulação confusa, que produz a dúvida universal sobre Deus e Sua criação (...) e encobre a assustadora aparição do ateísmo”.
O rabino Herbert S. Goldstein, da Sinagoga Institucional de Nova York, reagiu enviando um telegrama a Einstein pedindo que ele respondesse à simples pergunta: “O senhor acredita em Deus?” A resposta foi: “Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na harmonia ordeira daquilo que existe, e não num Deus que se interesse pelo destino e pelos atos dos seres humanos”. Em última análise, pode se dizer que é uma resposta e um ponto de vista que se aproxima bastante de muitas posturas religiosas ou espiritualistas da chamada Nova Era, com um abandono do Deus pessoal.
Max Jammer alerta para o fato de que Einstein sempre estabeleceu uma distinção nítida entre sua descrença num Deus pessoal, de um lado, e o ateísmo, de outro. Num texto em que comentava um livro que negava a existência de Deus, Einstein disse: “Nós, seguidores de Espinosa, vemos nosso Deus na maravilhosa ordem e submissão às leis de tudo o que existe, e também na alma disso, tal como se revela nos seres humanos e nos animais. Saber se a crença em um Deus pessoal deve ser contestada é outra questão. Freud endossou essa visão em seu livro mais recente. Pessoalmente, eu nunca empreenderia tal tarefa, pois essa crença me parece preferível à falta de qualquer visão transcendental da vida. Pergunto-me se algum dia se poderá entregar à maioria da humanidade, com sucesso, um meio mais sublime de satisfazer suas necessidades metafísicas”.
Fica mais do que claro que Einstein não era e nem tinha qualquer apreço pelo ateísmo. Como Jammer destaca, ele não questionava a utilidade da educação religiosa, mas se opunha a ela – como no caso de seus filhos – “quando desconfiava que o principal objetivo era ensinar cerimônias religiosas ou ritos formais, em vez de desenvolver valores éticos”.
O PRIMEIRO ENSAIO DE EINSTEIN A RESPEITO DA RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO data do final de 1930, ainda que se diga que seu interesse no assunto já vinha da década de 20. Sua postura contra todo tipo de dogmatismo religioso pode ser verificada mais uma vez na sua recusa em utilizar o termo “teologia”, entendendo que sua abordagem da religião diferia muito da dos teólogos profissionais, especialmente daqueles para quem “a teologia é detentora da verdade e a filosofia está em busca da verdade”.
A maioria de seus textos sobre religião surgiram no período entre 1930 e 1941, e diz Jammer que seu interesse em escrever sobre o tema cresceu devido a duas entrevistas. A primeira, no início de 1930, dada a J. Murphy e J.W.N. Sullivan, já citada no início da matéria. A segunda entrevista foi com o poeta e filósofo místico hindu Rabindranath Tagore (1861-1941), Prêmio Nobel de Literatura em 1913.
Aparentemente, Einstein ficou um pouco decepcionado com a conversa com Tagore, e resolveu escrever o ensaio chamado Aquilo em que Acredito, que despertou a ira dos nazistas. Um dos trechos diz: “A mais bela experiência que podemos ter é a do mistério. Ele é a emoção fundamental que se acha no berço da verdadeira arte e da verdadeira ciência. Quem não sabe disso e já não consegue surpreender-se, já não sabe maravilhar-se, está praticamente morto e tem os olhos embotados. Foi a experiência do mistério – ainda que mesclada com a do medo – que gerou a religião. Saber da existência de algo em que não podemos penetra, perceber uma razão mais profunda e a mais radiante beleza, que só nos são acessíveis à mente em suas formas mais primitivas, esse saber e essa emoção constituem a verdadeira religiosidade; nesse sentido, e apenas nele, sou um homem profundamente religioso. Não consigo conceber um Deus que premie e castigue suas criaturas, ou que tenha uma vontade semelhante à que experimentamos em nós”.
QUANDO ESCREVEU O ENSAIO RELIGIÃO E CIÊNCIA para a New York Times Magazine, em 1930, Einstein elaborou a idéia de três estágios do desenvolvimento da religião. O primeiro estágio, ele chamou de “religião do medo”. Pensando em quais teriam sido as necessidades e os sentimentos que levaram ao pensamento e à fé religiosa, entendeu que, para o homem primitivo foi, antes de tudo, o medo, seja da fome, dos animais, das doenças ou da morte. A mente humana, disse, criou seres imaginários de cuja vontade dependiam a vida ou a morte do indivíduo e da sociedade. E, para aplacar esses seres, os humanos lhes ofereciam súplicas e sacrifícios, formas primitivas de oração e rituais religiosos.
Ele não aceitava a idéia da religião se originando pela revelação, segundo a qual Deus dá a conhecer Sua realidade aos homens; isso exclui a aparição a Moisés e acontecimentos como o nascimento, vida e morte de Jesus Cristo, ou ainda as palavras de um anjo, como diz o Alcorão. Jammer diz ainda que a idéia da religião surgindo do medo não é de Einstein, ainda que provavelmente ele não tenha lido os autores que falaram disso antes dele.
O segundo estágio, ele escreveu, foi a “concepção social ou moral de Deus”, decorrente do “desejo de orientação, amor e apoio”. É o Deus que premia e castiga, ao qual ele já havia se referido anteriormente. Einstein via no Antigo e no Novo Testamentos uma ilustração admirável dessa transição de uma religião do medo para a religião da moral, ainda ligada a uma concepção antropomórfica de Deus.
O terceiro estágio Einstein chamou de “sentimento religioso cósmico” e, segundo explicou, é um conceito muito difícil de elucidar para as pessoas que não têm esse sentimento, uma vez que ele não comporta qualquer concepção antropomórfica de Deus. Ele disse que “os gênios religiosos de todas as épocas distinguiram-se por esse tipo de sentimento religioso, que não conhece nenhum dogma e nenhum Deus concebido à imagem do homem; não pode haver uma Igreja cujos ensinamentos centrais se baseiem nele. Assim, é entre os hereges de todas as eras que vamos encontrar homens que estiveram repletos desse tipo mais elevado de sentimento religioso, e que, em muito casos, forma encarados por seus contemporâneos ora como ateus, ora como santos. Vistos por esse prisma, homens como Demócrito, Francisco de Assis e Espinosa assemelham-se muito”.
APESAR DE TANTAS DEMONSTRAÇÕES DE QUE NÃO ERA ATEU, mas que via a religiosidade de uma forma particular, até recentemente Einstein era citado como um ateu. Numa conversa como príncipe Hubertus de Löwenstein, disse que o que realmente o aborrecia era que as pessoas que não acreditam em Deus viviam citando-o para corroborar suas idéias. Jammer cita um livro popular sobre a vida do cientista, publicado em 1998, em que surge a frase “ele (Einstein) foi ateu a vida inteira”, apesar de uma citação de Einstein no mesmo livro contradizer essa afirmação: “O Divino se revela no mundo físico”.
O maior problema parece ser mesmo a dificuldade das demais religiões em aceitar uma religião na qual as instituições e os dogmas perdem os sentido. Elas não aceitam essa situação, como não podem aceitar um homem que diz que “se você ora a Deus e Lhe pede algum beneficio, não é um homem religioso”.
Einstein não desrespeitava as religiões estabelecidas, mas apenas não concordava com elas. Jammer diz que ele venerava os fundadores das grandes religiões, e isso pode ser visto numa mensagem que enviou à Conferencia Nacional de Cristãos e Judeus, em 1947. “Se os fieis das religiões atuais”, escreveu Einstein, “tentassem sinceramente pensar e agir segundo o espírito dos fundadores dessas religiões, não existiria nenhuma hostilidade de base religiosa entre os seguidores dos diferentes credos. Até os conflitos no âmbito da religião seriam denunciados como insignificantes”.
Hoje em dia, muitos religiosos dizem exatamente isso, tendo em vista a situação explosiva em que p mundo se encontra, em grande parte devido a conflitos religiosos. Na religião de Einstein, os conflitos seriam impossíveis de existir.
(Extraído da revista Sexto Sentido 52, páginas 24-30)
Buscar no Site
Parte superior do
formulário
Pesquisa
Parte inferior do
formulário
IPPB – Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas
Rua Gomes Nogueira, 168 – Ipiranga – São Paulo – SP – CEP: 04265-010.
Telefones: (11) 2063-5381 ou (11) 2915-7351 das 12h às 18h (de 2ª à 6ª feira).
Informações sobre cursos e palestras: eippb@uol.com.br
Rua Gomes Nogueira, 168 – Ipiranga – São Paulo – SP – CEP: 04265-010.
Telefones: (11) 2063-5381 ou (11) 2915-7351 das 12h às 18h (de 2ª à 6ª feira).
Informações sobre cursos e palestras: eippb@uol.com.br
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
EUZÉBIO E EU!
Sim, por mais estranho que possa parecer, eu tenho uma história pessoal com Euzébio, que acaba de falecer aos 71. Logo que meu avô (Antonio André Victorão) chegou a Belém, na passagem do Século XIX para o XX, encantou-se com as cores do Remo pois detestou as do Paysandu que lhe lembravam seu arqui-inimigo, o Futebol Clube do Porto, pois era torcedor fanático do Sporting. Atleta e remador do Remo (poderia até ter cantado o glorioso hino: Atletas azulinos somos nós.....) e sendo destacado membro da colônia portuguêsa, logo foi chamado para fundar a Tuna Luso Caixeiral (mais tarde Tuna Luso Comercial e, finalmente, Tuna Luso Brasileira), sendo um dos 50 sócios fundadores e doadores de, cada um, 5 contos de reis para a compra do imenso terreno no Souza. Tudo registrado. Em 1958 a Tuna havia sido campeã enfiando 4 x 0 no meu sofrido Papão, penso que invicta, pois possuía um dos melhores times do norte-nordeste onde pontuavam o goleiro Dodó, o meio-de-campo: Satiro, Acapú e Muniz e um ataque arrasador onde flanavam Leoni, Teixeirinha, Estanislau, China e Juvenil. Uma máquina de jogar bola. O Esrtádio da Tuna, então, era maior que a Curuzu e o Evandro Almeida juntos e os empreendedores portugêses, para coroar com chave de ouro aquele ano mágico, construíram quatro moderníssimas torres de iluminação e importaram dezenas de refletores de luz fria algo, pelos anos 50, impensável por aqui. Para comemorarem a inauguração da iluminação mandaram buscar, nada mais nada menos, que o poderoso Sport Clube Lisboa e Benfica, tricampeão português e que tinha a base do time que se sagraria campeão europeu em 1962 e terceiro lugar na Copa do Mundo de 1966, obviamente roubado pelas arbitragens que já tinham escolhido a Inglaterra para ser campeão na frente da Rainha. Numa quarta-feira à noite KK (como chamávamos meu avô) chegou com cinco convites para usarmos CADEIRAS DE PISTAS, que eram cadeiras comuns colocadas na beira do campo, entre o alambrado e a linha de lateral. Nada mais havia de chique do que ver o jogo oficialmente dentro do campo. O jogo foi no fim de julho e não choveu. Eu tinha 10 anos, meu irmão 13 e fomos abismados assistir algo impensável, mesmo porque o Brasil acabara de ser campeão mundial na Suécia. O Benfica era uma máquina onde despontavam o histórico goleiro Costa Pereira, Coluna e Mateus, no meio, e na frente já jogava o ponta-esquerda Simões. Os times vieram beirando o gramado e ficaram bem perto de nós. Eu babava. Mas aí, passam os reservas em direção ao banco. Passam jovens como José Augusto, Torres (imenso), Hilário, Vicente, Morais (todos seriam nossos carrascos em 1966). De repente KK vira-se para o papai e diz: Alair, visses esse crioulinho de cambitos (pernas finas), baixo e muito forte que pasou em meio aos reservas? Ele chama Euzébio, só tem 16 anos mas se fala que será o Pelé da Europa. Dizem maravilhas dele. Vi aquele mulato bem baixo e bem forte, andando devagar, mãos coladas ao peito como se sentisse um frio inexistente, conversando com os colegas. O jogo foi duríssimo (2 x 2) e Oto Glória (técnico brasileiro do Benfica) não quiz arriscar pondo o pretinho em campo. Aquela seria a última chance que tive na vida de ver jogar, tão perto de mim, essa glória do futebol e de Portugal, mesmo sendo moçambicano. Monstro sagrado comparável a Pelé, Maradona, Di Stefano, Tostão e Messi! Adeus!
ALGO SOBRE A VERDADE!
Geralmente busca-se a verdade em nossa vida. Penso que é uma busca inútil pois poucas verdades serão absolutas. Tento explicar! Emitimos juízos de fato sobre o que percebemos pelos nossos cinco sentidos físicos e então pensamos: não há como tergiversar sobre isso! Há sim! O som alto ou baixo, apesar de factual é, na verdade, valorativo pois depende da acuidade de cada ouvido. Parece que a cor cinza, ou o preto ou o branco são unanimidades, contudo, há vários tons de cinza; o branco pode ser gelo, pálido, neve e outros tons e até o preto, a negação da cor ou a reunião de todas elas, também admite nuanças. Desnecessário juntar mais exemplos. Os outros juízos que emitimos são valorativos e dependem de escolhas pessoais. Nesse campo dificilmente encontraremos unanimidades pois o feio bonito me parece. Existe uma área, um pouco nebulosa, sobre o sentido da verdade e que consiste na produção do conhecimento em seus vários aspectos: religioso, ideológico, científico e filosófico. Aí mesmo as verdades são falíveis. Para um religioso cristão a verdade está contida na Bíblia, concebida como a Palavra de Deus. Jesus Cristo, Filho de Deus, afirma categórico "eu sou o caminho, A VERDADE e a vida" e completa, conhecereis A VERDADE e ela vos libertará. Mas que verdade? Para o Muçulmano a verdade será o que está escrito no Alcorão, palavra de Alá, transmitida a seu único profeta Maomé (Mohamed); para o judaísmo a verdade está explícita no Torah e nas menagens proféticas, assim por diante. O conhecimento filosófico é o reino máximo da racionalidade e cada filósofo, desde os jainistas, sofistas, idealistas e realistas, reivindica a única verdade para suas filosofias. Nas ideologias esse problema do relativismo da verdade assume contornos bem nítidos já que cada uma delas não admitide refutação e tudo o que se diz ou faz, em nome de tal ideologia, quando não é seguido ou respeitado por todos, assume foros de mentira vantajosa, cabotinismo ou demagogia. Estamos passando por um obscuro tempo de patrulhamento sobre toda a forma de pensamento e ação no sentido contrário à ideologia que se quer impor no Brasil e sabemos o que acontece com os desviantes. Parece claro que vamos encontrar, na ciência, um porto seguro para nossa verdade. Ledo engano! O conhecimento científico é o único refutável e que só evolui não pelas adesões mas pelas negações das teorias vigentes e apresentação de novas. Até as chamadas lei científicas, axiomas ensinados como eternos, imutáveis e universais, não são isso. Desde a mais tenra idade aprendemos que a "água ferve a 100º C", contudo essa verdade é relativizada pelo que a própria ciência criou, tomando-a de empréstimo à filosofia, e que se chama LICENÇA EPISTEMOLÓGICA. O direito de criar posturas que expliquem e justifiquem a lei. Aquela velha conhecida só é lei quando são reproduzidas as "condições normais de temperatura e pressão", que só foram conseguidas em laboratório. Na natureza elas se modificam conforme a altura na qual se situa o experimentador. No topo de uma montanha, certamente a 85 a 90º C se dará a ebulição enquanto na base de um profundo vale ou depressão, isso ocorrerá somente entre 115 e 120º C. Logo, nossa tão querida e ansiada verdade é uma quimera apenas alcançável em minúsculos lapsos de tempo. Um valor que se apresenta a cada um a quem mostra sua face. Para toda a humanidade e o tempo todo, creio que a verdade absoluta não existe. E você, que sempre se achou dono dela, pode ser que esteja certo, mas em seu pequeno mundo. E que venham as refutações. Simples assim!
domingo, 5 de janeiro de 2014
SE O BRASIL FOSSE A CORÉIA DO SUL!
A Coréia do Sul foi um país criado, em 1945, de uma briga entre irmãos. Natureza inóspita, pouquíssimos recursos naturais, bacia hidrográfica pobre, muito pouca água potável, clima duro, montanhas escarpadas. Se compararmos esse país com o Brasil ,na ápoca chegava a parecer piada, num exercício simples de futurologia, apostar nela contra o Brasil todas as fichas na virada do século XX para o XXI, exatos 45 anos depois. Um nada em tempo histórico. No entanto a Coréia do Sul é a 13a. economia do mundo, SEM MAQUIAGENS e enquanto o Brasil de hoje está mortificado por perder pontos em uma agência de risco de investimentos a Coréia do Sul continua batendo recordes sobre recordes em sua situação de país que gerou a maior revolução na educação no mundo inteiro e cada vez mais se aproxima de um país de primeiro mundo, sem pobreza e miséria, numa posição de quase vanguarda nas pesquisas sobre as últimas tecnologias e descobertas científicas. Continuamos sendoum país portentosamente mais rico mas patinamos nesses 45 anos enquanto a Coréia do Sul, bom quanto a ele, melhor dirão as estatísticas internacionais da ONU, FMI e OCDE. Pincei, num excelente artigo, o que vai escrito em seguida. Não é leitura melhor para um domingo pois pode aumentar sua tendência a sentir náuseas. O artigo é de novembro de 2011 mas o câmbio é corrigido para hoje!
O salto sul-coreano de um país agrário para
líder em pesquisa e tecnologia atende pelo nome educação.
O foco veio da necessidade das indústrias na formação de recursos humanos e na valorização do professor. Em 20 anos, o salário saltou de US$ 200 (R$-420,00)) para US$ 5 mil (R$-12.000,00) ao mês, ao câmbio de 05 de janeiro de 2014. O cearense Soleiman Dias trabalha há 11 anos como professor em Seul e destaca que há, neste momento, uma nova transformação:
- Hoje, o foco é formar um aluno mais criativo.
O ensino fundamental tem nove anos. Nos seis primeiros, é obrigatório. Para universalizar a educação de qualidade, os conteúdos chegam a todos os cantos do país por uma rede de TV.
A avaliação de professores é uma realidade nas escolas coreanas.
São turmas pequenas, de no máximo 35 alunos, constantemente subdivididas para aulas de diferentes disciplinas. Uma das fixações, o ensino da língua inglesa, ocupa sete horas semanais e é feito em turmas com 10 alunos. São 16 professores de países onde o inglês é a língua principal.
Estudar é uma disputa. Um dos pontos da cultura do país é ser o primeiro e estar sempre entre os melhores. Além do inglês, os estudantes tem duas horas de Educação Musical por semana. As salas são equipadas com pianos.
A competição, saudada por alguns, é vista por outros como pressão sobre as crianças. ]
As escolas garantem que o ensino se baseia em fazer com que os alunos tenham suas próprias opiniões e as expressem. Uma das metas é formar líderes. Esta é também a filosofia que impulsionou o país...
A educação, como se pode ver, sempre vai fazer toda a diferença.
VEJA COMO A RECEITA É SIMPLES! Claro que sem corrupção!
1. Concentrar
os recursos públicos no ensino fundamental – e não na universidade – enquanto a
qualidade nesse nível for sofrível
2. Premiar
os melhores alunos com bolsas e aulas extras para que desenvolvam seu talento
3. Racionalizar
os recursos para dar melhores salários aos professores
4. Investir
em pólos universitários voltados para a área tecnológica
5. Atrair
o dinheiro das empresas para a universidade, produzindo pesquisa afinada com as
demandas do mercado
6. Estudar
mais. Os brasileiros dedicam cinco horas por dia aos estudos, menos da metade
do tempo dos coreanos
7. Incentivar
os pais a se tornarem assíduos participantes nos estudos dos filhos
Fontes: Valor Econômico, Uniemp e Educarparacrescer.
Assinar:
Postagens (Atom)