segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

EUZÉBIO E EU!

Sim, por mais estranho que possa parecer, eu tenho uma história pessoal com Euzébio, que acaba de falecer aos 71. Logo que meu avô (Antonio André Victorão) chegou a Belém, na passagem do Século XIX para o XX, encantou-se com as cores do Remo pois detestou as do Paysandu que lhe lembravam seu arqui-inimigo, o Futebol Clube do Porto, pois era torcedor fanático do Sporting. Atleta e remador do Remo (poderia até ter cantado o glorioso hino: Atletas azulinos somos nós.....) e sendo destacado membro da colônia portuguêsa, logo foi chamado para fundar a Tuna Luso Caixeiral (mais tarde Tuna Luso Comercial e, finalmente, Tuna Luso Brasileira), sendo um dos 50 sócios fundadores e doadores de, cada um, 5 contos de reis para a compra do imenso terreno no Souza. Tudo registrado. Em 1958 a Tuna havia sido campeã enfiando 4 x 0 no meu sofrido Papão, penso que invicta, pois possuía um dos melhores times do norte-nordeste onde pontuavam o goleiro Dodó, o meio-de-campo: Satiro, Acapú e Muniz e um ataque arrasador onde flanavam Leoni, Teixeirinha, Estanislau, China e Juvenil. Uma máquina de jogar bola. O Esrtádio da Tuna, então, era maior que a Curuzu e o Evandro Almeida juntos e os empreendedores portugêses, para coroar com chave de ouro aquele ano mágico, construíram quatro moderníssimas torres de iluminação e importaram dezenas de refletores de luz fria algo, pelos anos 50, impensável por aqui. Para comemorarem a inauguração da iluminação mandaram buscar, nada mais nada menos, que o poderoso Sport Clube Lisboa e Benfica, tricampeão português e que tinha a base do time que se sagraria campeão europeu em 1962 e  terceiro lugar na Copa do Mundo de 1966, obviamente roubado pelas arbitragens que já tinham escolhido a Inglaterra para ser campeão na frente da Rainha. Numa quarta-feira à noite KK (como chamávamos meu avô) chegou com cinco convites para usarmos CADEIRAS DE PISTAS, que eram cadeiras comuns colocadas na beira do campo, entre o alambrado e a linha de lateral. Nada mais havia de chique do que ver o jogo oficialmente dentro do campo. O jogo foi no fim de julho e não choveu. Eu tinha 10 anos, meu irmão 13 e fomos abismados assistir algo impensável, mesmo porque o Brasil acabara de ser campeão mundial na Suécia.  O Benfica era uma máquina onde despontavam o histórico goleiro Costa Pereira, Coluna e Mateus, no meio, e na frente já jogava o ponta-esquerda Simões. Os times vieram beirando o gramado e ficaram bem perto de nós. Eu babava. Mas aí, passam os reservas em direção ao banco. Passam jovens como José Augusto, Torres (imenso), Hilário, Vicente, Morais (todos seriam nossos carrascos em 1966). De repente KK vira-se para o papai e diz: Alair,  visses esse crioulinho de cambitos (pernas finas), baixo e muito forte que pasou em meio aos reservas? Ele chama Euzébio, só tem 16 anos mas se fala que será o Pelé da Europa. Dizem maravilhas dele. Vi aquele mulato bem baixo e bem forte, andando devagar, mãos coladas ao peito como se sentisse um frio inexistente, conversando com os colegas. O jogo foi duríssimo (2 x 2) e Oto Glória (técnico brasileiro do Benfica) não quiz arriscar pondo o pretinho em campo. Aquela seria a última chance que tive na vida de ver jogar, tão perto de mim, essa glória do futebol e de Portugal, mesmo sendo moçambicano. Monstro sagrado comparável a Pelé, Maradona, Di Stefano, Tostão e Messi! Adeus!

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