sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A ORGANIZAÇÃO DO FUTURO!

           Não existe assunto que mais excite a mente dos estudiosos em Administração e em Teoria Organizacional do que tentar descobrir para onde se encaminharão as teorizações sobre o papel e as estruturas organizacionais no novo milênio. Abstraindo os trabalhos meramente ideológicos e modistas, que visam conceber receitas infalíveis e engordar a conta bancária dos chamados gurus da administração, constata-se muita perplexidade entre estudiosos e pesquisadores sérios sobre os destinos desses agrupamentos humanos nos próximos anos.

Parece haver dicotomias fundamentais que dificultam a compreensão do tema. De um lado a questão da racionalidade necessária à produção em massa dos bens  e serviços que trazem felicidade e conforto à sociedade, pugnando com a despersonalização daqueles que os produzem e ofertam, num ambiente onde o prazer na realização do trabalho é relegado a um plano secundário. Parece que   compatibilizar esses valores é um problema ainda insolúvel nos dias atuais.

Também a questão de como gerenciar a criatividade e a inventividade no    interior das organizações ainda patina entre posições contrárias, ambas amparadas em teorias e pesquisas com resultados paradoxais, mas nem por isso menos científicos. Pinchot III afirma que a submissão dos escravos dos Faraós foi      suficiente para construir as monumentais pirâmides do Platô de Gizeh. Robert Johnson, fundador da Johnson & Johnson – uma empresa atuante no mercado há muitos anos, o que comprova sua efetividade – por seu turno anunciou que nada mais atiça a criatividade humana do que saber que se vai ser enforcado logo ao amanhecer.

Uma interpretação simplista dessas contradições aponta para o binômio  liberdade comportamental e flexibilidade estrutural, de um lado, versus planejamento e controle (leia-se: burocracia) do outro. Em suma, até que ponto o indivíduo organizacional deve trabalhar em uma estrutura horizontalizada e flexível, com as comunicações fluindo em todas as direções e sentidos na organização, tomando parte ativa no processo decisório e livre para manifestar sua criatividade pessoal em prol dela ou deve se restringir à perseguição obsessiva dos objetivos organizacionais, cumprindo regras formalizadas e eficientes que dirigem seu papel e suas funções? A resposta a essa pergunta ainda não foi pacificada pela teoria e pesquisas.

Há exemplos de sucessos e disfunções para ambos os lados. Um gerente de um banco nos EUA deixava os clientes do lado de fora da agência, tiritando de frio em um inverno rigoroso, tendo à mão um cronômetro para abrir as portas somente na exata hora constante nos Manuais. Uma cliente desse mesmo banco teve seu cartão de saque engolido pelo caixa eletrônico, no exato momento em que deveria se dirigir ao aeroporto de La Guardia (em Nova Iorque) para empreender uma importante viagem de negócios. Telefonou ao banco e um simples funcionário providenciou os 200 dólares de que ela precisava, pagando o taxi de seu bolso e resolvendo depois o problema do saque.

Na produção do Windows NT, Gates permitiu que os cientistas da computação trabalhassem livremente na crença de que não poderia intervir no processo criativo de suas mentes privilegiadas. Quase um ano depois e 150 milhões de dólares já queimados na empreitada, contratou David Cutler, seu amigo pessoal e um burocrata convicto, para gerenciar o projeto. Cutler introduziu uma técnica de trabalho que ele chamou de comer sua própria comida de cachorro, e que consistia em determinar que partes novas do programa só poderiam ser escritas usando as partes que já haviam sido escritas até então, i. e., era como se, de repente, a única forma de as pessoas poderem escrever novos capítulos de uma novela fosse recortando e colando palavras de capítulos anteriores já escritos. Em dois meses o Windows NT estava no mercado!

A história do Projeto Manhattan – criação da bomba atômica americana – tende a ser uma repetição do caso acima. Enquanto o projeto foi gerenciado por     Oppenheimer – o maior físico nuclear do mundo, à época – meses se passaram             e bilhões de dólares gastos sem nenhum resultado concreto. Só quando Truman colocou à frente do empreendimento um o Gen. Groves, seu amigo e veterano da     primeira guerra mundial, excelente comandante de tropa, a bomba foi construída     através da aplicação de rígido planejamento operacional, com prazos fatais a serem  cumpridos.

Existe uma terceira via defendendo a tese de que não seria a imposição de    planejamentos e controle inflexíveis que moveria a criatividade desses cientistas mas a resposta positiva ao desafio, fenômeno que motivaria seres humanos a irem além das fronteiras do imaginável.

Em qualquer dessas alternativas, há histórias de sucessos e fracassos. Talvez a única conclusão plausível seja a de que não há conclusões plausíveis. Com efeito, essas situações ocorreram e ocorrem em um paradigma em mutação   constante e o problema, na verdade não se situa no microcosmo de uma análise   realizada sob padrões que de tão conhecidos já se encontram desgastados e      impedem ao analista uma visualização macrocósmica do futuro.

Pode-se estar discutindo um assunto usando ferramentas inadequadas e,       pela leitura acostumada do paradigma vigente, apontando soluções que somente      se materializarão em um novo paradigma, difícil de divisar por sua invisibilidade        e proximidade.

Em última análise, uma verdade tende a se destacar: é papel preponderante dos Administradores pesquisar prospectivamente esse futuro incerto e fornecer as pistas para uma solução conciliatória: ser racional e feliz, atendendo aos reclamos da sociedade moderna sem perder de vista o trabalho como realização máxima do ser humano, ao mesmo tempo que se preserva a eficiência e a produtividade.
*Sérgio Barros é Professor do  ADM, Mestre em Administração pela UnB e orientador de diversos trabalhos da AD&M Consultoria Jr.



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