Em 05 de dezembro de 2000, dois alunos meus se casaram e eram muito participativos e queridos e me mandaram um convite personalizado. Em resposta fiz a carta abaixo que guardei e comaprtilho com o Face mais de 12 anos depoisÇ
Sérgio e Flávia:
Na vida de um professor, quando
este encara a profissão como um sacerdócio, alguns eventos tornam-se muito
marcantes. Nenhum deles o é tanto quanto a lembrança dos alunos excepcionais,
aqueles que ultrapassam a geografia da sala de aula e se instalam na história
da vida do pretenso mestre.
Vocês se tornaram, em um momento
particularmente difícil de minha vida, em marcantes exemplos desse evento,
dando-me apoio e carinho além dos papéis normalmente exercidos por um aluno
comum. Nunca a relação é de amizade, pois o mundo é grande e todos partem para
suas missões. Mas a remuneração permanece, marcando as fronteiras de um pedaço
de meu coração loteado que passa a lhes pertencer, por lídimo direito de
conquista.
Agora, quando ambos iniciam uma
etapa tão maravilhosa quanto difícil, que é a vida em comum, cuja realização
máxima é a formação de uma nova família, pouco tenho a lhes dar em troca do
muito que recebi dos dois. Experiências não se transferem. Conselhos são mais
válidos para quem os dá do que para os que os recebem. Cada ser é um indivíduo, inigualável, inimitável,
divisível por si próprio e pela unidade, como os números primos.
Resta então a esperança de que
compreendam os componentes insondáveis e personalíssimos de um casamento, cultuando,
acima de tudo, a mútua renúncia e o sentimento da igualdade; o apoio de um ao
outro, pois a vida é um projeto complexo e complicado na individualidade quanto
mais na dualidade.
O amor é argamassa de tudo, mas
não é o bastante. Amizade e respeito devem ser cultuados até o ponto em que
surja a dependência entre vocês. Ai aparece no horizonte a visão de um futuro
distante, de mãos dadas, envelhecendo gloriosamente juntos.
A felicidade não existe como um
fato perene, mas é viável moldá-la a uma condição possível de momentos mais felizes do que infelizes. A paz surge no
arrefecimento da paixão e a liberdade transforma-se em um sentimento
compartilhado, não mais individual.
Só podemos dar o que possuímos.
Feliz ou infelizmente este é o melhor presente de casamento que lhes posso
entregar.
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