sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Carta a um casal de alunos!

Em 05 de dezembro de 2000, dois alunos meus se casaram e eram muito participativos e queridos e me mandaram um convite personalizado. Em resposta fiz a carta abaixo que guardei e comaprtilho com o Face mais de 12 anos depoisÇ

Sérgio e Flávia:

Na vida de um professor, quando este encara a profissão como um sacerdócio, alguns eventos tornam-se muito marcantes. Nenhum deles o é tanto quanto a lembrança dos alunos excepcionais, aqueles que ultrapassam a geografia da sala de aula e se instalam na história da vida do pretenso mestre.

Vocês se tornaram, em um momento particularmente difícil de minha vida, em marcantes exemplos desse evento, dando-me apoio e carinho além dos papéis normalmente exercidos por um aluno comum. Nunca a relação é de amizade, pois o mundo é grande e todos partem para suas missões. Mas a remuneração permanece, marcando as fronteiras de um pedaço de meu coração loteado que passa a lhes pertencer, por lídimo direito de conquista.

Agora, quando ambos iniciam uma etapa tão maravilhosa quanto difícil, que é a vida em comum, cuja realização máxima é a formação de uma nova família, pouco tenho a lhes dar em troca do muito que recebi dos dois. Experiências não se transferem. Conselhos são mais válidos para quem os dá do que para os que os recebem. Cada ser é um indivíduo, inigualável, inimitável, divisível por si próprio e pela unidade, como os números primos.

Resta então a esperança de que compreendam os componentes insondáveis e personalíssimos de um casamento, cultuando, acima de tudo, a mútua renúncia e o sentimento da igualdade; o apoio de um ao outro, pois a vida é um projeto complexo e complicado na individualidade quanto mais na dualidade.

O amor é argamassa de tudo, mas não é o bastante. Amizade e respeito devem ser cultuados até o ponto em que surja a dependência entre vocês. Ai aparece no horizonte a visão de um futuro distante, de mãos dadas, envelhecendo gloriosamente juntos.

A felicidade não existe como um fato perene, mas é viável moldá-la a uma condição possível de momentos mais felizes do que infelizes. A paz surge no arrefecimento da paixão e a liberdade transforma-se em um sentimento compartilhado, não mais individual.

Só podemos dar o que possuímos. Feliz ou infelizmente este é o melhor presente de casamento que lhes posso entregar.



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