Quando voltei para o Pará, com
ânimo de ficar, claro que aqui cheguei com os gostos e os cheiros de minha
infância. Não vim para conhecer nada mas para RECONHECÊ-LAS e REVÊ-LAS. Ledo
engano! Na primeira oportunidade procurei os tabuleiros de pupunha (coisa que
minha ex-mulher conceituou como a pamonha da natureza). Encontrei umas bolas de
gude, pequenininhas. E não eram “filhos” como chamávamos as pequenas e sem
caroço. Aquelas “tebas”, enormes, agora só moram em minha lembrança. As
palmeiras de pupunhas nativas acabaram pois descobriram que seu heart of palm, mais conhecido por
palmito era o melhor do mundo e a devastação foi enorme. O fruto virou um descarte rápido para não
atrapalhar a produção do principal. Pupunha virou acessório. Na primeira,
oportunidade que tive, corri para a Feira da Batista Campos buscando
encontrar-me perambulando por lá, nas noites de sexta, pois era o comprador
oficial de farinhas (d’água e seca) da casa. Sempre tive um faro para prova-las
e fazia aquele montinho que voava pelo espaço e entrava em minha boca aberta
sem perder um bago no chão. Cadê os uxis, os umarís e os tucumãs, esses que a
gente comia com aquele mel amarelo descendo garganta abaixo e manchando a
camisa. Gerava uma surra de minha mãe mas valia à pena. Ingás desaparecerem e o
prazer de ficar roendo aquela coisa com gosto de água sólida foi-se com eles. Quando
fui a Salinas logo tentei descer no precipício na frente do Hotel velho, de Da.
Pepa, a espanhola. Estava babado por me esgueirar até o goiabal nativo e roer
goiaba até passar três das com prisão de ventre. Nenhum pé de goiaba. Mas
espichei a vista até onde pude pra ver as dunas onde colhíamos ajurus até o
anoitecer. Nem dunas nem ajuruzeiros. Mas ainda tinha esperança no mercado do
Ver-O-Peso. L[a eu tinha certeza que me encontraria de novo. Mas quando? Nenhum
abiu pra contar história, nem uma ginja azedinha. Os fartos jambeiros veludo
ainda se consegue no câmbio negro. Pô nem as carambolas do Museu Emílio Goeldi,
festa para as cotias soltas no meio do povo. Mas não perdi a esperança, afinal
ainda não tinha desbravado os bacuris, os cupuaçus e os biribás, né? As atas
(pinhas, frutas-do-conde) enormes e doces como mel, nem no fim do ano que é o
tempo. Ainda restam algumas mangueiras bicentenárias e anda heroicamente
parindo, pois viraram patrimônio histórico tombado. Mas nenhum menino de
baladeira (atiradeira, estilingue) derrubando as mais altas e suculentas. Agora é
mais fácil comprar mangas Tommy no supermercado. Os pregões desapareceram:
camareeeeeeeeeeeeuuuuu (praqueles camarãozinhos de rio, cinzentos e que ficavam
róseos depois do fogo), peixe, peixeeeeeeeiro (não, não existe mais o vendedor
de rua, de enormes camorins, pescadas amarelas, pratiqueiras, piramutabas, gós,
filhotes, tainhas ovadas..... E os caranguejeiros? Com aqueles cofos enormes tudo
vivinho, fugindo pela boca. Aí eles perguntavam pra minha mãe vivo ou morto freguesa?
Claro que vivo, meu filho Luiz Sérgio lava no tanque como ninguém. Eu era
escalado pressas aventuras e adorava. Colocava tudo no tanque e com a
vassourinha de piaçava ia pegando um por um, dobrando as patas do lado da
patola que aí ele não te alcança com a menor. Tirava toda a lama e eles ficavam
azuis. Vermelhos depois do fogo. Os “mortos” eam pegos pelas pernas e patas e
davam uma meia quebrada e eles ficavam sem força. Mamãe não deixava, preferia mata-los
com vida plena. Quando chegou meu primeiro junho apurei o ouvido pra ver os
carrinhos e os gritos de : Cheiro cheiroso, pra tirar o catingoso! Ainda
persistem as ervas mas o pregão só eu lembro ainda. Ah, pra encerrar nossa
pimenta de cheiro nativa, ardia que amargava e cheirava a casa toda. Agora a
EMBRAPA pesquisou até c conseguir um exemplar que....... não mais arde nem
cheira. Parabéns. Só mais um detalhe, esse para baianos, cariocas, gaúchos,
goianos, pernambucanos, mineiros e quejandas: a única cozinha brasileira é a do
Pará, coisa de índio, não de africanos, porteños, portugueses, espanhóis e que
tais. Ainda consigo encontrar caruru e vatapá sem dendê. Tacacá e açaí.
Maniçoba, Pato no Tucupi, Caldeirada sem leite de coco só de água e todos os
temperos verdes, principalmente coentro e chicória, casquinho de caranguejo,
canjica e mungunzá; tapioca seca e molhada e caldo de cana. Meus cheiros e
gostos que se perdem. A, proósito, cadê a bacaba? Simples assim!
Nenhum comentário:
Postar um comentário