Ah os partidos políticos. Se a
eleição de ontem tivesse ocorrido na Inglaterra, Estados Unidos ou em outro
país europeu, eu teria certeza absoluta de como seriam governadas as
províncias, conforme a filiação partidária dos vitoriosos. Já aqui no Brasil, absolutamente
nenhum cientista político, por mais genial e sábio que seja, poderá fazer esse
prognóstico e isso é fácil de explicar. Parece enfadonho mas a História é a mãe
de tudo. Voltar sempre a ela, por mais incômodo que pareça, para desvendar
mistérios e descortinar verdades. Mais uma vez a primeira menção à expressão
partido (político por se referir à Polis grega ou a cidade que necessita de
poder para ser governada) é feita por Platão em sua República. Lá ele defende o Partido Único como expressão da
realização de uma ideia ligada ao bem comum. Como sempre, seu rebelde aluno
Aristóteles dele divergiu, defendendo o pluripartidarismo. Ele deixa isso claro
quando, na qualidade de preceptor (cargo de professor residente na casa do
aluno, exercido durante cerca de sete anos – de 342 a 336 a.C.), orienta seu
discípulo Alexandre (que seria O Grande ou Magno) a conquistar o mundo para uni-lo
na cultura Pan-helênica, mas sempre ouvindo os opositores e contrários, importantes
críticos para que seu governo trouxesse a felicidade para todos. A expressa
menção a partidos já na modernidade ocorre na Inglaterra do Século XVIII, ao
tempo da Primeira Revolução Industrial. Essa concepção jurídica, sociológica e,
mais que tudo, política, entende os partidos como sendo entes civis privados,
resultantes da união voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e
políticas, organizados e com disciplina (burocracia, portanto), visando a disputa
do poder político. A essas características, mais tarde, Weber adicionaria o
fato de partidos serem expressões políticas de alguma oligarquia econômica ou
tradicional. Na prática, os primeiros partidos ingleses foram organizados em
torno de ideias conservadoras (Tories)
e liberais (Whigs) aos quais se veio
juntar o Partido Trabalhista (Labours),
de orientação de centro-esquerda. Aliás, essas denominações surgiram na época
da Revolução Francesa (1789), com a queda da monarquia e criação da Assembleia
Nacional. Os Girondinos,
representantes da alta burguesia, sentavam-se à direita da tribuna presidencial
e defendiam ideais conservadores; já os Jacobinos
sentavam-se à esquerda e expressavam o ideário da baixa burguesia e das camadas
populares. O Partido Republicano (Coderliers)
ocupava a extrema esquerda do plenário, por ter ideais mais revolucionários.
Finalmente, o La Plaine congregava os
membros pendulários (como o PMDB de hoje) e que apoiavam os outros partidos
conforme seus interesses daí sentarem-se no centro do plenário. Da mesma forma,
os Republicanos da América defendem o extremado liberalismo de mercado e a
livre iniciativa levada ao paroxismo enquanto os Democratas idealizaram o Welfare State, defendendo a intervenção
governamental como auxiliar da iniciativa privada, nos setores onde não viceja
o lucro fácil ou os investimentos são de altíssima monta. No Brasil, na era
pós-Vargas, os ideais eram divididos em três grandes partidos: a UDN,
representante das elites cosmopolitas e rurais, de orientação de direita; o
PTB, como suporte do crescente trabalhismo e sindicalismo , de esquerda,
portanto e, finalmente, o PSD, partido de centro namorador da esquerda. Não
menciono os partidos extremistas (de direita ou esquerda), considerando o fato
de que nunca conseguiram expressiva participação no poder. Após o
bipartidarismo de fachada, criado à época da tirania militar, veio a abertura
política e proliferaram grandes e pequenos partidos, notadamente surgidos após
a Assembleia Nacional Constituinte que gerou a Carta de 1988. Parecia um
terreno afinal fértil para que os partidos representassem ideologias e não se
transformassem em meras siglas que abrigam interesses de setores da economia. O
surgimento do PSDB, como base para as ideias neoliberais e privatizantes tão em
voga àquela época, via Consenso de Washington; o “prosseguimento” do PMDB como
sigla que abrigara todos os ideais antiditadura; a confirmação da direita sob o
manto do Frentão, mais tarde PFL e hoje o anêmico DEM e, como esperança de um
novo amanhã, o PT histórico. Me parece ainda claro que o PTB de Vargas, cujo
herdeiro natural seria Brizolla, poderia despontar como divisor de águas no
papel de unir as esquerdas, historicamente sempre mais separadas por ódios dogmáticos
do que ojeriza que têm à direita que tanto combatia (basta ver as dissensões
entre PCB, PCdoB, Polop, MR-8, Val-Palmares e AP). Mas o golpe idealizado para
colocar Ivete Vargas no comando do Partido, para mim, inviabilizou a política
brasileira até a chegada de uma reforma político-partidária eficaz. Restou o
PT, cavaleiro de todas as esperanças, na verdade o ÚNICO partido político
brasileiro concebido com uma ideologia reconhecível e bem clara, regras bem
definidas, lideranças, ,manifesto e Estatutos, organização perfeita, apoio do
sindicalismo através da criação da CUT, milhões
de militantes, além de quadros nacionais capazes de assumir o poder pela via
democrática. Confesso que sonhei Lula, por anos, como a panaceia de todos os
nossos males. Mesmo com as batalhas engendradas pela Rede Globo para derrotar e
depois afastar Brizolla e Lula; mesmo com a criação de títeres como Collor e “neo-esquerdistas”
como Sarney; mesmo ainda com a traição dos ideais revolucionários por “revolucionários”
como FHC, Serra, Covas, Montoro e outros, ainda assim, quem estuda Ciência
Política tinha em Lula o mais próximo candidato a salvador da Pátria desde
Vargas. Seu discurso antitudo (Fora FHC! Abaixo a ditadura! Não à privataria!
Que venham as CPIs! Vamos mudar o Brasil! Por uma sociedade mais justa,
democrática, solidária, ética, sustentável e igualitária!) era mais gostoso que
creme de açaí. Quando Lula assumiu ao poder, todos os estudiosos sabiam o que
exatamente iria ser feito. Aí ele põe um representante da Banca Internacional
no comando do Banco Central, prossegue a política econômico-financeira tucana e
a coisa desandou. Confesso que jamais me senti tão traído em minha vida; tão
enganado, iludido, estupefato e com um enorme gosto e travo de idiota na boca.
Aí as “esquerdas” desmoronaram junto e se aprofundou a caracterização dos
partidos políticos brasileiros como defensores de oligarquias (banqueiros,
latifundiários, evangélicos, tecnocratas, Igreja, imprensa etc.) de um lado e,
do outro, os chamados movimentos sociais, as bilionárias ONGs e OCIPs, os
verdes, os da esquerda oportunista, além dos ortodoxos e fundamentalistas e,
por último mas não menos importante, os nanicos de aluguel que formam o baixo
clero do Congresso, justamente os maiores beneficiários de todos os mensalões
desde o Governo Collor. Na verdade não existe no mundo mente prodigiosa que
seja capaz de prever o que farão os eleitos de ontem, pois não existem nortes
para nos guiar. Todos seguirão a rota do oportunismo, sem qualquer respeito às
instituições partidárias. Se você, eventual leitor, pensa ser possível traçar
esses caminhos, certamente vai terminar sentado à beira do caminho, com a
bandeira do PSOL na mão, levando pedradas dos militantes do PSTU, sendo
enxovalhado pelos Bispos do PR e pelas camarilhas do PPS, PCdoB e PRTB, vendo
passarem as caravanas dos apaniguados do capital, como PSDB, DEM, PT, PTB, PDT,
PP malufiano, PV do Sarney Filho e os “socialistas” do PSB. Mais fácil seria
compor um novo “Samba do Crioulo Doido” (se é jovem, veja a letra no Google) e
tentar explica-lo para os pobres Yanomamis do diamante ou a turma de
pseudo-índios, neo-proprietários de Roraima, do Raposa Serra do Sol. Na linha
do Macaco Simão, no fundo, no fundo, eu devia é pingar meu colírio alucinógeno e
fundar um novo Partido, o PUTA (Partido Unificado dos Trabalhadores Associados).
Simples assim!
Nossa, eu nunca saberia de onde surgiram os termos "partidos de direita e de esquerda" se não lisse essas suas palavras, eheheheheheh!
ResponderExcluirPartidos políticos para mim perderam a "graça" quando o Partido da Reconstrução Nacional (lembra dele?) foi criado apenas para eleger o Collor. Tinha 14 anos e vi ali que os partidários de qualquer sigla JAMAIS iriam seguir um ideal conjunto, seria "o cada um por si" na sua melhor forma.
Mal sabia eu o que estava por vir...