terça-feira, 25 de março de 2014

UNA GIORNATA MOLTO PARTICOLARE!

Quem me conhece ou já leu escritos meus sobre o assunto, sabe que não dispenso qualquer simpatia pela cidade de São Paulo. Apesar de ser a Capital do Estado onde tenho inúmeros, e queridíssimos amigos como Cassio Seixas, José Biga Araripe, Da. Lucila Mori, Angélica Drska, João Mansur Jr. e muitos outros. Talvez por ter nascido quase dentro do Rio e considerando a eterna picuinha entre as cidades, não me situei bem em São Pulo, EXCETO EM DOIS DIAS muito especiais, perdidos no tempo, dos quais vou me ocupar ao longo deste artigo. Foram os dias 18 e 19 de novembro de 1971, um sábado e domingo chuvosos, friorentos e cinzentos. Tudo era melado pela insistente garoa. Desde quatro anos ia a São Paulo com meu pai. Como não temos parentes, ficávamos no então majestoso Hotel São Paulo, na Praça das Bandeiras e sua bonita vista para o Viaduto do Chá, no Vale do Anhangabaú. Casado há 11 meses e trabalhando na DODEPLAN onde era Assessor Técnico e Chefe de Gabinete, o Superintendente me indicou para participar da Semana de Direito Municipal, no Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal - CEPAM, da Secretaria do Interior do Governo do Estado de São Paulo, de 20 a 24 de novembro de 1971, oito horas por dia. Jamais voltaria a participar de um curso de tão alto nível, no assunto. Os maiores municipalistas, administrativistas e pensadores em Direito Público brasileiros desfilaram à minha frente Adilson e seu irmão Dalmo de Abreu Dallari, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, José Afonso da Silva, Geraldo Ataliba, José Cretella Junior, Celso Antônio Bandeira de Melo e outros. Qualquer advogado e estudante de Direito, no Brasil, saberá quem são esses monstros sagrados. Mas essa viagem é o que me interessa retratar. Almocei e descansei da viagem no próprio hotel que tinha um Maître que me conhecia. Cabelos Alves e anunciava pratos e vinhos em fluente francês. À tarde, fui passear no centro velho, desde a Líbero até o Largo do Paysandu. Passeei na Praça da República. Vi o programa dos inúmeros cinemas do local e fui ao Theatro Municipal ver o programa da manhã de domingo. Jantei no Dinho's Place do Largo do Arouche, um maravilhoso Baby Beef com carne argentina (picanha dei cedo e fui ao Muncipal para um programaço grátis com o concerto da Orquestra Jovem de São Paulo e bezerro natimorto, coisa de neandhertal que não faço mais há uns 40 anos). Levei o Estadão para meu quarto e, na parte dos esportes, vi que José Carlos Pacce (o Môco) e Mike Haylwood (campeão da motovelocidade que estreava na Fórmula 1) e que estavam na Surtees , iam fazer testes de pneus para a temporada de 1972, na tarde de domingo. Domingo acordei cedo e fui para o Municipal assistir o Concerto da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo executar, integralmente, a Sagração da Primavera, de Stravinsky. Não dá para esquecer a emoção. Peguei um ônibus que descia a 9 de julho, depois outra longa avenida, daí entrava na Av. Interlagos e me deixou no Autódromo. Não vou descrever o que é ouvir o som de um F1 a primeira vez, mas tremi nas bases ao ver Pacce, com chuva fina, entrar a mais de 300 na antiga Curva Um COM O PÉ EMBAIXO. Mike dava uma aliviada pois o motor gargarejava. Indicado por funcionário, passei debaixo de um viaduto e passei a tarde com Pacce, Mike, os mecânicos e John Surtees, grande corredor e agora dono da equipe. Quanta simpatia e falta de frescura. Já falava razoável e destemido inglês de Tarzan mas fiquei zapeando até suspenderem o treino. Como tinha almoçado um belo sanduba paulis, repeti a dose no jantar e fui direito ao Cine Paysandu, assistir ao primeiro filme da série Trinnity, com Terence Hill e Bud Spencer (dois nomes americanalhados de atores italianos). Na saída, sem qualquer medo ou violência, fui tomar uns  chopps no cruzamento da Ipiranga com a São João, acompanhado do melhor pastel do mundo. Voltei ao hotel já quase meia-noite, extasiado. Essa foi, disparado, a melhor viagem que fiz a SP, uma SP que não mais existe. Mike e Môco morreram pouco depois (em desastres de moto e de avião pequeno). O Hotel São Paulo faliu não muito tempo depois e virou prédio abandonado, logo ocupado por viciados e mendigos, em seus quase 20 andares. A Praça da República hoje é intrafegável. O Curso foi até sexta-feira, às 18h e retornei nesse dia 24, mesmo. Voltei em São Paulo em 1990 e já não conheci mais nada dessa que foi, uma jornada muito especial e inesquecível à pauliceia! Simples assim!

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